Domingues e Elias ou também o “eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes que tu sabes que eu sei”

Eduardo Oliveira/FPT

BRAGA – Não, não há nenhum erro no título da notícia. A frase é da autoria de Gastão Elias na conferência de imprensa de rescaldo à derrota frente ao compatriota e amigo João Domingues. A expressão séria dita a brincar explica o desafio de defrontar alguém que se conhece tão bem e foi esse mesmo desafio que ambos viveram esta terça-feira, ainda por cima com mudanças bruscas de condições em relação ao inicialmente previsto. Só um sorriu no final e esse foi Domingues, campeão neste mesmo Clube de Ténis de Braga em 2019.

“Jogar contra um amigo é difícil”. A citação é, vistas bem as coisas, de ambos. Os dois garantem, também, que não há qualquer ambiente mais estranho mal se saiba que os caminhos se cruzam. Tudo absolutamente igual, o almoço até foi em conjunto. Os segredos são nulos, como se cada um soubesse o que o outro vai fazer a determinada altura, a determinada situação de um encontro. Essa sabedoria pode é até complicar o discernimento, porque do outro lado está alguém que sabe o mesmo.

Conhecer bem alguém é o “eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes que tu sabes que eu sei”, conta Elias entre risos, exemplificando com um ponto importante a 4-1 no tie-break do primeiro parcial. “É isto que tens de pensar em 0,000001 segundos. Há momentos em que pode correr mal”, como correu naquele preciso momento, isto na prespetiva do mais experiente dos dois, que acabou por ceder no encontro da primeira ronda do Braga Open por 7-6(4) e 6-1.

Não foi, por isso, surpreendente os dois terem considerado a mudança do embate para recinto coberto, em relação à ordem de jogos primeiramente libertada mas que era irrealista face à intempérie que se sabia vir a acontecer, favorável a Gastão Elias, teoricamente falando. João Domingues disse ter “um mau ratioem indoor, Gastão Elias considerou que teria sido “mais difícil lá fora em condições mais lentas” aguentar o confronto.

O antigo 57.º ATP e recordista português de títulos (10) e finais Challenger (23) não pareceu no pleno das capacidades físicas, observação inclusivé feita pelo próprio amigo e adversário. Elias não quis entrar em detalhes nem arranjar desculpas, apenas admitiu que a preparação “não foi a melhor”, referindo-se quer ao Braga Open quer ao Del Monte Lisboa Belém Open da semana anterior. Algo que o deixa “triste”, mas deu “o máximo que é o mínimo que se espera”.

Agora, o conhecimento mútuo não fazia prever a mudança tática operada pelo mais velho (33 para 30). O tenista natural da Lourinhã apareceu mais afoito, sempre na tentativa de encurtar os pontos o máximo possível. Não andou longe do sucesso no primeiro set (serviu a 5-3 e no tie-break liderou por 4-1), a partir do deslize o oliveirense “pisou no acelerador e não deu hipóteses”.

Afinal, falamos de “companheiros de torneios, viagens, treinos” ou até de colegas de seleção. A surpresa tática deu-se, segundo o operador, devido ao jogo de João Domingues. “Ele gosta mais de consistência, pontos largos e de fazer o adversário correr. Sabia que podia explorar um pouco esse lado um pouco mais passivo dele. E sabia que não estava pronto para um encontro longo e que tinha de dar tudo no primeiro set. Estive bem, mas tive algumas falhas que não podem acontecer a este nível e ele esteve muito bem, muito sólido”.

O confronto 100% nacional ditou um tenista da casa na segunda ronda, mas olhando para o outro lado da moeda impediu a possibilidade de haver outro na segunda eliminatória, como salientou o vencedor. Sobretudo negativo depois das derrotas na mesma jornada de Frederico Silva e Henrique Rocha.

Jaime Faria e Pedro Araújo têm estreia agendada para esta quarta-feira, dia de conclusão da primeira ronda. Certa é a presença de João Domingues num duelo de acesso aos quartos de final frente a um dos favoritos ao título, o colombiano Daniel Galan. Um encontro que o segundo campeão do torneio bracarense, agora já com 11 triufos nas seis edições da competição (recordista da prova), deseja ser ao ar livre, condições mais favoráveis ao explanar do ténis que o levou ao posto 150 da tabela ATP em 2020 e a três troféus no ATP Challenger Tour.

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