A estudar nos Estados Unidos da América desde 2016, altura em que ingressou na Mississipi State University com o objetivo de conciliar o curso superior com o sonho do ténis, Nuno Borges está de volta a Portugal após concluído o segundo ano em solo norte-americano.
O tenista natural da Maia é um dos quatro portugueses nos quartos de final da 2.ª edição do Open de São Domingos e esteve à conversa com o RAQUETC, onde falou da sua experiência em terras do tio Sam e dos seus objetivos para um futuro que se adivinha risonho.
Nuno terminou o ensino ensino secundário em 2015, na Escola Secundária da Maia, e como muitos atletas, a decisão entre ficar por Portugal ou sair foi uma escolha difícil. Foi então que surgiu a oportunidade de estudar e treinar nos Estados Unidos da América, algo que agarrou com unhas e dentes e que considera ter sido a melhor opção, pois continuar em Portugal não lhe daria as garantias de prosseguir o sonho de levar o ténis mais a sério.
“Pensava que se ficasse em Portugal e a estudar na universidade seria difícil conciliar as duas coisas. Não ia poder treinar à vontade tal como treino lá [nos Estados Unidos da América], pois as coisas lá são muito bem separadas e consigo fazer as duas coisas ao máximo sem que uma interfira com a outra, o que é ótimo”, começou por dizer o jovem de 20 anos, que afirma que a adaptação ao sistema universitário norte-americano foi algo que aconteceu naturalmente e sem grandes dificuldades.
“Os primeiros dois meses foram de adaptação ao sistema que eles têm”, disse. “Como não cheguei a ir para a universidade em Portugal não sabia muito bem como funcionava. Tinha mais dificuldade em encontrar os edifícios, saber os tempos que tinha de utilizar para me orientar e falar com as pessoas, mas a adaptação é sempre difícil no início para toda a gente”, admitiu.
A distância entre a Maia e o Mississipi são pouco mais de 7.000 quilómetros e os métodos de treino acabam por não ser os mesmos a que Nuno estava habituado em Portugal. O português considera que apesar das diferenças de métodos, não encontra um melhor que o outro, são apenas como ele diz, diferentes.
“Nos Estados Unidos os treinos são muito mais feitos para mim, tenho mais atenção. Os treinos são mais centrados em cada jogador, são desenvolvidos para cada um de nós. Na Maia tínhamos um grupo maior e apenas um treinador, o que tornava as coisas mais difíceis. A diferenças são muitas, mas não diria que uma é melhor que a outra”, comparou, falando um pouco da carga de treinos que tem lá por fora.
“Normalmente não há jogos durante a semana, costumamos jogar ao fim de semana. Se não houver jogos treinamos de segunda a sábado duas, duas horas e meia e tenho duas vezes por semana em que treino uma hora só específico, só eu e o treinador, além de termos sempre entre uma e uma hora e meia de treino físico todos os dias”, contou.
Habituado a jogar e a treinar em terra batida em quase toda a sua formação, Nuno acredita que o facto de nos Estados Unidos a cultura do ténis ser mais sobre os courts de piso rápido o ajudou a melhorar aspetos que antes da ida não tinha tão desenvolvidos. O português sente-se agora mais preparado fisicamente e melhor adaptado aos vários tipos de piso, algo que o ajudou a melhorar o seu nível de ténis que segundo afirma, sempre esteve mais propenso aos hardcourts.
“Há muitos aspetos em que estou um pouco mais forte. Treino muito duro e estou mais adaptado ao calor e ao frio e isso ajuda-me muito aqui. Não me importo de jogar dois dias seguidos em três sets, pois já é um hábito”, começou por dizer sobre o assunto.
“Treinei toda a minha vida nos courts de terra batida da Maia. É engraçado porque muita gente me dizia que o meu jogo tinha muito mais potencialidade em piso rápido. Serviço, direita, esquerda, tenho um jogo mais chapado e isso ajuda-me no piso rápido. Nas camadas jovens, sub-14 e sub-16 não sabia utilizar essas armas e lá entendi aquilo que posso fazer com as pancadas e como utilizá-las da melhor maneira nos hardcourts. Também melhorei a minha movimentação e nesses aspetos ajudou-me muito porque acho que me faltava um pouco isso”, continuou.
