Quando os elementos que gerem os circuitos profissionais decidiram alterar o formato do circuito em julho do ano passado, provavelmente não estariam à espera de uma reação tão negativa logo no primeiro mês do novo ITF World Tour. As críticas têm surgido de todas as direções, desde atletas a organizadores, e abrangem vários aspetos do novo circuito, desde o número de torneios até às vagas nas qualificações.
A partir de 2019, o número de jogadores presentes nas qualificações dos torneios ITF de 15 e 25 mil dólares diminuiu para apenas 24 jogadores, uma redução drástica se tivermos em conta que por exemplo os quadros de qualificação nos Estados Unidos eram formados por 128 jogadores, a maioria deles eram jovens que competiam nos fortíssimos circuitos universitários.
Estes mesmos jovens, que geralmente não tinham ranking ou estavam situados nos lugares mais baixos do ranking, estão agora impossibilitados de jogar os torneios do circuito profissional dado que não existem vagas para eles. Esta situação cria um novo problema no ténis dado que muitos jogadores consideram um wild card para o quadro de qualificação um autêntico luxo e muitos deles começam mesmo a oferecer dinheiro para serem contemplados com estes convites.
Pegando no exemplo do circuito masculino: esta semana existem cinco torneios e o jogador com o ranking mais baixo a entrar na qualificação foi Timor Maulenov em Antalya. O cazaque é o atual 1501 do ranking ITF e existem 3428 jogadores presentes no ranking, ou seja, sem contar com os vários jogadores que ainda não têm classificação internacional, quase 2000 jogadores com ranking ITF estão impedidos de jogar esta semana.
Os hóteis e o número de provas
Por outro lado, temos os hóteis que recebem dezenas de torneios ao longo do ano com o intuito de encher as unidades hoteleiras, casos de Heraklion (Grécia), Sharm el Sheikh (Egipto) ou Antalya (Turquia). Os quadros de qualificação destas provas em 2018 tinham 64 jogadores, agora têm 24.
Com quadros mais pequenos, menos dias de prova (os torneios passaram a começar apenas na segunda-feira) e consequentemente menos jogadores, estes torneios deixarão de ser vantajosos para estas nações e para os hotéis, pelo que o modelo utilizado até agora deixa de ser viável e a quantidade de torneios diminuirá drasticamente.
Outro ponto fortemente criticado é o número de torneios: a ITF argumentou que este novo circuito iria aumentar o número de torneios, algo que não se tem verificado. Nos primeiros três meses do novo ITF World Tour, o número de provas de 15 e 25 mil dólares diminuiu de 114 em 2018 para 98 em 2019; por exemplo, em março, o número de provas no setor masculino cai de 65 para 49.
O lado dos organizadores
Provavalmente, esta diminuição prende-se com problemas a nível da organização. Vários organizadores estão a tentar subir de categoria para os 25 mil dólares, categoria esta que ainda oferece pontos ATP este ano. No entanto, isto é uma questão de tempo, dado que em 2020 estas provas também não oferecerão pontos ATP. Sabendo que não existirão pontos ATP para distribuir, qual será a motivação para realizar uma prova do ITF World Tour? Existirá algum retorno capaz de convencer um diretor a realizar um torneio deste circuito?
A vantagem de pertencer ao top 100 do ranking júnior
Apesar do circuito júnior ser bastante competitivo e por vezes obrigar a um investimento avultado e a longas viagens, este parece ser até agora o único ponto positivo desde novo ITF World Tour. O novo circuito oferece vagas nos torneios profissionais aos jogadores do top 100 do ranking júnior e até estes fazerem 19 anos, pelo que os mais jovens ganham assim mais uma chance de entrar no circuito profissional.
No entanto, até aqui têm surgido algumas críticas. Imaginemos que um jovem nascido em fevereiro entra no top 100 em dezembro do seu último ano de júnior. Este jovem apenas poderá participar nas provas profissionais durante dois meses até completar os 19 anos em fevereiro do ano seguinte. Neste caso, esta regra não parece fazer muito sentido.
Uma conclusão que se pode tirar por agora é que muitos jogadores que não se destacaram quando eram juniores e agora pertencem ao topo do ranking mundial dificilmente poderiam ter feito o que fizeram se este ITF World Tour estivesse presente há mais anos. São exemplos o tunisino Malek Jaziri ou o sul-africano Kevin Anderson.
Leia aqui o ponto de vista da croata Ana Vrljic, jogadora que ocupa atualmente a posição 459 do ranking WTA e mostra a preocupação dos jogadores com este novo circuito.
I would really like to meet a person who came up with this idea about ITF transition tour and congratulate him. All the…
Publicado por Ana Vrljic em Segunda-feira, 28 de janeiro de 2019