Depois de ultrapassar com relativa facilidade a fase de qualificação, o austríaco Sebastian Ofner, actual 168 do mundo, analisou os dois encontros disputados, explicou porque não está no quadro principal e a importância do amigo Dominic Thiem para o ténis do seu país.
Ofner, primeiro cabeça de série da fase preliminar, já tinha vencido o jovem lisboeta Pedro Araújo, “que tem boas pancadas e se continuar a trabalhar bem terá boas chances nos próximos anos”. Hoje, no Estádio CIF, o mais cotado dos pretendentes ao quadro principal teve um duelo mais duro do que se pode supor pelos parciais, mas acabou por confirmar o favoritismo. “Tive set points a 5-1 e a 5-3 no serviço dele. Depois fiz muitos erros e sofri o break. Mas a 5-4 fiz um bom jogo. No 2º set, a 2-3 esteve 0-40 mas graças ao meu serviço agarrei o jogo e de seguida venci os três últimos jogos com bom nível. No geral foi um bom encontro e estou ansioso por amanhã”.
Só que amanhã terá pela frente um adversário indesejado: “Há desafios difíceis para os qualifiers, as há um que não quero mesmo defrontar, o Munar. No entanto, sei que se jogar bom ténis posso ganhar a qualquer um”. Foi assim que o austríaco, após a vitória face a Tristan Lamasine, anteviu a sua participação no quadro principal, não sabendo na altura que acabaria sorteado precisamente com o espanhol, primeiro cabeça de série (não antes das 14h30 no Estádio CIF).
Um encontro frente a Jaume Munar que nunca aconteceria se Ofner não estivesse sedento de competir um nível acima. “Sinto que já devia estar no quadro principal deste torneio, tenho ranking para tal, mas decidi jogar torneios ATP. Só que esperei tanto para ver se entrava em algum que acabei por me esquecer de inscrever neste Challenger. Mas ainda bem que houve o qualifying”, um desafio que pode ser “mentalmente duro” para tenistas de maior nomeada devido à redução dos participantes por torneio. “Para os jogadores que andam pelos 200 do ranking é muito difícil. E com toda esta situação no Mundo há, no máximo, um ou dois Challengers por semana. É duro ter de jogar qualifyings sendo 170/180 do mundo. Os qualifyings são muito fortes, temos de jogar dois encontros duros para poder começar o torneio e quando o começas temos adversários ainda melhores e é mentalmente duro”.
Com o 126 como melhor ranking da carreira, em maio de 2019, o tenista de 24 anos quer “chegar o mais rapidamente possível ao top 100”. “É mais fácil aguentar no top 100 do que lá entrar. Nos Challengers há jogadores que podem bater top 50, há muitos jovens com valor a aparecer”, salientou Ofner, que considera os qualifyings dos Grand Slam como o expoente máximo das dificuldades neste nível. “Se estivermos no quadro principal podemos passar duas ou três rondas porque não há melhores tenistas do que na qualificação. Pudemos ver isso agora em Paris, com alguns a chegarem longe”. Talvez isso, aliado a “algum azar nos sorteios”, explique que Ofner apenas tenha ultrapassado essa fase numa ocasião na carreira, já no torneio de Wimbledon de 2017, onde até chegou à terceira ronda, derrotando Thomaz Bellucci (55.º) e Jack Sock (18.º) pelo caminho. Ainda em Roland Garros, o austríaco ficou pela ronda de acesso ao quadro principal, uma derrota “dura” face a Jurij Rodionov porque era “melhor jogador”.
No entanto, após o recomeço do circuito, a jogar em casa, Sebastian Ofner bateu o moldavo Diego Schwartzman, então 70.º do ranking, só cedendo face a Diego Schwartzman, finalista em Roland Garros há uns dias, por 7-5 no terceiro set. “Acho que tenho nível para esses jogadores. Mas tenho de ser mais regular. Consigo fazer grandes encontros mas depois há dias onde não sinto as pancadas. E essa é a diferença para os tenistas de topo. O Schwartzman num dia mau continua com nível de top 40/50 e quando joga bem de top 10”.
O número três austríaco ainda se debruçou sobre a grande estrela do seu país, Dominic Thiem. “Os melhores jogadores na Áustria treinam na Academia do pai do Dominic e é inacreditável ver como ele treina, como trabalha, como joga”. E é impressionante ver que apesar de todo o sucesso continua boa pessoa e com os pés bem assentes na terra. É um rapaz normal”, observa Ofner, não hesitando em destacar a importância do compatriota: “O ténis está a crescer muito outra vez na Áustria. Houve muitos anos em que estagnou, mas com o Dominic cresceu muito. Muitos querem jogar ténis e jogar como ele”.
Sobre o nosso país, em concreto Lisboa, não se conteve em elogios: “Já joguei neste torneio uma vez há 2 anos [foi semi-finalista, derrotado por Tommy Robredo]. É um país incrível. Mas com isto tudo não quero andar pela cidade. Não quero que aconteça algo que me impeça de jogar os últimos torneios, seria estúpido. Mas há 2 anos andei pela cidade e achei fantástica”, finalizou o austríaco, que lutará amanhã pelo estatuto de tomba gigantes neste primeiro Challenger de 2020 em Portugal.