Uma madrugada, duas despedidas: campeã em 2018, Caroline Wozniacki lutou mas não conseguiu ir além da terceira ronda do Australian Open e assim colocou um ponto final numa grande carreira que continua a dividir opiniões. Mas a grande surpresa da madrugada foi a eliminação de Serena Williams, a vencedora de 2003, 2005, 2007, 2009, 2010, 2015 e 2017, que parecia pronta para atacar o tão desejado título número 24 em Grand Slams.
“Café da manhã” é o nosso resumo de tudo o que acontece durante a madrugada em Melbourne Park. Para os que se esqueceram de tomar café, para os que o beberam mas não ficaram noite dentro e até para quem viu tudo.
Para a dinamarquesa, a história foi encerrada com um pedaço de história para a adversária e toda uma nação: Ons Jabeur, a número 78 do mundo, venceu por 7-5, 3-6 e 7-5 para se tornar na primeira tenista da Tunísia — homem ou mulher — a chegar aos oitavos de final de um dos quatro maiores torneios do mundo.
Foi uma grande batalha de parte a parte, uma característica comum às maiores das lutas travadas por Caroline Wozniacki, que teve de ser paciente e esperar 9 anos entre a primeira final em Majors (no US Open de 2009, que perdeu para Kim Clijsters) e o primeiro — e único — título que finalmente lhe permitiu colocar na gaveta grande parte das críticas e pressão que marcaram a sua carreira: foi neste mesmo Australian Open, em 2018, e graças a uma, imagine-se, tremenda e inesquecível batalha ganha contra Simona Halep.
Naquele dia, a dinamarquesa de 29 anos atingiu o patamar que lhe faltava para cumprir aquele que esta sexta-feira descreveu como “o meu grande sonho de criança”: ser número 1 mundial, ganhar muitos títulos e um torneio do Grand Slam.
Fez tudo isso ao mesmo tempo que se transformou numa das jogadoras com maior popularidade fora e dentro do court e construiu um império a que agora se dedica por completo. Foi essa a razão da despedida — a vontade de aproveitar tudo o que a vida tem para lhe oferecer ao lado do marido David Lee, também ele um ex-desportista profissional muito bem sucedido (na NBA, a liga norte-americana de basketball).
E o fim chegou de forma previsível, com um erro não forçado na pancada de direita, a mais frágil do arsenal de Caroline Wozniacki. Agora é hora de outros voos.
Se a despedida de “Miss Sunshine” já era esperada — seria uma questão de mais ou menos dois dias — a de Serena Williams chegou como uma verdadeira bomba.
A norte-americana começou o ano em Auckland a conquistar o primeiro título desde o regresso aos courts como mamã e depois de quatro finais perdidas em torneios do Grand Slam parecia mais pronta do que nunca para finalmente atacar o 24.º título que há muito persegue, título esse que faz parte da missão de destronar Margaret Court para cortar pela raiz a mínima possibilidade de ver o seu recorde ser contestado — há muito que se tornou na jogadora com mais títulos ganhos na Era Open, mas a sua fome de títulos e história é insaciável e quer chegar ao recorde que também considera os títulos conquistados no período anterior.
Talvez tenha sido a pressão (foi talvez o torneio em que a entourage da norte-americana mais assumiu a vontade de vencer), talvez apenas um dia mau.
Certo é que a derrota na terceira ronda se traduz no pior resultado de Serena Williams (a par da prestação na última edição de Roland Garros) em torneios do Grand Slam desde o regresso aos courts, na primavera de 2018.
A responsável foi a chinesa Qiang Wang, que há muito provou o seu valor e esta madrugada colheu os frutos de muitos anos de trabalho para vencer por 6-4, 6-7(4) e 7-5 ao fim de 2h40 de encontro.
A número 29 do mundo entrou melhor, foi muito agressiva e sobretudo muito eficaz. De tal forma que com algum conforto chegou rapidamente a una vantagem de 6-4 e 5-3.
Entre a espada e a parede, Serena Williams ainda conseguiu reagir e bem ao seu estilo agarrou-se com tudo à situação. Mas parecia escrito nas estrelas: apesar de ainda ter forçado un terceiro e decisivo parcial, a norte-americana não conseguiu abalar o foco da tenista asiática e mesmo mantendo a pressão acabou por cair.
Desde o Australian Open de 2017, há exatamente três anos, que Serena Williams não coloca as mãos no troféu de campeã de um torneio do Grand Slam. Pelo meio passaram-se 12 eventos que se traduzem no maior jejum da carreira da campeoníssima desde que se estreou a ganhar a este nível.
E assim, para surpresa das surpresas, nem Caroline Wozniacki nem Serena Williams vão marcar presença naquele que era o embate dos oitavos de final mais antecipado e que prometia reunir as atenções de todo o mundo.
Ah, ténis!