Serena Williams, 36 anos.
Naomi Osaka, 20 anos.
Quando uma chegou à primeira final em torneios do Grand Slam, a outra ainda não sabia o que era uma raquete de ténis. Hoje, uma já é mãe e tem um dos maiores legados da história do desporto, enquanto a outra ainda não se despediu totalmente da adolescência e ainda tem uma longa aventura pela frente. A final de singulares femininos do US Open 2018 é um verdadeiro choque de gerações mas, curiosamente, as histórias das jogadoras estão ligadas.
E começamos por aí: se Serena Williams não fosse quem é, Naomi Osaka muito provavelmente não seria jogadora de ténis profissional. Filha de mãe japonesa e de pai haitiano, tem na mistura das três culturas a sua identidade. E foi precisamente com a mudança para a Flórida, nos Estados Unidos da América, que tudo começou – graças a um plano concebido pelo pai, Leonard François, que se inspirou no pai… Das irmãs Williams.
A caminhada de Venus e Serena Williams – então com 18 e 17 anos – rumo ao título de pares em Roland Garros no ano de 1997, que acompanhou pela televisão, fez Leonard François começar a pensar no ténis como futuro para as suas filhas. E porque ele até já tinha dado uns toques de raquete na mão, ao contrário de Richard Williams, porque não?
Estavam dados os primeiros passos – e que passos. Graças a Venus e Serena Williams, não tardou até que Naomi e Mari Osaka começassem a trocar as primeiras bolas. Começaram num court gratuito, já na Flórida, com DVDs adquiridos pelo pai e, claro, muitas bolas batidas contra a parede. Com tão tenra idade, naquela altura era a habitual motivação de vencer a outra irmã que as animava, mas não demorou até que o ténis se tornasse na vida de ambas.
Agora, quase duas décadas depois, aqui está Naomi Osaka. É a primeira tenista da história do Japão a garantir uma vaga na final de singulares femininos de um torneio do Grand Slam e vai defrontar a sua ídola, contra a qual lidera o frente a frente: a vitória no único encontro entre ambas até à data aconteceu este ano, também em solo norte-americano (na primeira ronda do torneio de Miami), por 6-3 e 6-2.
Naomi Osaka é uma das jogadoras mais divertidas do circuito. Por trás da timidez que aparenta, consegue colocar jornalistas, fãs e outros que tais a rir em praticamente qualquer contexto graças às suas respostas genuínas, como aquela que deu logo depois de se apurar para a final do US Open: “Gosto muito de ti” foi a mensagem que lhe saiu quando questionada sobre o que quereria dizer a Serena Williams naquele momento, quando falava para uma plateia de 24.000 espetadores no Artur Ashe Stadium e muitos mais através da televisão.
Dentro do campo, a ingenuidade desaparece. Os 20 anos deixam de contar e Naomi Osaka transforma-se numa jogadora séria, com um poder de fogo invejável e uma capacidade de reação admirável. Características necessárias para, em pleno prime time, fazer frente a uma tenista como Serena Williams. Afinal, há maior desafio do que defrontar a norte-americana na final do US Open?
Nesse sentido, não há surpresas: aos 36 anos, Serena Williams já por várias vezes deu provas de ser capaz de alcançar quase tudo aquilo com que sonha. E há muito pouco a separá-la do tudo absoluto: se vencer, terá nas mãos o 24.º troféu de campeã de um torneio do Grand Slam (em singulares), número que a colocaria lado a lado com Margaret Court no topo da lista.
É essa uma das últimas barreiras (senão mesmo a última) da carreira de uma das mais recentes mamãs do circuito. Porque se já há algum tempo lidera a lista de jogadoras com mais títulos do Grand Slam na Era Open, Serena Williams quer acabar com todas as possibilidades de conversa (que surgem sobretudo do outro lado do mundo, onde os australianos não esquecem, naturalmente, os feitos da sua jogadora) – quer tornar-se na melhor tenista da história, como aliás a Nike já a apelidou.
Por isso, há mesmo muita história em jogo nesta final. História para os Estados Unidos da América, história para o Japão, história para o mundo. Qualquer uma quer ganhar, qualquer uma pode ganhar e por todas estas razões promete ser uma final encantadora, com emoção do início ao fim numa perseguição sem igual a vários capítulos históricos.
O primeiro serviço é dado às 21h de Portugal Continental (menos uma hora nos Açores) e o encontro conta com transmissão em direto no canal Eurosport.