Teenagers Raducanu e Fernandez colidem em final recheada de história no US Open

Contra todas as expetativas, a britânica Emma Raducanu e a canadiana Leylah Fernandez vão estar frente a frente na luta pelo título do US Open na final de domingo. Será uma final com contornos vintage, entre duas teenagers, e um verdadeiro hino ao multiculturalismo num país que tantas vezes se debate com questões de imigração e numa edição que recuperou os contornos de precocidade que durante vários anos caracterizaram (e popularizaram) o circuito feminino.

Com apenas 18 anos, filha de um pai romeno e de uma mãe chinesa, nascida no Canadá e criada em Inglaterra, Emma Raducanu derrotou Maria Sakkari por 6-1 e 6-4.

Com apenas 19 anos (celebrados esta semana), filha de um pai equatoriano e de uma mãe filipina, nascida e criada no Canadá e a viver nos EUA, Leylah Fernandez precisou de trabalhar mais para vencer Aryna Sabalenka por 7-6(3), 4-6 e 6-4.

Em mais uma noite histórica, Raducanu somou a nona (!) vitória desde que chegou a Nova Iorque para se tornar na primeira qualifier de sempre, homem ou mulher, a alcançar a final de um torneio do Grand Slam. Mas não se ficou por aqui: tornou-se, ainda, na britânica mais nova a inscrever una final neste nível desde 1959 e na primeira mulher britânica a chegar à final de um “Major” desde Virgina Wade, em 1977.

Desconhecida de grande parte do planeta há pouco mais de três meses, Raducanu impressiona pela simplicidade que imprime em todas as ações. Convidada para o quadro principal de Wimbledon em julho, a jovem de 18 anos apresentou postura impressionante para quem tinha estado ausente da competição durante 18 meses (entre março de 2020 e junho de 2021) para se dedicar aos exames, que cumpriu com distinção, e fez praticamente o que quis no All England Club.

A exceção foi o quarto encontro, no qual um ataque de ansiedade lhe causou problemas de respiração e fez com que abandonasse o court e não mais voltasse. Mas Raducanu construiu uma barreira entre si e as críticas — muitas delas misóginas — e regressou aos grandes palcos em grande, com a mesma alegria, a mesma simplicidade e ainda mais determinação. Se para muitos o episódio em Londres foi motivo de regozijo, ampliado pela capacidade que as redes sociais têm de dar voz a qualquer tipo de crítica, para ela foi uma bomba de motivação e Nova Iorque está a deixá-lo bem claro.

Resultados de Emma Raducanu no US Open:

Q1: d. Schoofs 6-1, 6-2
Q2: d. Bolkvadze 6-3, 7-5
Q3: d. Sherif 6-1, 6-4
R1: d. Voegele 6-2, 6-3
R2: d. Zhang 6-2, 6-4
R3: d. Sorribes Tormo 6-0, 6-1
R4: d. Rogers 6-2, 6-1
QF: d. Bencic 6-3, 6-4
SF: d. Sakkari 6-1, 6-4

O nome de Leylah Fernandez já era (ligeiramente) mais conhecido pelo público mais atento. Vencedora do torneio júnior de Roland-Garros em 2019, a canadiana disputou a primeira final WTA da carreira em Acapulco 2020 e conquistou o primeiro título em Monterrey 2021 — encontrando no México um lugar feliz.

Ao contrário da sua derradeira adversária, Fernandez tem vindo a trilhar caminho no circuito feminino entre as grandes campeãs ao longo das últimas duas épocas. Mas a forma como ultrapassou seis rondas — três delas contra adversárias do top 5 (Naomi Osaka, Elina Svitolina e Aryna Sabalenka) — foi igualmente surpreendente.

Resultados de Leylah Fernandez no US Open:

R1: d. Konjuh 7-6(3), 6-2
R2: d. Kanepi 7-5, 7-5
R3: d. Osaka 5-7, 7-6(2), 6-4
R4: d. Kerber 4-6, 7-6(5), 6-2
QF: d. Svitolina 6-3, 3-6, 7-6(5)
SF: d. Sabalenka 7-6(3), 4-6, 6-4

Com apenas um total de 37 anos entre si, Emma Raducanu e Leylah Fernandez já têm garantidos lugares na história do torneio. Mas estão a um triunfo da glória eterna, aquela que independentemente do que depois aconteça ficará para sempre registada na história do ténis. E o circuito feminino tem, neste US Open tão surpreendente e acima de tudo pautado por uma enorme qualidade vinda das mais variadas direções, um novo capítulo a escrever, com a britânica e a canadiana a recuperarem os tempos em que os grandes títulos eram disputados por adolescentes como elas.

A final deste sábado será a primeira entre duas adolescentes no US Open desde 1999, quando ainda nenhuma delas era nascida, ano em que Serena Williams (17 anos) e Martina Hingis (18 anos) estiveram frente a frente (vitória para a norte-americana).

Em 2021, no entanto, há outros contornos: Emma Raducanu é a número 150 do ranking e Leylah Fernandez a 73, classificações bem distantes do 7.º lugar que Serena Williams ocupava e do primeiro que Martina Hingis defendia. Se aquela final de 1999 não foi surpreendente, a de 2021 é totalmente inesperada. E é sobretudo por isso que tem de ser celebrada.

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