☕️ da manhã: o regresso pós-depressão, as lágrimas de Monfils e ainda a quarentena

Houve público, aplausos e emoção. As primeiras horas da jornada inaugural do Australian Open contaram com emoção para todos os gostos e deram espaço a gritos de celebração, lágrimas de frustração e até de alegria. E isto é só o início.

“Café da manhã” é o nosso resumo de tudo o que acontece durante a madrugada em Melbourne. Para os que se esqueceram de tomar café, para os que o beberam mas não ficaram noite dentro e até para os que assistiram a tudo.

Em Melbourne, a ação começou com uma lição tática de Naomi Osaka. Sem perder desde o dia 7 de fevereiro de 2020, a número três mundial superou de forma notória uma primeira ronda perigosa frente a Anastasia Pavlyuchenkova, por três vezes quartofinalista do torneio, e mostrou estar pronta para o “quadro da morte” que pode ter pela frente: na segunda ronda vai enfrentar a sempre perigosa Caroline Garcia, na quarta pode jogar contra Garbiñe Muguruza e nos quartos de final com Bianca Andreescu, estando na metade do quadro de Serena Williams.

Pouco depois, a ela seguiram-se as duas irmãs: 23 anos depois de ter ido a jogo em Melbourne pela primeira vez, Venus Williams mostrou que aos 40 ainda reúne condições para somar vitórias pelo circuito fora, enquanto Serena convenceu no regresso ao Australian Open, fazendo regressar a conversa em torno de um eventual 24.º título em torneios do Grand Slam.

Depois de um ligeiro atraso, lá chegou a hora de Pedro Sousa entrar em ação. O número dois nacional tinha pela frente uma tarefa hercúlea, mas deu boa réplica ao ex-número três mundial e campeão de 2014, Stan Wawrinka. Apesar de não ter ficado totalmente satisfeito com a exibição, reconhecendo que o peso de bola e a velocidade do suíço lhe causaram muitas dificuldades, o lisboeta deixou evidente o trabalho que realizou para se sentir mais à vontade na superfície que assumidamente não é a sua praia e só despedir-se de Melbourne com boas sensações, otimista com o regresso à bem mais agradável terra batida já a partir da próxima semana.

Foi também de madrugada que se escreveu a primeira grande história do Australian Open 2021. Oito anos depois de ter abandonado o ténis por causa de uma depressão que se intensificou com o abuso que já naquela altura sofria nas rede sociais, a canadiana Rebeca Marino regressou em força. Foi ela a responsável pelo primeiro “game and first set” cantado no torneio e não demorou muito mais até seguir em frente, ao vencer Kim Birrell por 6-0 e 7-6(9).

O regresso ao ténis começou a ser preparado em abril de 2019, mas no ano seguinte a ex-número 38 mundial perdeu o pai, que considera ter sido a sua maior inspiração, e enfrentou viveu “o pior ano” da sua vida. Sempre com o herói presente na mente, a tenista natural de Toronto viajou para o Dubai em janeiro, sem treinador, por não querer sujeitar ninguém à incerteza do qualifying, movido para os Emirados Árabes Unidos por causa da pandemia.

Lá, resolveu-se por si própria e assim continuou a jornada até Melbourne, onde esta madrugada venceu um encontro em quadros principais de Grand Slams pela primeira vez desde Wimbledon 2011, há praticamente 10 anos. Se há histórias emocionantes…

Por falar em emoção, comovente foi, também, o momento em que Gael Monfils baixou a guarda na sala de imprensa. Se há um ano era a grande figura do circuito masculino (conquistou Marselha e Roterdão de forma consecutiva e logo a seguir teve vários match points para finalmente derrotar Novak Djokovic nas meias-finais do Dubai), desde a retoma do circuito, em agosto, o francês não conseguiu vencer um único encontro e até antecipou o final da época, falhando o Masters 1000 de Paris.

Esta madrugada, despediu-se de forma surpreendente no encontro da primeira ronda com o número 86 mundial, Emil Ruusuvuori, que venceu por 3-6, 6-4, 7-5, 3-6 e 6-3 no primeiro encontro do torneio a chegar a um quinto set.

“Quero sair deste pesadelo e não consigo”, desabafou “La Monf” entre lágrimas já na sala de imprensa. “Resta-me lembrar-me da frase que a minha mãe está sempre a dizer-me: ‘Continua a treinar que vais voltar’. Só me sobra isso.”

Lágrimas viram-se, também, em Bianca Andreescu, mas por boas razões. Sem competir há 15 meses (!), a campeã do US Open de 2019 parece ter superado finalmente o enorme calvário de lesões que a afastou dos courts depois de explodir para a ribalta e regressou com uma vitória arrancada a ferros: 6-2, 4-6 e 6-3 foram os parciais frente à “doutora” Mihaela Buzarnescu, num encontro que teve como momento decisivo os três pontos de break consecutivos que salvou ao 3-3 do terceiro set.

Menos feliz foi o dia de Angelique Kerber. A campeã de 2016 esteve irreconhecível precisou de esperar oito jogos para conseguir entrar no marcador frente à norte-americana Bernarda Pera, que venceu por claros 6-0 e 6-4 rumo à segunda ronda e no final foi consumida pelas emoções, ficando sem palavras na entrevista que se realizou no court.

A alemã foi uma das 72 jogadoras e jogadores a ficar retida no quarto de hotel durante 15 dias à chegada a Melbourne, sem poder sair para treinar como fizeram os restantes colegas de profissão, e acusou a preparação mais curta.

“Teve definitivamente um impacto. Tentei sempre manter-me positiva e dar o meu melhor, mas é claro que o sentes, sobretudo se estás a jogar contra uma jogadora que não teve de ficar totalmente de quarentena. No início não consegui ter o ritmo que tinha antes das duas semanas, mas dei o meu melhor”, lamentou a alemã de 33 anos, que apesar de ter elogiado os esforços da Austrália no combate à pandemia pôs a viagem até Melbourne em perspetiva. “Olhando para trás, se soubesse que teria de ficar duas semanas totalmente fechada, sem bater uma vez na bola, teria pensado duas vezes em viajar, mas ao mesmo tempo queria vir até cá porque é um dos meus torneios preferidos e já não jogamos perante público há muito tempo.”

E foi precisamente perante os fãs que Iga Swiatek somou a primeira vitória enquanto campeã de um torneio do Grand Slam (não jogava desde que venceu Roland-Garros e superou Arantxa Rus por 6-1 e 6-3) e que Dominic Thiem regressou ao palco onde há um ano jogou a final com uma vitória por 7-6(2), 6-2 e 6-3 sobre Mikhail Kukushkin.

Para o número três do mundo, apontado por vários como grande candidato a terminar o ano na primeira posição, a rotina alterou-se e é agora feita de “várias chamadas” para o outro lado do mundo, o Chile, onde ficou o treinador Nicolás Massu depois de ter testado positivo à covid-19.

E assim termina este café da manhã, bem a tempo do encontro da primeira ronda entre Frederico Silva e Nick Kyrgios (a partir das 8h com transmissão integral no Eurosport Player e esporadicamente no canal 2).

Total
0
Shares
Total
0
Share