Eis a incrível história de Stefanos Tsitsipas, contada pelo próprio ao Raquetc

tsitsipas
Fotografia: Millennium Estoril Open

ESTORIL – Um dos principais destaques deste Millennium Estoril Open é inegavelmente a forte presença da denominada NextGen do circuito ATP. Na sua base, esta nova geração de jogadores consiste no conjunto de jovens promessas que representam o futuro da elite do ténis mundial. No entanto, há nomes que possuem a rara capacidade de saltar essa fronteira entre o futuro e o presente. Quando se fala em Stefanos Tsitsipas, é errado pensar a longo prazo: ‘El Greco’ é já um dos melhores da atualidade.

Vindo de um percurso de sonho em Barcelona – onde (apenas) foi derrotado na final do ATP 500 local para Rafael Nadal – todos os olhos do universo tenístico estão postos na nova estrela do ténis grego. Agora a competir no Clube de Ténis do Estoril e decidido a dar continuidade ao seu extraordinário momento de forma, o RAQUETC quis conhecer melhor este talento e sentou-se a conversar com o grego, que simpaticamente nos contou a sua incrível história.

Descendente de uma família bastante ligada ao desporto – o avô e a mãe eram nomes fortes do futebol e ténis soviético, respetivamente – Tsitsipas admite que no início chegou a praticar futebol, procurando inspiração nos feitos do avô. “Costumava jogar futebol quando era novo, estava a tentar seguir as pisadas do meu avô. Ele era um grande nome da antiga União Soviética, um atleta muito respeitado”, confessou-nos antes de recordar a medalha de ouro conquistada pela avô nos Jogos Olímpicos de 1956 em Melbourne, no qual acabaria inclusivamente por derrotar o Brasil de Pelé.

“Eu nunca tive a oportunidade de o conhecer porque ele faleceu quando a minha mãe era muito nova, isso foi uma grande perda para a família”, lamentou.

Já no que toca à mãe, o jogador natural de Atenas revelou-nos o facto curioso de que ambos já ocuparam o lugar de topo no ranking de juniores nos respetivos circuitos. Enquanto profissional, ela andou perto do top 100, e mais tarde tornou-se comentadora de ténis numa estação televisiva russa. E foi aqui que tudo começou para aquele que viria a ser um filho pródigo.

Tsitsipas – aqui a preparar a sua esquerda a uma mão – em tempos praticou futebol, o deporto mais popular no seu país.

“Decidi começar a jogar ténis quando tinha seis anos, os meus pais inscreveram-me no clube de ténis local”, começou por referir antes de destacar as dificuldades em construir uma carreira na Grécia. “Se comparares com países como a Austrália ou os Estados Unidos eu acredito que é duas vezes mais difícil. Porque, para começar, a federação parece que não existe. Não há qualquer presença deles em qualquer momento da tua carreira”, contou.

“É difícil porque tens de fazer tudo por ti próprio. Tens de te encarregar com as despesas das viagens e ainda ter a equipa certa contigo. Não é fácil porque não há muita gente na Grécia que possa reunir as condições perfeitas para arriscar”, prosseguiu.

Ainda assim, o semifinalista do maior torneio de ténis nacional foi capaz de dar a volta a todas essas contrariedades. E como o conseguiu? Rodeando-se das pessoas certas. Do treinador ao pai, muito daquilo que um grande jogador se torna é um reflexo de todo um apoio que vem de trás.

“Fui muito sortudo porque tive um treinador muito bom no meu clube que desenvolveu o meu jogo. E quando tinha 12 anos o meu pai [Apostolos Tsitsipas, que ainda o acompanha atualmente] demitiu-se da sua profissão num clube de ténis no norte da Grécia e passou a viajar comigo desde esse dia. Então começámos o tour de juniores, devagar e a escalar nos rankings“, lembrou antes de reforçar: “Não foi fácil, houve muitos momentos duros”.

De todos os momentos que protagonizou no percurso pelo circuito de juniores, Tsitsipas destaca um, que define como o grande período impulsionador da sua carreira. “O grande impulso aconteceu quando disputámos o Grade A de Mexico City, onde cheguei à terceira ronda. Duas semanas depois cheguei à final do Orange Bowl, onde bati bons jogadores, portanto foi aqui que tudo começou para mim porque ganhei confiança e acreditei que conseguia vencer os grandes tenistas”, vincou.

Do Future de Oliveira de Azemeis à final do ATP 500 de Barcelona passaram sensivelmente dois anos.

Seguindo a ordem cronológica e estabelecendo já a transição para os dias de hoje, é importante referir a passagem do prodígio pelo Future de Oliveira de Azeméis, onde se sagrou campeão no ano de 2016, batendo pelo caminho o jogador da casa João Domingues. Quando questionado acerca das principais diferenças entre o Stefanos de 2016 e o de 2018, ‘El Greco’ não tem dúvidas.

“Um Stefanos mais experiente, mais forte em termos físicos no court, mais crescido enquanto pessoa e com uma melhor equipa e uma melhor base – a Mouratoglou Tennis Academy que não tinha antes”, atirou, ele que muito antes, com apenas 13 anos, já tinha passado uma vez por Portugal, por ocasião do Maia Open, onde cedeu na primeira ronda para… Alexander Zverev.

Hoje, Tsitsipas figura como o melhor tenista grego da Era Open. A par de Maria Sakkari no circuito WTA – que apelida de “boa amiga” – figuram juntos como os expoentes máximos do ténis do seu país e partilham os dois o objetivo de se tornarem pioneiros, decididos a elevar a modalidade para níveis nunca antes vistos.

Apesar de ainda jovem, o atleta de 19 anos não se deixa levar por excitações e prefere manter os pés bem assentes na terra, demonstrando uma maturidade e serenidade anormal para a sua idade. “Encaro os torneios exatamente da mesma forma que fazia antes. Sei que o ténis é um desporto duro e que vão haver altos e baixos ao longo da minha carreira. Portanto só tenho de saber lidar com eles da melhor forma, seguir em frente e melhorar no futuro”, sublinhou.

Finalmente, antes de nos deixar, o atual número 44 da hierarquia mundial (o seu máximo de carreira) não resiste a tecer largos elogios a Portugal e ao povo português. “Adoro a comida mediterrânea, as pessoas simpáticas, a praia selvagem e a vista do meu quarto de hotel que é fantástica”, afirmou com um sorriso nos lábios, antes de comentar as semelhanças entre o nosso país e a Grécia. “As mulheres bonitas, o caloroso ‘saber receber’, a familiaridade que existe entre as pessoas e a língua que também é muito bonita”, concluiu.

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