OEIRAS — Marco Trungelliti chegou às bocas do mundo em maio de 2018, quando um telefonema inesperado o fez alugar um carro e viajar de Barcelona até Paris em plena madrugada para entrar no quadro principal de Roland-Garros como lucky loser, mas foi quase um ano depois que atingiu o melhor ranking da carreira (112.º) e esteve perto da tão desejada estreia no top 100 ATP. No entanto, uma série de lesões fê-lo considerar o fim da carreira.
“Quando cheguei ao meu melhor ranking lesionei-me e não estava a conseguir recuperar a 100%. Foram golpes atrás de golpes e não estava preparado para isso. Não tinha forças para trabalhar e custou-me muito. Há cinco, seis meses pensei em desistir do ténis. Mas agora voltei e estou feliz por estar a competir. Voltei a desfrutar do que faço, mesmo quando perco. Nesta altura já não tenho de provar nada a ninguém, por isso resta-me controlar o que está ao meu alcance e se os resultados me acompanharem, melhor”, revelou, em conferência de imprensa, depois de afastar Gonçalo Oliveira na segunda ronda do Oeiras Open.
Novamente feliz e motivado, o simpático argentino tem como objetivo “estar perto do top 100”, mas avisa: “O top 100 é apenas um número. O grande objetivo é desfrutar e continuar sem lesões, ser inteligente a tomar decisões e não ir a torneios quando não estou em condições. Agora, se não estou preparado para competir não viajo. Nesta altura não quero jogar 28 mil torneios, preciso de fazer duas ou três semanas e voltar a casa, recuperar e voltar a treinar o físico antes de viajar outra vez. Até hoje não fazia isso e agora quero mudar, porque assim vai ser muito melhor.”
E porque a situação atual obriga a cuidados extra, o Oeiras Open foi visto como a oportunidade perfeita: “Hoje em dia é difícil controlar onde podes ir, que países te deixam entrar e com que restrições. A minha ideia é evitar ao máximo possível viajar, por isso haver dois torneios consecutivos na mesma cidade, no mesmo clube, é espetacular. Esta semana também havia um torneio na Croácia, mas depois há uma semana de pausa antes do próximo torneio seguinte, e neste momento não faz sentido ficar uma semana na Croácia se não houver competição. Para além disso, em Portugal come-se melhor, há café, há sol. Não tem comparação, prefiro Portugal.”
Na conferência de imprensa, Marco Trungelliti ainda abordou o momento atual do ténis argentino: “Hoje em dia está muito melhor. É bom termos jogadores mais jovens, porque isso demonstra que se pode chegar a finais ATP a jogar bom ténis”, começou por revelar, referindo-se à série de três semanas consecutivas em que compatriotas alcançaram pela primeira vez decisões ao mais alto nível (Juan Manuel Cerúndolo em Córdoba, o irmão Francisco Cerúndolo em Buenos Aires e Facundo Bagnis em Santiago). “É uma questão de trabalho e consistência. Na Argentina sempre nos faltaram recursos, mais do que a forma de ensinar ou ter bons jogadores. É por isso que não temos mais, os bons jogadores que aparecem é quase por milagre, porque temos poucos recursos. Na Argentina não temos torneios em piso rápido e isso não está certo, os miúdos saem para a Europa porque na Argentina não têm as ferramentas todas. E isso é triste.”
Sobre o encontro com Gonçalo Oliveira, o ex-número 112 mundial explicou que “a ideia era pô-lo a correr, porque é onde ele perde um pouco de qualidade”, e contou que recorreu a vídeos para estudar o tenista português, que não defrontava há três anos. “Aproveito sempre para ver vídeos porque quando há um grande intervalo de tempo entre encontros um jogador pode ter melhorado muito, por isso prefiro ver vídeos e estudar o que fez nos encontros diferentes. Os treinos são diferentes, podem ver-se algumas coisas, mas não correspondem à realidade.”