PORTO — O Clube de Ténis do Porto e o Complexo Desportivo do Monte Aventino estão separados por apenas 3km, mas Rodrigo Cruz estava a anos luz do primeiro quando, a competir no segundo, recebeu um telefonema incógnito. Numa questão de dias, o desconhecido tornou-se em parceiro e foi ao lado de Francisco Rocha que viveu a estreia vitoriosa em torneios do circuito Challenger ao apurar-se para os quartos de final da CT Porto Cup.
“Foi muito estranho. Eu estava a jogar o Campeonato Nacional de Sub 18, fui almoçar à Praça de Velásquez e nessa altura recebi um telefonema de uma pessoa que não sabia quem era, não tinha o número guardado. Era o Francisco a dizer-me que tinha um wild card para este torneio de pares e a perguntar-me se eu queria jogar”, contou aos jornalistas numa conferência de imprensa marcada pela inocência de quem ainda não está habituado a estes momentos.
“No início fiquei sem reação e disse-lhe que lhe ligava passados dois minutos. Depois fiquei a pensar ‘porque é que eu não respondi logo que sim?’, então liguei-lhe e disse-lhe logo que sim”, acrescentou o jovem de apenas 16 anos — é o atual detentor desse título nacional, que já não pode defender — entre muitos sorrisos dos dois lados da mesa. “Foi um bug cerebral, não sabia o que havia de fazer, disse que já lhe ligava, mas foi só pensar e liguei-lhe logo.”
O convite inesperado de um jogador que não conhecia apoderou-se dos pensamentos e já não o largou durante o resto da campanha no Monte Aventino, onde terminou como vice-campeão nacional de sub 18. Deveriam seguir-se “uns dias de férias”, mas surgida a oportunidade não hesitou e… “até correu bem”.
O sorteio colocou-o frente a frente com “dois jogadores que já vi várias vezes na televisão” e fê-lo sentir “muito respeito” e “muito nervosismo”, mas superada uma entrada para esquecer deu-se a reviravolta que originou um dia inesquecível.
Nas bancadas estiveram treinadores, colegas de treino e familiares que o surpreenderam e acrescentaram um toque sentimental a um dia especial para o tenista do Sport Clube do Porto, mas que é outro filho da cidade berço.
“Sempre vivi em Guimarães, só no ano passado é que vim viver para o Porto porque a logística é muito mais fácil. Os meus colegas de treino começaram a sair de lá aos poucos e as viagens tornaram-se muito longas e muito cansativas”, explicou. Lá cresceu a ver jogar e tirar fotografias com o ídolo João Sousa e as irmãs Francisca Jorge e Matilde Jorge, mas os planos a curto prazo apontam para que também o Porto tenha um prazo de validade: “Gostava de ir para os Estados Unidos da América. Aqui em Portugal não vejo muitas soluções para acompanhar a escola com o ténis, só o CAR. Ainda não sei se me candidato e se me aceitam ou se vou para os EUA”, escolha influenciada pelo exemplo de Nuno Borges, mas também do irmão mais velho.
Rodrigo Cruz vai continuar jornada inesperada esta quinta-feira às 10h30 no encontro que abre a programação do Court Central da CT Porto Cup.