Meia-final em Portugal é a recompensa de Mladenovic pela decisão difícil

Beatriz Ruivo/FPT

FIGUEIRA DA FOZ — Mesmo perante o constante vocifrar dos desejos de participar pela quarta vez nos Jogos Olímpicos aquando de passagens anteriores por Portugal, Kristina Mladenovic optou pela decisão difícil de falhar o apogeu do desporto, mais difícil por se tratar de um certame na capital do seu país. Do mal o menos, as meias-finais no Figueira da Foz Ladies Open e consequente qualificação para o qualifying do US Open afastam qualquer tipo de arrependimento. Mas não de tristeza.

“Era suposto estar na equipa para os pares, mas tomei a decisão de desistir. Tenho tido problemas de saúde, já tenho 31 anos, não 21. Estou a tentar regressar ao topo e a transição de superfícies é difícil. Não era a decisão certa ir, o que não invalida que não tenha ficado triste, até porque era um objetivo para este ano. Mas foi a decisão certa, tenho de colocar a saúde em primeiro. Não podia comprometer objetivos ao piorar a minha condição física”, explicou a francesa em conferência de imprensa.

A decisão levou-a a noites em branco e até a menor rendimento desportivo. “Fiquei semanas a fio a pensar nisso”, contou. A série de oito derrotas consecutivas com que chegou à segunda participação na Figueira da Foz, a última das quais a semana passada no Eupago Porto Open, não ajudou o estado de espírito. Mas no photofinish do apuramento para a qualificação do derradeiro Grand Slam da temporada, Mladenovic tirou da cartola um bilhete para o penúltimo dia da prova. “Se não jogasse tão bem podia arrepender-me, assim tenho a recompensa”.

Apesar da decisão divergir dos desejos vocifrados, há algo que se mantém coerente: o desejo de voltar a um nível herárquico mais condizente com o real valor que ainda ostenta. Antiga top 10 individual, vencedora de um título WTA em oito finais e com um dos melhores currículos de pares da atualidade (ex-líder e detentora de nove Grand Slams entre pares femininos e mistos), Kristina Mladenovic reforçou a ambição latente em conferências de imprensas anteriores por cá e, meio a brincar meio a sério, admitiu que a pressão por estar na semana final para o apuramento para Nova Iorque “extraiu o melhor” da agora 232 do ranking feminino – virtualmente está agora no posto 212, já bem mais confortável para essa seleção.

E a qualificação para o penúltimo dia não podia ter vindo da forma mais complicada. Foram nove sets disputados, dois match points salvos na primeira ronda e uma terceira vitória nesta sexta-feira arrancada num tie-break decisivo em quase três horas e meia de compromisso.

“Não estou fresca”, claro, mas está “feliz” e “orgulhosa” pelo que tem produzido no oeste do país. “Continuo a levar-me aos limites e ainda estou viva e tenho chance de competir mais uma vez”. E mesmo que outrora tenha estado no topo, “ganhar é ganhar”, seja a nível ITF seja na final arrecadada em São Petersburgo em 2017 ou nas finais dos palcos maiores da modalidade.

“Jogamos para isto, para abraçar os desafios e tentar encontrar soluções. O sentimento é o melhor quando há recompensa”, mesmo a entrar nos limites físicos e o trabalho agora passa por recuperar da melhor forma para medir forças com a grande amiga Lina Gjorcheska, adversária no acesso à final e parceira de jantares, ritual que se vai manter na véspera do duelo.

Apaixonada por Portugal, Kristina Mladenovic garantiu na Figueira da Foz a segunda semifinal de 2024, ambas em solo nacional depois do Oeiras Ladies Open de abril. “Quem me dera haver mais como vocês a investir esta energia noutros locais. Gostava que houvesse mais torneios em Portugal”.

O sucesso por cá fala por si – à meia-final de abril, onde também atingiu a decisão em pares, a já lenda francesa foi finalista do Porto Open em 2023 e 10 anos antes amealhou o antigo Estoril Open em pares. Os próximos dias dirão se o Figueira da Foz Ladies Open irá também integrar a galeria de luxo de Mladenovic.

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