Qual guião de Hollywood, o filme de Oeiras deu a Jaime Faria o final feliz que procurava e embalou-o para Paris com uma mala recheada de sonhos, mas também de objetivos cumpridos e de razões para celebrar.
Quatro semanas depois de ter ficado à porta do ambicioso objetivo a que se propôs nesta rápida transição dos hard courts em que dominou para a terra batida com que passou a sonhar, o jovem português de 20 anos fez tudo de uma vez: garantiu o qualifying de Roland-Garros e o de Wimbledon, entrou no top 200 e conquistou o primeiro Challenger de uma carreira.
Nem o melhor guionista conseguiria escrever o que Jaime Faria alcançou este sábado, com uma dramática vitória contra o sueco Elias Ymer na final do Oeiras Open 4 a provar que o desporto continua a superar a ficção.
“Estou muito feliz, muito realizado. Foi uma run inacreditável, tive muitas vidas ao longo do torneio.” Ainda com a voz a sair-lhe a custo já depois de ter batalhado com as emoções na flash interview que deu no court logo após a vitória, o lisboeta começou a pôr em palavras o que ainda oscilava entre o cérebro e o coração.
“Há quatro semanas senti um sabor amargo, senti que desiludi as pessoas todas e acima de tudo a mim quando perdi na meia-final, também num sábado. Mas queria sair por cima e consegui, aprendi a gerir outras emoções e é muito gratificante ganhar aqui em casa, neste campo tão especial e que é o mais emblemático do ténis português. É inacreditável”, acrescentou já depois de uma primeira análise ao embate em que derrotou “um bom amigo” que desde o início da semana adivinhou parte do final do filme.
Fervoroso sportinguista, Jaime Faria celebrou à Viktor Gyökeres a maior conquista da carreira, uma que foi a cereja no topo do bolo de uma semana dourada para a qual tinha “poucas palavras” e que, apesar de histórica, terá de esquecer rapidamente.
Afinal, quando este texto foi publicado já estava a caminho de Paris, o voo marcado para as 16 horas a fazê-lo correr contra o tempo para cumprir o sonho que “não saía da cabeça” e que “tentou evitar” durante toda a semana.
12.º português a ganhar um Challenger e 16.º a entrar no top 200, Jaime Faria será, dentro de algumas horas, o 17.º homem luso a ir a jogo num torneio do Grand Slam em singulares. O palco é Roland-Garros, acerca do qual começou a falar há um par de meses e que tanto desgaste psicológico lhe causou durante esta película que desafiou os limites da realidade porque, é importante relembrar, há menos de cinco meses ainda só estava no 411.º lugar de um ranking em que agora será o 183.º classificado e, portanto, o novo número dois nacional.
“Se me dissessem no início do ano que nesta altura do ano estaria aqui… não sei se acreditava, mas fui jogo a jogo, torneio a torneio, treino a treino e as coisas aconteceram. Estou a sentir-me muito bem e agora é aproveitar este momento e deixar fluir”, reconheceu.
As 2h30 de viagem entre Lisboa e Paris terão de ser suficientes para condensar tudo o que alcançou nos últimos dias.
Talvez ainda lhes junte “uma ida ao McDonald’s para festejar” com Pedro Sousa, que o acompanha até Roland-Garros para tentar fazer o que o treinador acabou por nunca conseguir (ultrapassar o qualifying e chegar ao quadro principal), mas depois será hora de dizer “c’est fini” e preparar as raquetas para a próxima rodagem.
Paris espera-o.