Ao segundo ano a jogar no circuito universitário, Nuno afirmou-se como um dos principais jogadores de referência, atingindo o top 5 do ranking universitário e as meias-finais do prestigiado NCAA Division I Men’s Tennis Championship — Campeonato Nacional Universitário Norte-Americano.
Estes resultados, fruto do bom trabalho desenvolvido ao longo dos dois anos, foram algo surpreendentes para o próprio que no entanto afirmava que “era um objetivo a longo prazo, nunca pensei chegar lá tão cedo. Não sou muito de pôr objetivos, talvez o meu fosse um pouco menos ambicioso principalmente para este ano que passou. Estou muito feliz por estar lá”.
“Quando cheguei aos EUA nem eu nem o meu treinador sabíamos o que eu poderia render, pois ele não me conhecia assim tão bem. Cheguei lá a jogar a 3, 2 dependia dos jogos da equipa. Estava muito longe de pensar que poderia chegar aqui, apesar de no final do primeiro semestre ele dizer que poderia ser perfeitamente top-10 nos meus dois últimos anos. Para mim foi sempre um pouco difícil ver as coisas assim, olhar para aqueles jogadores e pensar: “é impossível, jogam tão bem”. Nunca pensei que dentro de 6 meses, 1 ano estava dentro do top 10. Fiz coisas que nunca pensei que poderia ter feito”, declarou.
Com dois anos ainda pela frente e já com tantos feitos conquistados no difícil circuito universitário, a ambição de Nuno mantém-se intacta. O português que chegou a figurar na 44.ª posição do ranking mundial júnior acredita que ainda há muito para melhorar.
“Ainda tenho muito para melhorar e o meu ténis ainda tem muito mais para dar. Há muito para desenvolver, ainda estou longe de estar onde gostaria e acho que é mais para aí. Não vou olhar tanto para os resultados. Não posso dizer que conquistei tudo, mas mais do que isto não posso pedir, já foi incrível, Quem dera a muitos fazer aquilo que eu fiz e estou muito orgulhoso. O objetivo passa por desenvolver o meu ténis e jogar mais torneios profissionais e não tanto os universitários”, confidenciou.
Com os resultados alcançados até ao momento, Nuno não esconde o desejo de seguir uma carreira profissional no ténis e há um português que é um exemplo que esse caminho pode ser possível. Falamos de João Monteiro, tenista de 23 anos que abraçou desde o ano passado o profissionalismo vindo do circuito universitário norte-americano e que já figura dentro do top-400 mundial.
Para o tenista natural da Maia, o que o portuense está alcançar é um abre olhos para que outros tenistas com percursos semelhantes e as pessoas fora do ténis mudem as mentalidades e acreditem que estudar e jogar ténis nos Estados Unidos pode ser uma porta aberta para um futuro risonho.
“O João [Monteiro] veio trazer uma revolução para Portugal. Muita gente tinha a ideia de que quem vai para lá acaba por deixar, o que aconteceu muitas vezes. Acho que as pessoas desvalorizam um pouco o nível a que se joga lá e que os jogadores estão lá a sério, não para brincar”, atirou, falando ainda da opção de poder vir a dedicar-se apenas ao ténis.
“Quando fui para lá foi com o pensamento de manter as duas opções. Estudar e jogar ténis. Se tiver de deixar de estudar deixo, mas gostava de fazer os dois, mas sempre quis jogar e essa foi sem dúvida a minha primeira opção. Quando fui não tinha noção do que é que poderia acontecer”.
O tema profissionalismo ainda fica um pouco à margem das conversas com o seu treinador no Mississipi, apesar de este reiterar o seu apoio a Nuno seja qual for a sua decisão.
“O meu treinador nos Estados Unidos não me fala muito nisso, ele pensa mais naquilo que eu posso melhorar e não fala muito comigo sobre deixar a universidade e seguir o profissionalismo, mas dá-me sempre essa opção. Claro que às vezes falamos um pouco, mas não é propriamente um tema de conversa. Acho que isso deixo um pouco mais para o treinador de cá, em Portugal”, disse sorridente.
“Ele diz-me que sem dúvida devia considerar, que sou novo. Ele também não estava à espera que eu me fosse dar tão bem neste último ano e ainda estamos a averiguar se vale a pena ou não e se a melhor opção é deixar lá e começar apenas a jogar torneios profissionais”, terminou.