Foi em plena madrugada que Pedro Sousa e Frederico Silva aterraram em Melbourne, a cidade mais controlada do mundo do ténis desde que a pandemia de covid-19 foi declarada. O lisboeta e o caldense são dois dos três portugueses com presença garantida no Australian Open — o outro é João Sousa, que por razões pessoais não viajou conforme previsto, mas mantém esperanças de ir a jogo — e, chegados à Austrália, têm pela frente uma longa e rígida quarentena.
“Não tem sido fácil. Aterrámos por volta das 3h da manhã [16 horas de sexta-feira em Portugal Continental] e da pista do aeroporto saímos diretamente para uma tenda onde estavam várias pessoas que nos deram questionários a preencher, máscaras novas e desinfetaram os nossos sacos. Depois ordenaram-nos em autocarros para irmos para o hotel e fomos escoltados. Todo este processo demorou umas três horas e meia e quando lá chegámos cada um subiu no seu elevador até ao quarto, onde nos fizeram o teste PCR. Ainda estou à espera do resultado, mas entretanto já houve casos em dois voos e esses passageiros estão em quarentena, o que está a causar alguma revolta entre os jogadores.”
O relato foi feito por Pedro Sousa (que viajou acompanhado de Rubén Ramírez Hidalgo) ao Raquetc na manhã deste sábado, noite em Melbourne, já depois de ter sido revelado que pelo menos 47 jogadores que também chegaram nas últimas 48 horas terão de ficar em quarentena absoluta por causa de três testes positivos à covid-19.
A situação tornou evidente um cenário até aqui pouco referido, mas que sempre esteve em cima da mesa: a possibilidade dos jogadores perderem os privilégios concedidos pelo governo australiano no caso de um passageiro do mesmo voo apresentar um resultado positivo na chegada a Melbourne. Quando assim é, o dia-a-dia transforma-se no de um passageiro comum que por estes dias chegue ao país: 15 dias totalmente encerrado no respetivo quarto de hotel, sem as cinco horas de autorização para estar entre o court, o ginásio e uma zona dedicada à nutrição.
O relato de Frederico Silva — que viajou na companhia do treinador Pedro Felner — foi semelhante ao do compatriota. Dias depois de ter feito história ao vencer as três rondas do qualifying, o caldense está de regresso a Melbourne, mas desta vez para participar no quadro principal de um Grand Slam pela primeira vez.
“Chegámos às seis da manhã e o voo correu bem. Foi bastante longo, quase 14 horas, mas estava praticamente vazio por causa das normas de segurança, por isso viemos todos à vontade, com três assentos, e pudemos descansar melhor. Acabou por ser uma viagem mais confortável do que é habitual. Do avião levaram-nos diretamente para um espaço do Australian Open e de lá para o hotel nuns autocarros especiais. Entrámos um a um no hotel, onde o check-in já estava feito, e quando chegámos ao quarto abriram-nos a porta e o cartão já estava lá dentro, bem como algum material que vamos usar. Deixaram-nos aqui as bolas, para não termos de as ir buscar ao clube, e algumas coisas essenciais, como louça, porque as refeições vão ser todas aqui. De resto, há pessoas a controlar as entradas e saídas. Em princípio amanhã já teremos o resultado e poderemos ir treinar. Tudo indica que o meu parceiro para esta primeira semana vai ser o Hugo Dellien.”
Feita a viagem, falta o resto. Se tudo correr bem, Pedro Sousa e Frederico Silva receberão nas próximas horas autorização para iniciarem o processo de treinos, certamente o mais restrito das carreiras: máximo de 120 minutos por dia no court, outros 90 minutos no ginásio e 60 minutos dedicados à nutrição. Para além disto, terão de ser testados diariamente à covid-19 e quer as refeições, quer os encordoamentos das raquetes têm de ser encomendados para o quarto, sendo deixados à porta para recolha.