Rafael Nadal x 1000, uma história de superação sem igual

Paris, cidade da luz.

Paris, cidade da glória.

Paris, cidade dos recordes.

Dezanove anos, um mês e dezoito dias depois de ter somado a primeira vitória da carreira como tenista profissional, Rafael Nadal chegou esta quarta-feira aos 1000 triunfos na variante de singulares — um registo que até agora só tinha sido alcançado por outros três colegas no circuito masculino e que é “apenas” mais um, e ao mesmo tempo “ainda” mais um, dos que atestam a história de superação de um fenómeno maiorquino que quebrou barreiras, superou expetativas e estabeleceu recordes.

Tal como o seu arquirrival-tornado-melhor-amigo, Roger Federer, também o espanhol foi dado como acabado em várias ocasiões — sinais dos tempos, digitais, e das redes sociais, e que tão depressa se enaltecem novos heróis como se encostam campeões.

Mas Nadal sobreviveu, uma e outra vez e a tudo um pouco: das lesões crónicas aos “problemas ligeiros” que o perturbaram nos momentos em que tudo parecia alinhar-se para lhe permitir um regresso tranquilo aos courts, começando com a lesão no cotovelo que em 2003 o afastou da estreia em torneios do Grand Slam e uma fratura de esforço no pé esquerdo em pleno Estoril Open, que uma vez mais o impediu de ir a Roland-Garros, mas também a Wimbledon (que por essa altura ainda apontava como o seu grande sonho) e aos Jogos Olímpicos de Atenas. E que foi só o início de um longo, longo calvário…

Em 2005, já como nova estrela em ascensão do circuito mundial, falhou a reta final da temporada devido a problemas físicos no pé esquerdo, o mesmo que meses mais tarde o força a desistir do Australian Open.

Seguiram-se quase três temporadas completas sem problemas de maior, até que no final de 2008 os 111 encontros disputados ao longo do ano tiveram efeito no tendão de um dos joelhos de Nadal, que chegou pela primeira vez a número 1 do mundo. Meses depois, problemas semelhantes e não num, mas nos dois joelhos que depois da mediática — e de certa forma histórica — derrota para Robin Soderling, nos oitavos de final de Roland-Garros 2009, o afastaram de Wimbledon, onde falhou a defesa do primeiro título.

Por esta altura, Nadal já estava mais do que habituado a regressar “com tudo” depois de longas e desapontantes ausências e foi isso que voltou a fazer em 2010: dois meses após a desistência em plenos quartos de final do Australian Open com mais uma lesão no joelho, regressou aos courts e “desenhou” uma das melhores temporadas da carreira, que culminou no regresso ao número um e na conquista do Career Grand Slam, no US Open.

Depois da glória, mais uma lesão: no Australian Open de 2011 o maiorquino não esconde as lágrimas ao ser assistido a uma lesão no adutor durante os quartos de final com o compatriota David Ferrer — um problema ligeiro se comparado com o que chegaria um ano mais tarde: em 2012, quando praticamente tudo lhe corria bem, perdeu em cinco sets para Lukas Rosol na segunda ronda de Wimbledon e não jogou mais, a contas com novos problemas nos joelhos.

Dois anos depois, em 2014, sofreu a primeira lesão da carreira no pulso, durante um treino, e teve de desistir dos torneios de Toronto, Cincinnati e US Open. Os problemas voltaram a perturbá-lo dois anos mais tarde e apesar de vários tratamentos desistiu antes da terceira eliminatória de Roland-Garros (mais tarde confessou que “quase destruí” o pulso naquele torneio) e não chegou a ir a jogo em Wimbledon, colocando um ponto final precoce na temporada.

No início de 2017, a reação só não foi melhor porque o também recuperado Roger Federer o derrotou nas finais do Australian Open e de Miami, bem como nos oitavos de final de Indian Wells (e mais tarde em Xangai), mas o maiorquino reencontrou-se com o seu melhor ténis e, livre de lesões, terminou o ano com impressionantes 68 vitórias e novamente como líder do ranking.

2018 voltou a ser marcado por períodos negros e se começou o ano a desistir do Australian Open com uma lesão na perna, terminou-o a abdicar da meia-final do US Open lesionado no joelho. E meses depois os joelhos voltaram a atormentá-lo, tendo inclusive considerado acabar 2019 logo em março, quando desistiu do reencontro com Roger Federer em Indian Wells.

Entre dezenas de lesões e várias cirurgias, tornou-se tentador — e de certa forma compreensiva — descartá-lo em mais do que uma ocasião. Mas uma e outra vez o Rafael Nadal que ninguém imaginaria conseguir chegar sequer aos 1000 encontros oficiais disse “ainda não”, e uma e outra vez regressou para se superar.

E porque Paris se tornou a sua segunda casa, só poderia ser na capital francesa que atingiria mais um registo muito especial: semanas depois de se ter despedido da cidade da luz com o 13.º título de campeão de Roland-Garros, a ela voltou com a 1000.ª vitória da carreira em encontros de singulares.

Mais do que ele na história do circuito masculino, só Ivan Lendl (1068), Roger Federer (1242) e Jimmy Connors (1274).

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