OEIRAS — Elisabetta Cocciaretto vivia a melhor fase da carreira quando uma lesão no joelho a obrigou a deitar-se na mesa de operações. Então com 20 anos, estava às portas do top 100 WTA (108.ª a 28 de junho de 2021) e teve de largar a raqueta, mas não quis adiar mais do que o estritamente necessário o regresso aos courts. Ainda era dezembro quando seguiu os passos de Thomas Muster e recomeçou a treinar sentada numa cadeira. Quatro meses depois, conquistou no Oeiras Ladies Open o maior título da carreira ao vencer Viktoriya Tomova por 7-6(5), 2-6 e 7-5 em 3h09.
“Este título significa muito para mim, especialmente depois dos meses difíceis que vivi. Depois de ser operada treinei durante um mês e meio sentada numa cadeira para melhorar a minha técnica e só em dezembro é que voltei a treinar normalmente, por isso este é apenas o sexto torneio em que participo.”
Na terceira passagem pela sala de conferências de imprensa do Jamor, Cocciaretto revelou com tal naturalidade o regresso aos courts que a solução quase passava despercebida, mas uma segunda questão tirou todas as dúvidas: “Treinei sentada numa cadeira durante um mês e meio. Todos os dias, durante uma hora e meia, com o meu treinador a atirar-me bolas. Treinei assim para melhorar a técnica da minha esquerda, da minha direita e também servi. É claro que também nadei muito e fiz muitas coisas aborrecidas obrigatórias para recuperar”, esclareceu entre um dos muitos sorrisos que a caracterizam.
Uma semana depois de começar o Oeiras Ladies Open no qualifying, como número 233 mundial, a jovem italiana completou uma caminhada de superação, já com as duas pernas enfaixadas — a direita desde o início da final, a esquerda a partir do terceiro parcial — e o rosto a refletir o esforço de quem não esperava reencontrar-se tão cedo com tamanho sucesso.
Mas nem as emoções que a levaram a perder o serviço quando teve na raqueta a primeira possibilidade de fechar o encontro a afastaram da vitória. “Fiquei nervosa e ela foi muito agressiva, mas no jogo seguinte disse a mim mesma que tinha de tomar a iniciativa e avançar no court e essa foi a chave”, acrescentou sobre o derradeiro triunfo no Jamor, selado perante os olhares atentos dos mais de 1.000 espetadores que preencheram as bancadas do Court Central e a aplaudiram com entusiasmo.
“Não estava à espera de muitas pessoas e não estava à espera de ter tanto apoio. Fiquei surpreendida e quero agradecer a todos os que vieram e me apoiaram, porque foi fantástico”, disse, pouco antes de revelar que também foi buscar inspiração ao compatriota Alessandro Giannessi — compatriota que mais tarde perdeu a final do Oeiras Open 2 para Gastão Elias, mas que ao longo das últimas duas semanas conseguiu, qual gato com sete vidas, desenvencilhar-se de situações muito complicadas.
“Ele disse-me que é forte mentalmente porque quando os adversários pensam que está cansado consegue sempre fazer mais e hoje eu lembrei-me disso e pensei ‘ok, se o Giannessi consegue, eu vou tentar fazer o mesmo’. E foi isso que fiz.”
Assim fez. E o resultado foi a vitória numa final entusiasmante, com uma subida de mais de 70 lugares (para 161.ª) que lhe permitirá consolidar a entrada no qualifying de Roland-Garros — o palco onde, em 2021, disputou o último encontro antes da lesão.