Uma mensagem inferior a 280 caracteres foi suficiente para Roger Federer despertar o interesse da comunidade tenística: no Twitter, o suíço de 38 anos considerou o ténis um desporto demasiado confuso e demonstrou interesse numa fusão entre a ATP e a WTA — uma visão que não é nova mas que pode estar a ganhar, pela primeira vez, o interesse necessário para se materializar. O aval positivo chegou rapidamente de nomes como Rafael Nadal, Boris Becker, Simona Halep, Garbiñe Muguruza.
“Estou aqui a pensar… Serei o único a achar que está na altura do ténis masculino e o ténis feminino se unirem e passarem a ser um só?”, escreveu o atual número 3 do mundo, num registo bem mais sério do que aquele em que habitualmente comunica naquela rede social — ainda há dias passou horas a interagir com os seguidores com recurso a “gifs”.
A primeira mensagem suscitou de imediato inúmeras dúvidas e Federer foi rápido a dar-lhes seguimento: “Estou a pensar numa fusão entre a ATP e a WTA. Não estou a falar de unir a competição no court, mas unir as duas entidades que supervisionam os circuitos profissionais masculino e feminino.”
Apesar de surpreendentes para a esfera pública, os comentários do suíço provavelmente significam que “nos bastidores” esta já é uma jogada a ser considerada.
Tweet após tweet (e entretanto já com a “aprovação” de nomes como o de Boris Becker), Federer continuou a desenvolver sobre o assunto. “O ténis é muito confuso para os fãs porque há sistemas de ranking diferentes, logótipos diferentes, websites diferentes e categorias de torneios diferentes.”
E não hesitou em avisar: “Estes são tempos difíceis para todos os desportos e nós podemos sair disto com duas entidades enfraquecidas ou uma entidade mais forte.”
Federer sabe que não é fácil, mas não é impossível. E por isso, já de volta ao seu registo habitualmente mais descontraído naquela rede social, respondeu de forma otimista a um seguidor que lhe disse que estava a abrir uma lata de lagartas: “as lagartas transformam-se em borboletas”, ou, fazendo justiça ao que o suíço realmente tweetou, “🛢 🐛 🐛 = 🦋”.
No squash, os responsáveis tomaram uma decisão semelhante (e histórica) ao que o helvético propõe em novembro de 2014, quando uniram esforços e passaram a atuar numa só organização — a Professional Squash Association (PSA).
E se há alguém que tem o poder de catapultar tal transformação no ténis…
Visão de Federer é semelhante à do novo Presidente da ATP
Os argumentos apresentados esta quarta-feira por Roger Federer coincidem com os de Andrea Gaudenzi, o novo Presidente da ATP, que apesar de não referir especificamente uma fusão diz que o ténis tem “tudo a ganhar” se a colaboração entre as várias entidades aumentar consideravelmente.
“Estamos a enfrentar um cenário muito complexo, mas sou otimista e tento vê-lo pelo lado positivo, que é a colaboração que tem gerado entre todos os agentes responsáveis pelo ténis. Estamos todos a unir-nos para discutir o calendário, formas de seguirmos em frente e ajudarmos os jogadores. Este pode ser o resultado positivo da situação que estamos a enfrentar — a ATP, a WTA, a ITF e os torneios do Grand Slam estão finalmente a unir-se e a colaborar tendo em vista o futuro do nosso desporto a longo prazo”, disse.
“Temos de dar aos fãs uma experiência melhor. Temos de nos focar neles em primeiro lugar, sobretudo em termos de media e distribuição de informação. Os jogadores e os torneios têm passado grande parte do tempo, energias e recursos a tentar resolver conflitos internos quando na verdade a nossa competição está ‘lá fora’. Competimos com os outros desportos, com as outras plataformas de entretenimento, por isso precisamos de trabalhar em conjunto, sobretudo com a WTA, a ITF e os torneios do Grand Slam, para podermos investir em mais tecnologia e inovações e darmos uma experiência melhor a todos.”
Questionado sobre a importância dos circuitos ATP e WTA trabalharem mais vezes ‘lado a lado’, Gaudenzi respondeu que o considera “extremamente importante e, na verdade, uma das nossas maiores vantagens em relação à competição [os outros desportos]. Não só o ténis feminino também é um grande produto, como a nossa audiência se divide de forma igual entre homens e mulheres. Acredito que os eventos combinados são muito melhores para quem está no terreno e para quem os acompanha à distância. São excelentes, a variedade é excelente e os fãs adoram-nos. Os outros desportos deviam olhar para o que já fizemos e acho que [haver maior cooperação] é extremamente importante e uma enorme oportunidade.”
Última atualização às 19h04.