Tem sido um dos assuntos mais badalados do ano e esta segunda-feira ganhou relevo também na língua portuguesa ao ser abordado por Gastão Elias. O tenista luso juntou-se às muitas vozes críticas da qualidade das bolas utilizadas pelos circuitos profissionais, que considera ter piorado significativamente desde a pandemia.
“Exijo à ATP que pague toda a fisioterapia de que vou precisar depois de jogar com as bolas com que nos obrigam a jogar. Estou no circuito há muitos anos e nunca vi nada assim, isto é desumano”, escreveu o ex-número 57 mundial (atual 366) na rede social X, o antigo Twitter.
Mais tarde, ao Raquetc, Gastão Elias explicou que “a qualidade das bolas piorou muito desde a pandemia” e esclareceu que “não estou a ser crítico de uma marca específica, mas sim das bolas em geral porque estão claramente a utilizar materiais mais baratos e continuam a piorar.”
As críticas têm sido uma constante ao longo de 2023.
Durante o recente ATP 500 de Pequim, na China, Daniil Medvedev explicou que “assim que trocas umas quantas bolas elas tornam-se muito grandes e muito fofas, ficam do tamanho de uma toranja. Estamos basicamente a jogar pontos de 30 pancadas porque é quase impossível fazer um winner.”
O discurso de Elias desde Buenos Aires vai de encontro ao de Medvedev: “Estou há várias semanas a jogar com bolas que andam para trás e esta é a pior de todas. Estava injogável, grande, fofa… parecem bolas de mini-ténis, sem ar, e é preciso jogar todas as bolas com toda a força, o que depois de vários dias acaba por dar cabo do ombro.”
As bolas de que Medvedev se queixou eram Head e as que mereceram mais críticas de Elias foram fabricadas pela Dunlop, mas o problema diz respeito a todas as marcas — e é de tal forma grave que a discussão sobre a qualidade ultrapassou as críticas à excessiva rotatividade de modelos, ainda que esse continue a ser outro assunto muito referido.
Na mesma rede social, Taylor Fritz pegou nas críticas do tenista russo e acrescentou que “tenho lidado com lesões no pulso desde o começo da US Open Series por causa da mudança de bolas. Jogámos com três bolas diferentes em três semanas.”
Stan Wawrinka já se tinha juntado ao coro de críticas ao alertar para o facto de “cada vez mais jogadores terem lesões nos pulsos, nos cotovelos e nos ombros” e durante o US Open a checa Marketa Vondrousova, campeã de Wimbledon, disse que as bolas estiveram na origem da sua desistência do quadro de pares.
No início do ano, também Rafael Nadal se debruçou sobre o assunto ao criticar as bolas usadas no Australian Open: “Eles dizem que continuam a usar as mesmas, mas agora têm claramente pior qualidade. Depois de algumas pancadas perdem a pressão e torna-se mais difícil de bater na bola.”
Consciente de que “as bolas lentas vão sempre beneficiar mais um jogador do que o outro”, Gastão Elias acrescentou que “isso não quer dizer que não cheguem ambos ao final do jogo a achar que eram insuportavelmente lentas.”
Para o português, independentemente dos problemas físicos a que dêem origem as novas bolas “são melhores para os jogadores que têm mais força, ou para os que têm tendência para cometer mais erros e, como se diz na gíria, jogar ‘ao estouro’, porque esta bola quase não anda.”
As críticas foram concluídas com um desabafo: “O que é chato é que eu estava bastante irritado com o jogo [que perdeu na segunda ronda do qualifying], mas não por estar a jogar mal ou por estar a perder. Estava irritado por não conseguir sequer competir em condições. Estás numa luta que não é suposto teres. É suposto estares ali para te ires adaptando taticamente e arranjares soluções para o que o outro está a fazer, mas a única coisa em que pensas, ou que pelo menos eu penso, é em fazer com que a bola passe para o outro lado o mais profunda possível para que o meu adversário me deixe uma bola mais curta e eu consiga atacar. Mas mesmo assim a bola vai lenta e ele apanha-a, portanto tens de recomeçar tudo. Deixa de ser ténis e passa a ser um jogo de quem tem mais força.”