PORTO – Desde cedo habituado a viajar (e a ganhar), o ex-número 1 mundial de juniores Orlando Moraes da Luz – Orlandinho para os amigos – abraçou, em 2018, um novo desafio: o de atravessar o Atlântico de malas feitas para trocar Santa Catarina, no Brasil, por Barcelona, em Espanha.
A conversa com o Raquetc aconteceu no Clube de Ténis do Porto, um par de dias depois de ter ganho, em Kassel, o título mais importante da carreira (Future de 25.000 dólares+H) e uma mão cheia de dias antes de vencer, ao lado do também aventureiro Felipe Meligeni, o quadro de pares do Porto Open –– em singulares, foi travado nas “meias”.
“A partida para Barcelona surgiu com a parceria assinada entre a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) e a BBT Tennis Academy. Esse foi o primeiro ‘empurrão’. Eles disseram que havia esta proposta, perguntaram-nos o que é que achavam e eu aceitei sem hesitar.” Afinal, em jogo estava “uma chance de crescer e evoluir como nunca”.
E Orlandinho explica porquê: “Na Europa é muito mais fácil jogar torneios do que no Brasil e na verdade toda América do Sul, onde estão em crise. O número de torneios diminuiu muito e mesmo quando você tem para jogar no Brasil às vezes fica difícil de viajar, é bem mais fácil mesmo se troca de país para país na Europa. E depois a possibilidade de trabalhar com o Leo Azevedo, que já estava em Barcelona, também foi uma das questões que me motivou muito.”
Invertendo o prisma, a aposta da academia espanhola é fácil de compreender: na adolescência, Orlando Luz tornou-se num dos nomes mais sonantes da “nova fornada” do ténis: foi número 1 mundial de juniores, venceu o torneio de pares de Wimbledon e nos Jogos Olímpicos da Juventude, bem como uma medalha de prata em singulares. E depois, embalado pelo sucesso entre os da sua idade, aventurou-se rumo às meias-finais em Santos e quartos de final em São Paulo, torneios Challenger que o catapultaram ainda mais para a ribalta.
Hoje, acredita que “esse sucesso tão precoce ajudou-me em muitas coisas mas também atrapalhou nalgumas”. São, no entanto, águas passadas, até porque entretanto está a reencontrar-se e a cidade catalã tem, realmente, uma grande influência neste sucesso recente. “A maior diferença ao nível dos treinos não é técnica, mas sim o facto da gente poder treinar com jogadores de alto nível num maior número de dias. Em Barcelona treino com vários jogadores do top 100 e no Brasil não teria essa possibilidade, porque lá os melhores estão cada um em cada canto.”
Entre eles, está o português João Sousa, com quem já partilhou por várias vezes o campo – ou a “quadra”, como lhe chama – desde que atravessou o oceano. “A gente treina bastantes vezes juntos, eu gosto muito do João. É um cara muito bom, muito acessível e que desde o primeiro dia em que eu apareci na academia que é muito tranquilo comigo. Fiz treinos com ele até na grama (relva) antes de ele ir para Wimbledon, no piso rápido, no saibro (terra batida) e tanto ele como o Fred dão sempre uma força, um apoio, uma dica aqui e ali que ajudam bastante.”
Nesse aspecto, Orlandinho parece ser uma “esponja”: já em 2016, depois do sucesso em juniores, tinha tido a oportunidade de aprender com os melhores do mundo ao ser convidado pela ATP – juntamente com Stefanos Tsitsipas e Denis Shapovalov – para ser sparring partner dos jogadores apurados para o “Masters”, em Londres. Dessa semana, recorda a interação, a observação das rotinas e as trocas de bolas que lhe permitiram sentir um outro peso de bola, que o motivou de tal forma que na semana seguinte conquistou, em Maldonado (Uruguai), o segundo título Future da carreira.
Entretanto passou-se mais de um ano e os planos não se realizaram, mas 2018 parece estar a ser, novamente, a sua época: já conquistou dois títulos de singulares (em Vic, Espanha, e Kassel, na Alemanha), um deles de 25.000 dólares, e quatro em pares, resultados que lhe permitem “deixar para trás os torneios de categoria mais baixa e apontar para os 25.000 e até para os Challengers, porque com as novas mudanças vão passar a ser os únicos que contam”.
De facto, essa é uma preocupação comum em cada uma das conversas que vão existindo com jogadores que atualmente estão num nível que só lhes permite jogar os torneios mais baixos da Federação Internacional de Ténis: a partir de janeiro, todos os pontos somados em provas de 15.000 dólares “desaparecem” (passam a valer apenas Entry Points).
Ainda assim, Orlando Luz não coloca a carroça à frente dos bois, ou os resultados à frente do trabalho: “Não gosto de pensar muito em números porque acho que às vezes isso atrapalha. Prefiro concentrar-me em evoluir o meu jogo, fazer bons jogos e estar preparado para os desafios grandes, como estamos a trabalhar em Barcelona com a ajuda da equipa, da CBT, da minha família e namorada, com todo o mundo a trabalhar para que dê certo.”