Sempre se disse que “mais vale prevenir do que remediar” e Wimbledon, um passo à frente dos seus pares, assim o fez. Preocupados com um surto no início do milénio, os responsáveis do All England Club preveniram-se do impensável (afinal, só por duas vezes o torneio tinha sido cancelado e sempre por causa de grandes guerras) e menos de 20 anos depois colheram os frutos de uma antecipação que pode ter salvo o ténis britânico de cair em ruínas.
Quando a Federação Francesa de Ténis (FFT) anunciou, de forma surpreendente e até chocante, o adiamento de Roland Garros sem consultar as restantes peças do tabuleiro, a decisão pareceu precipitada. Mas uma simples inversão de papéis permite perceber o desespero dos gauleses, que de um dia para o outro se viram entre a espada e a parede tendo em conta a importância financeira do torneio — o lucro de cerca de 260 milhões de euros anuais é fundamental para o bem-estar da FFT e, claro, do ténis francês.
A menos de 500 quilómetros de distância, o All England Club pôde dar-se ao luxo de não entrar em pânico. Tudo porque no ano de 2003 os responsáveis britânicos adicionaram ao seguro do torneio de Wimbledon — que é o único dos quatro Grand Slams a ter por trás um clube privado e não a federação do país — uma cláusula contra pandemias.
Na origem da decisão esteve o surto de SARS entre de 2002 e 2003. E claro que os britânicos tiveram de desembolsar uma quantia generosa ano após ano — o The Times escreve que terão sido cerca de 1,83 milhões de euros —, mas valeu a pena: ao estar um passo à frente dos restantes eventos, Wimbledon segurará um valor ligeiramente superior a 100 milhões de euros mesmo cancelando a edição de 2020, que dificilmente poderia ser adiada sobretudo por causa das características da relva (em agosto o tempo de luz natural já não é suficiente para a humidade levantar suficientemente cedo e a cada dia passaria a haver menos tempo para os jogos acontecerem, porque só os campos principais dispõem de iluminação artificial e mesmo lá só se pode jogar até às 23h).
O valor recuperado graças ao seguro não cobre os 260 milhões de euros de lucro estimado por cada edição, mas permite ao All England Club cobrir as despesas com o staff permanente, a manutenção da relva e do clube e até distribuir uma fatia pela Lawn Tennis Association (a federação nacional britânica), que anualmente recebe cerca de 40 milhões de euros do torneio.