OEIRAS — 21 anos depois do penúltimo título ATP da carreira no Estoril Open, Karsten Braasch regressou ao Jamor para disputar o Campeonato do Mundo de Veteranos. Uma lesão no cotovelo atirou-o para fora da competição mais cedo do que o previsto, mas como a vida é para aproveitar ao máximo continua pelo complexo a ver ténis, a apoiar os compatriotas e a passar tempo com os amigos na esplanada, até porque está num dos países de eleição e o período das preocupações e da pressão já ficou para trás.
Os problemas físicos viajaram da Alemanha com Karsten Braasch, mas o regresso a Lisboa estava marcado na agenda desde que surgiu o convite da Federação Alemã de Ténis para capitanear a seleção de +55 anos, na semana passada. Mesmo que o prejuízo monetária seja evidente. “Dão-nos 500 euros por jogador, mas temos de pagar hotel, avião, comida. No final da semana perdemos dinheiro e nem sempre é possível vir a estas provas. Mas adoro jogar estes eventos. E se é num bom local quero ir”, salientou o jogador de 56 anos, que já em 2019 tinha vindo ao primeiro Campeonato do Mundo de Veteranos organizado pela Federação Portuguesa de Ténis, só que na altura os seus encontros foram realizados no CIF.
“Quando soube que era em Lisboa, disse logo que vinha” e o resultado foram “semanas muito divertidas”, nas quais a memória apurada foi testada. “Ganhei o título de pares neste local em 2002 com o Andrei Olhovskiy. Desculpa, Andrei, mas eu era muito, muito melhor do que tu”, disse, entre sorrisos, antes de confirmar os pergaminhos para evocar informação passada. “Nas meias-finais estivemos com 6-1 e 1-0 abaixo, com break. A partir daí não falhei uma bola e ganhámos 7-5 no segundo set e o encontro no match tie-break. Joguei incrivelmente na final. Lembro-me que na primeira ronda defrontámos o Nuno Marques [com o Hélder Lopes] e ganhámos no match tie-break. Essas memórias voltam sempre ao regressar. Recordo 80, 90% dos meus encontros passados, até de alguns pontos me lembro. Não era o melhor jogador, mas tinha um bom cérebro”.
O título no antigo Estoril Open foi o penúltimo de seis para Karsten Braasch ao mais alto nível, mas não só a semana no Jamor é lembrada com o maior carinho possível. “Estar em Portugal é sempre bom. Joguei de Norte a Sul, tive grandes experiências e tenho grandes memórias e histórias. Jogava sempre bem em Portugal, que é um país sempre especial para mim”. Quem sabe se um dia não se muda definitivamente de malas e bagagens para cá, até porque “as pessoas são amigáveis, a comida é ótima, o tempo é excelente. Há tantas coisas que adoro aqui, não há muitos países onde me sinta assim”.
Antigo 38.º ATP em singulares (36.º em pares) e finalista do torneio individual de ‘s-Hertogenbosch em 1994, o germânico é, claramente, o tenista com maior palmarés a competir nesta quinzena em Lisboa. Um currículo tão díspar dos restantes que foi inevitável levantar a questão sobre a motivação para jogar provas de veteranos. “Adoro competir. Ter um duelo mano a mano, não interessa se eles foram profissionais no passado. E os que não foram profissionais estão cada vez mais a sê-lo com o passar dos anos. Apenas adoro jogar. Já não jogo diariamente, só ensino ténis, mas vou para os torneios fazer o melhor que posso. Eu quero ganhar essa batalha e é por isso que estou feliz por jogar e quando acabo a ganhar é um prazer enorme, não interessa se eles foram profissionais no passado ou não. Trata-se de competir contra alguém e adoro competir. Se ganho estou contente, se perca fico contente na mesma porque as pessoas são simpáticas”.
Professor de ténis em dois clubes alemães, o canhoto de Marl afastou-se da parte competitiva da modalidade para “estar mais relaxado”. “Não quero telefonemas dos pais às nove e tal da noite depois das aulas. Apenas quero as partes divertidas do ténis”, afirmou.
Esquecido pela federação do seu país e afastado dos mais sonantes colegas de Taça Davis, como Boris Becker e Michael Stich, Braasch não se mostra otimista relativamente ao futuro do ténis na Alemanha. “Estamos numa posição difícil. Não há muitos top 100 e, no geral, há países a trabalhar mais e melhor do que nós. Por isso é que uma 75% do top 100 feminino vem de leste. Talvez não têm tanto talento e têm de trabalhar mais para ter uma boa vida. Na Alemanha a vida é bastante boa, por isso não têm de trabalhar tanto, o que torna mais difícil competir bem. Não vejo ninguém a aparecer e não vejo nenhum futuro número um alemão”.
Fanático por desporto, em particular por ténis, Karsten Braasch não se revê em nenhuma das atuais estrelas tenísticas porque, devido à maior lentidão geral do jogo, o ténis mudou e “ninguém faz serviço-volley“. Carlos Alcaraz é o favorito pela “forma como se expressa” em court, o que no fundo vai ao encontro do modo do seu modo de vida. “Neste momento estou seriamente lesionado, mas posso sentar-me, beber uma cerveja e não pensar nos problemas. Posso aproveitar e não estar preocupado”.
21 anos depois do penúltimo título ATP, neste mesmo Complexo de Ténis do Jamor, o tempo parou e o flashback reforçou a boa disposição. “Ainda me sinto novo, mesmo com barba. Acredito que as coisas estão a ir na direção que devem ir, está tudo bem”.