O passar do testemunho. Quando Serena Williams, de 37 anos, assistiu à exibição de Bianca Andreescu, de 19, poderia perfeitamente estar a imaginar-se a si própria há muitos anos atrás. Poderosa, impiedosa e corajosa, Andreescu provou uma vez mais que não é uma promessa, mas sim uma certeza. E assim, a canadiana é a nova campeã do US Open, depois de derrotar a norte-americana com os parciais de 6-3 e 7-5.
Fosse qual fosse o desfecho da partida, um pedaço de história estava garantido esta noite. Em caso de vitória, Serena igualaria o recorde de títulos do Grand Slam de Margaret Court (24), enquanto que Bianca Andreescu tinha a possibilidade de conquistar o seu primeiro Major.
A canadiana, com aquela irreverência típica dos jovens, entrou focada e quebrou o serviço de Serena Williams logo no primeiro jogo, com alguma ajuda de duas duplas faltas consecutivas da ex-número um do Mundo. A expressão facial de Andreescu dizia tudo: a canadiana não estava em court para ser apenas mais uma na longa lista de “vítimas” da mais nova das irmãs Williams.
Com muita qualidade na resposta, apresentando uma profundidade de bola que complicou muito a vida a Serena, sobretudo no segundo serviço, Bianca esteve sempre mais perto de conseguir um novo break do que Serena de recuperar o que tinha em atraso. E mesmo quando a esquerda ao longo da linha de Serena funcionava e deixava Andreescu em dificuldades, a canadiana logo respondia com um serviço potente e que decidia logo ali o ponto.
O segundo set começou de forma semelhante ao primeiro, com Bianca Andreescu a conseguir o break numa fase inaugural. No entanto, e com alguma sorte à mistura, Serena Williams conseguiu o contra-break com uma direita que bateu na tela e caiu lentamente para o lado de lá do court. Apesar da desvantagem recuperada, a expressão de Serena não mostrava grande satisfação, talvez porque já estivesse a prever o que se seguiria: novo contra-break, desta feita a favor de Andreescu.
A noite estava destinada para a jovem de 19 anos. Em determinado momento, o ar concentrado de Andreescu desapareceu, e Serena aproveitou para recuperar terreno: a norte-americana anulou um championship point, quebrou o serviço de Andreescu, confirmou o break com o seu jogo de serviço e voltou a conseguir o break de seguida. De repente, Serena estava de volta a servir para se manter no encontro e os dois breaks de vantagem de Andreescu tinham sido perdidos.
No entanto, o serviço continuou a não estar perfeito. Serena conseguiu chegar ao 5-5, mas pelo meio foi alternando ases com duplas-faltas, o que demonstrou ainda alguma dificuldade numa pancada que ao longo da carreira lhe deu tantas alegrias. Porém, o olhar da antiga líder do ranking mundial era agora outro e demonstrava a existência de alguma confiança. Do outro lado da rede, Bianca Andreescu procurava esconder o nervosismo e recuperar a concentração.
O serviço ajudou a canadiana, que conseguiu regressar ao marcador ao mesmo tempo que soltava mais um “come on!” e obrigava Serena Williams a servir pela terceira vez para se manter na discussão da final. E à terceira… foi de vez. Serena não conseguiu evitar que a adversária concluísse o trabalho, e ao fim de uma hora e 41 minutos, o desfecho foi inevitável: a nova estrela do circuito feminino tocou o céu debaixo dos holofotes do Arthur Ashe Stadium.
Bianca Andreescu já sabia antes da final que, fosse qual fosse o desfecho, iria sair de Flushing Meadows com um novo máximo de carreira e bem dentro do top-10. Agora, a tenista canadiana, que é filha de pais romenos, sai de Flushing Meadows com a certeza de que será a nova número cinco mundial na próxima segunda-feira, com o primeiro Grand Slam na bagagem e com o estatuto de primeira tenista do Canadá a vencer um Major.