Carlos Alcaraz destrona Novak Djokovic e é o novo campeão de Wimbledon

Sob o olhar atento do Rei Felipe VI na Royal Box do Centre Court, o espanhol Carlos Alcaraz destronou o sérvio Novak Djokovic e tornou-se no novo rei de Wimbledon ao vencer pela primeira vez o torneio do Grand Slam britânico.

Cinco semanas depois de ter cedido aos nervos que o fizeram sentir cãibras tão intensas que o arredaram da discussão das meias-finais em Roland-Garros, o espanhol de 20 anos aprendeu com os erros.

Mais preparado, manteve-se sereno depois de ser banalizado numa primeira partida em que foi o primeiro a dispor de oportunidades, construiu com calma e agressividade a recuperação e completou a missão ao selar a reviravolta graças aos parciais de 1-6, 7-6(6), 6-1 e 3-6 e 6-4 — os números que impuseram a Djokovic a primeira derrota em Wimbledon desde que desistiu nos quartos de final de 2017 e a primeira derrota no Centre Court desde que perdeu a final de 2013.

Não faltou dramatismo à final deste domingo, tão simbólica quanto importante, mas longe do nível atingido por outros encontros decisivos no palco mais sagrado que o ténis já conheceu.

Frente a frente pela terceira vez, Alcaraz e Djokovic raramente coincidiram nos momentos em que praticaram o melhor ténis, sendo o segundo parcial a exceção neste braço de ferro em que mesmo assim foram dois erros não forçados muito atípicos do sérvio a abrirem a porta a uma recuperação (liderou por 3-0 e por 6-5 antes de perder o tie-break) que depois sim, o espanhol consumou com valentia e brilhantismo.

Compreensível estando a história à vista quer para um (Alcaraz procurava ser apenas o terceiro homem espanhol a vencer o torneio e o primeiro desde Lleytton Hewitt, em 2002, a interromper o domínio do Big Four no All England Club), quer para outro (já dono do recorde de títulos masculinos a este nível, Djokovic tinha a possibilidade de igualar o registo absoluto de Margaret Court não só entre homens e mulheres, como entre eras amadoras e profissionais).

Foram, ainda assim, vários os momentos em que se assistiu ao ténis estratosférico que os dois melhores tenistas da atualidade conseguem produzir.

Com realeza nas bancadas (do Rei Felipe VI de Espanha ao príncipe William e a princesa Kate Middleton, que se fizeram acompanhar pelos filhos), foi com contornos algo hollywoodescos que a final se desenrolou. Afinal, entre os cerca de 15.000 espetadores presentes no Centre Court estiveram, também, figuras como Brad Pitt, Daniel Craig, Rachel Weisz, Hugh Jackman, Idris Elba, Tom Hiddleston, Andrew Garfield e Emma Watson, apenas algumas das muitas caras conhecidas que quiseram acompanhar de perto a história a ser feita.

E história foi feita: com uma recuperação in extremis para vencer o tie-break da segunda partida após anular um set point (já vários minutos depois de ter desperdiçado oportunidades quase imperdoáveis de fechar o parcial mais cedo), Alcaraz rubricou o momento em que o encontro começou a virar.

Entre o bater de pé do espanhol, que soube deixar para trás um primeiro set atípico, e uma quebra de concentração e rendimento de Djokovic, que se deixou levar pela violação de tempo que recebeu nos momentos decisivos do tie-break, a final ganhou outros contornos.

Finalmente em jogo, o mais novo dos dois ganhou confiança, soltou o braço e reduziu o número de erros não forçados, elevando sobretudo a qualidade da pancada de esquerda para passar a dominar muitas das trocas de bolas do fundo do campo. À medida que o fez, passou a estar no seu olhar aquela expressão que Djokovic tanta vez solta, uma breve leitura aos olhos a deixar claras as intenções do sérvio, e de repente passou para a frente da decisão.

Se o primeiro parcial foi resolvido em apenas 35 minutos, a meio da terceira partida houve um jogo que se prolongou por 26 minutos. Foi no serviço de Djokovic, que teve oito oportunidades para o segurar, mas foi ao sétimo ponto de break que o último dos 32 pontos caiu para o lado do espanhol. Valeu-lhe a segunda quebra de serviço do parcial e da final, entretanto o jovem de Múrcia ainda consumou mais uma e assim, só no terceiro set, impingiu tantos (três) breaks a Djokovic como nos seis encontros anteriores disputados pelo sérvio.

Com a motivação em alta e o público do seu lado, Alcaraz já era, por essa altura, o melhor em campo. Mas Djokovic tinha ainda uma palavra a dar e voltou a ameaçar a possibilidade de remontada: o sérvio travou a fuga do espanhol e restaurou as contas ao apoderar-se do quarto parcial, levando o tira teimas à etapa mais crucial desta tarde.

E tudo voltou a alinhar-se a favor do jovem ibérico na etapa terminal de uma batalha que por pouco não bateu as histórias 4h57 minutos da de 2019. Alcaraz sorriu nos detalhes para impor um break a seu favor, que lhe deu o fosso necessário para segurar a liderança.

Aos 20 anos, Carlos Alcaraz tornou-se no terceiro homem mais novo da história da Era Open (desde 1968) a vencer Wimbledon, só atrás de Boris Becker (fê-lo aos 17 e aos 18 anos) e de Bjorn Borg (aos 20, mas com menos dias do que o espanhol).

A campanha no All England Club permitiu-lhe ainda igualar o recorde de menos tentativas até conquistar um segundo título do Grand Slam, tornando-se apenas no sétimo homem da Era Open a erguer o segundo troféu a este nível no segundo torneio que disputou após a conquista inaugural (venceu o US Open em 2022 e não jogou o Australian Open de 2023). O último a fazê-lo tinha sido Andy Murray, também ao vencer o US Open (2012) e Wimbledon (2013), mas falhando pelo meio Roland-Garros.

Como cereja no topo do bolo, o líder do ranking mundial segurou esse estatuto e até dilatou a liderança: na segunda-feira terá 9675 pontos contra os 8795 de Novak Djokovic.

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