João Sousa: “Alcançar o segundo título ATP era uma das prioridades da época”

É o melhor tenista português de todos os tempos, o Conquistador, o número 33 do ranking mundial ATP. Depois da sua melhor época de sempre no circuito masculino, em que disputou quatro finais e conquistou o seu segundo título, João Sousa é o entrevistado do Ténis Portugal neste final de temporada. Diretamente de Barcelona, o vimaranense reflete sobre o ano de 2015 e fala dos objetivos para a próxima época.


ENTREVISTA

– Como foi viver e disputar toda a época de 2015? Que balanço fazes deste ano?

O balanço é positivo. Poucos jogadores no circuito fizeram quatro finais esta temporada e realmente foi uma época de êxito não só por ter alcançado as finais mas também em termos de nível de jogo. Acho que tenho evoluído muito no meu jogo e isso é bastante importante. Estou contente porque conseguir alcançar o meu segundo título ATP era uma das prioridades desta época. Foi ‘nas últimas’ mas conseguimos fazê-lo e estou muito contente por ter alcançado esse objectivo e ainda a minha melhor marca no ranking [33.º].

– Qual foi a primeira coisa em que pensaste no instante em que a bola do Roberto Bautista caiu fora do campo no match point em Valência? Consegues colocar em palavras?

Foi um conjunto de emoções muito fortes como alívio, satisfação, alegria e orgulho. É um bocadinho inexplicável mas trabalhámos muito forte para que este torneio corresse bem, o Carlos fez um excelente trabalho durante toda a semana, o Frederico também, quer mental quer tacticamente e durante todo o ano e todo o esforço tem a sua recompensa. Foi muito bom poder ter acabado a época desta maneira e fico muito feliz por ter conseguido este segundo título.

– Estás no teu melhor ranking de sempre e às portas do top30. É este um dos teus principais objectivos para 2016? 

Eu não gosto muito de falar de rankings, sinceramente. Acho que o ranking é um espelho dos resultados mas também do trabalho que nós temos desenvolvido e portanto este ano subiu bastante mas olho mais ao nível de jogo que tenho vindo a exibir. Se calhar na relva não fui tão consistente mas consegui ser no resto do ano e fico muito contente pelo nível de jogo que apresentei. Este ano vou trabalhar ainda mais para que possa aumentar esse nível e ser ainda melhor jogador.

– Quais são as principais diferenças do João Sousa de 2012 para o João Sousa de 2015? O que é que mudou e mais teve influência na tua evolução?

Há um conjunto de melhorias, tanto técnicas como tácticas e a nível psicológico também estou mais maduro e habituado ao circuito. Tudo isto conta para que seja melhor jogador e sem dúvida que a classificação [33.º], o espelho do trabalho feito, demonstra que nos dias de hoje sou melhor do que no ano passado. Estou contente por estar a evoluir e sinto que posso continuar a fazê-lo, o que é muito importante.

Estatísticas 2012-2015

– Vais passar algum tempo da pré-época a treinar com o Rafael Nadal. Quais são os aspectos que mais pretendes trabalhar e em que é que sentes que esses dias mais te poderão ajudar?

A possibilidade de poder privar não só profissionalmente mas também pessoalmente com o Rafa é uma excelente oportunidade e vou aproveitar ao máximo para aprender a nível profissional. Já sei como é que ele treina, é um trabalhador nato, e eu também vou trabalhar muito.

Vai ser uma óptima semana em que vou aprender em muitos aspectos. Como digo, ainda tenho muitas coisas a melhorar e acredito que tanto eu como a equipa técnica vamos continuar a trabalhar para que eu possa evoluir como jogador e conseguir atingir os objectivos da próxima época.

João-Sousa-Nadal

– 2016 é um ano especial porque é um ano olímpico. O que é que significaria para ti estar nos Jogos Olímpicos do Rio e representar Portugal numa competição como esta?

Participar nos Jogos Olímpicos é um dos objectivos desde que eu e o Frederico falámos sobre isso em 2014. Estou muito perto [de conseguir a qualificação] mas ainda não é garantido. Se o conseguir vai ser muito bom para mim porque poder participar nos Jogos Olímpicos será um motivo de orgulho. Ser atleta olímpico é extraordinário e há poucos atletas que possam dizer isso por mérito próprio, portanto será um grande prazer não só jogar mas também representar Portugal mais uma vez e privar com os melhores do mundo nas diversas modalidades.

– Falaste em representar Portugal mais uma vez depois de em 2015 a selecção nacional ter somado três vitórias em três eliminatórias na Taça Davis. Que recordações especiais guardas destes três embates em que participaste e que expectativas tens para 2016?

O objectivo principal é subir ao Grupo Mundial. Esse era o objectivo que todos tínhamos em mente [no início dos trabalhos]. Não é fácil e estamos conscientes disso, temos uma primeira eliminatória em casa muito difícil frente à Áustria, que conta com excelentíssimos jogadores que eu conheço muito bem e já defrontei em diversas ocasiões portanto vai ser uma eliminatória muito difícil mas temos a vantagem de jogar em casa, com o público a favor, as condições de que mais gostamos e vamos lutar para que possamos passar esta eliminatória e mais tarde pensar em poder alcançar o tão desejado Grupo Mundial. Acredito que [a ‘chave’ para o sucesso] passa por pensar e vencer eliminatória a eliminatória e não pensar já no Grupo Mundial.

Portugal-Taça-Davis

– Gostavas de jogar em Guimarães? Tens esse sonho?

Pelo que tenho entendido é uma das opções fiáveis mas sinceramente não sei como é que o assunto está. Poder jogar em Guimarães é especial para mim. Obviamente que já é especial representar Portugal mas se o fizer em casa, em Guimarães, vai ser ainda mais. Vamos ver como é que as coisas correm, a Federação Portuguesa de Ténis tem estado em negociações e brevemente saberemos qual é o local.

– O Frederico Marques disse-me recentemente que vão apostar em torneios maiores no próximo ano e por isso pergunto-te: o que é que falta para chegares mais longe em torneios do Grand Slam e Masters 1000?

Os torneios do Grand Slam e os Masters 1000 têm quadros muito difíceis porque são obrigatórios e estão lá os 40 melhores do mundo e todos os jogadores querem jogar bem e fazer um bom resultado. Acho que a evolução passa por ter mais experiência a esse nível. Já estive dois anos a disputar os torneios, só não joguei em Paris-Bercy, e por isso já sei como funcionam os torneios e conheço as condições.

Tenho vindo a fazer excelentes épocas nos ATP 250 e temos realmente como objectivo fazer também bons resultados nos torneios grandes. Espero consegui-lo.

– São já sete finais e ainda tens 26 anos. Tens metas de carreira definidas, números que um dia gostasses de ver no teu currículo?

Não, não. Eu gosto de viver o presente, não gosto de pensar muito no futuro e todos os anos tanto eu como a minha equipa técnica expomos os nossos objectivos e felizmente até hoje temos vindo a alcançá-los. São objectivos bastante realistas.

João-Sousa-2

– Voltando um pouco atrás, o domingo em que venceste em Valência foi histórico para o ténis português (Gastão e Fred. Silva). Como é poderes fazer parte de uma – não só mas desta em particular – página tão dourada?

Foi um dia inesquecível que, esperando eu que não seja assim, vai ser difícil de voltar a acontecer proximamente. Tivemos um jogador a ganhar um Future, um a ganhar um Challenger e outro um ATP e isso é extraordinário e uma verdadeira página de ouro no ténis português. Sinto muito orgulho por poder pertencer a esse dia e imagino que os meus colegas, tanto o Gastão [Elias] como o Frederico [Silva], sentem a mesma coisa.

– Desde 2015 que Portugal tem uma nova identidade no circuito mundial, o Millennium Estoril Open, e pelo país já se vêem cartazes com retratos teus. Quais são as tuas impressões do torneio e o que é que esperas do próximo ano?

No ano passado fiquei muito surpreendido porque foi um evento de eleição e para o pouco tempo que as pessoas que estão por trás do evento tiveram para o organizar foi muito bem realizado.

Havia muitas expectativas para que eu fizesse um bom torneio e perder na primeira ronda foi triste para a organização, a que pertence a empresa que gere a minha imagem, mas sei que todas as partes estão a fazer um excelente trabalho para que o Millennium Estoril Open seja um evento de eleição em 2016, acredito no valor das pessoas da organização e vai ser um torneio ainda melhor do que o deste ano.

Eu espero fazer um resultado ainda melhor. Pior é impossível, portanto melhor vai ser sempre melhor e bem vindo [risos].

– Há algum torneio em particular onde gostasses de jogar uma final?

Seria ótimo poder jogar a final do Millennium Estoril Open!

João-Sousa-Estoril-Open

– Como é que é o João Sousa fora do court? Quais são as coisas que mais gostas de fazer para descansar do ténis?

Quando estou em Barcelona ou Guimarães tento passar algum tempo com os meus amigos e a minha família porque como viajo muito é difícil para mim estar com eles durante o ano.

Gosto muito de estar com a minha namorada e as pessoas de que mais gosto porque como disse não tenho muito tempo para o fazer. Também gosto muito de ir ao cinema e agora tenho uma nova ‘mascote’ em casa que me dá algum trabalho.

– Como é que vês o circuito actualmente e principalmente o top10 mundial? Acreditas que depois desta época o Novak Djokovic vai continuar a dominar?

O Novak Djokovic tem vindo a jogar melhor e melhor e a apresentar um nível impressionante durante os últimos anos. Fez uma época inacreditável em que só não ganhou Roland Garros porque acusou um pouco a pressão na final contra o Stanislas Wawrinka e tem deixado toda a gente de boca aberta com o nível que apresenta em todos os torneios por onde passa.

Hoje em dia acho que o circuito é muito exigente: Há quatro jogadores de topo, o Novak Djokovic, o Rafael Nadal, o Roger Federer e o Andy Murray, os Big Four, como lhes chamam, e é difícil escalar posições no ranking e ganhar torneios. Por vezes as pessoas não são conscientes em relação ao quão difícil é alcançar esses feitos.

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