Entrevista a Leonardo Tavares

“Acho que o sonho de qualquer tenista é jogar os Grand Slams e poder estar no meio dos melhores jogadores do mundo”



– Em 2001 estreou-se em quadros principais de torneios do circuito ATP, defrontando Bernardo Mota na primeira ronda do Challenger de Maia. Qual foi a sensação? 

 
Leonardo Tavares (LT): Quando joguei com o Bernardo na Maia foi um torneio em que tinha acabado de ter as minhas melhores vitórias na carreira nesse qualifying e estava a jogar bastante bem e lembro-me de ter entrado um pouco nervoso por estar a jogar no meu local de treino na altura mas foi uma experiência muito boa mas em que o Bernardo foi superior. Apesar da derrota foi uma semana muito positiva.
 
– Os seus primeiros pontos ATP foram conquistados fora de Portugal. Concorda que Portugal não oferece as condições necessárias para o desenvolvimento ideal dos seus jogadores?
 
LT: Há uns anos atrás Portugal chegou a ter muitos torneios Futures e Satélites que havia na altura que eram realizados pelo Joao Lagos e foi uma pena ele ter deixado de organizar esses torneios em Portugal. É evidente que com apenas 5 Futures e um ATP em Portugal fica muito difícil um jogador que quer subir no ranking e jogar a nivel mundial ficar por cá a jogar. Jogar no estrangeiro é uma necessidade para se poder evoluir tenho em conta os escassos torneios cá em Portugal.
 
– A sua estreia no Estoril Open realizou-se em 2004 onde perdeu para Diogo Rocha em três duras partidas numa batalha de quase duas horas e meia. Como é que geriu as emoções?
 
LT: Quando joguei o Estoril Open pela 1 vez foi através de um WC oferecido pelo Joao Lagos e infelizmente joguei logo contra o meu melhor amigo e essa mistura de nervosismo por jogar no Estoril e jogar contra o Diogo não foi gerida da melhor maneira por mim mas mesmo assim foi uma experiência nova vivida por mim que me serviu para aprender bastante para o futuro.
 
– Apesar de tudo o seu primeiro Future conquistado foi em Portugal. Como classifica o público português?
 
LT: O primeiro Future que ganhei foi no Monte Aventino e lembro-me de ter sido um torneio bastante forte para ser um Future 15.000 e fiz bons jogos, na final o torneio foi bem divulgado pelo Porto e tive o Court Central cheio de gente a ver o meu jogo que me apoiaram bastante.
No geral acho que o público português que vai ver ténis apoia bastante os seus atletas mas ainda acho que há pouca gente a vir aos torneios e há pouca divulgação dos eventos em Portugal e uma fraca cultura desportiva no nosso país.
 
– Em 2010 no Estoril Open conseguiu finalmente derrotar um jogador do top-100 do ranking mundial, Ricardo Mello. Nessa mesma época viria ainda a derrotar Igor Andreev. Na sua opinião, qual a sua melhor vitória na sua carreira?
 
LT: Melhores vitórias foram sem dúvida contra o Andreev, o Ricardo Melo, Carlos Berloq. A pares também derrotei o par número 5 do mundo no ano passado.
 
– Foi nessa mesma época que participou nos seus primeiros Grand Slams, em Roland Garros, Wimbledon e US Open. Qual é a sensação de jogar nos torneios mais importantes da hierarquia do ténis?
 
LT: Acho que o sonho de qualquer tenista é jogar os Grand Slams e poder estar no meio dos melhores jogadores do mundo. Infelizmente para mim nunca consegui ganhar nenhum jogo nos Grand Slams mas espero um dia voltar a poder jogar e poder jogar bem melhor do aquilo que fiz principalmente em Wimbledon onde gostei muito de jogar. Confesso que senti um pouco o nervosismo no primeiro Grand Slam que joguei mas depois o ambiente é tão bom que se torna excelente fazer parte destes eventos e torneios tão bons e bem organizados cheios de multidões de fans de ténis diariamente a ver os jogos e treinos.
 
– Infelizmente, as lesões têm ‘perseguido’ a sua carreira o que não lhe tem permitido atingir voos ainda mais altos. Sente-se ainda capaz de lutar contra essas lesões e voltar a competir ao mais alto nível?
 
LT: A verdade e que as lesões fazem parte da vida de qualquer atleta de alta competição mas infelizmente para mim as lesões dos 20 aos 24 e este último ano não me deixaram competir quase nada e dificultaram a minha progressão no ranking e nível de jogo mas eu sinto-me cheio de vontade e força para poder voltar a jogar ao meu melhor nível, só preciso mesmo de poder competir com mais regularidade porque em termos de jogo sinto-me bem e sei que posso jogar muito melhor e fazer muito mais do aquilo que fiz e é esse sentimento de saber que posso ir mais longe que me mantém e me da força para tentar chegar muito mais longe.
 
– No ranking ATP de pares já esteve presente no top-100. Deseja que no futuro tal possa vir a acontecer novamente?
 
LT: Acho que a pares será mais facil do que a singulares chegar longe no ranking. Eu vou apostar tanto no ranking de singulares como no de pares e vou jogar todos os torneios de pares para ir longe. Acredito que posso voltar a chegar ao top 100 de pares e quem sabe melhor.
 
– Atualmente Portugal parece oferecer melhores condições e possui um maior número de pessoal capaz de levar os jogadores portugueses a atingirem o nível profissional. Pensa que a nova geração que inclui jogadores como Gastão Elias e, até, Frederico Silva pode vir a ser melhor que a atual?
 
LT: Há alguns jogadores jovens que realmente têm um nivel tenístico já muito elevado. O Gastão acho que pode chegar ao top100 e melhor que isso o João e o Pedro Sousa também acho que podem chegar longe, não sei se top 50 ou top100 mas de certeza vão continuar a subir no ranking. O Frederico Silva ainda é muito novo mas tem um nível de tenis muito alto para a idade que tem, acredito mesmo que possa vir a ser um grande jogador mas isso nunca se sabe. Ainda é muito novo e o ténis não é só jogo técnico mas sim uma série de factores que podem ajudar ou dificultar a progressão de qualquer jovem atleta. Por isso, quando se é jovem é difícil saber se irão ser melhores ou piores que outros porque depende de muita coisa mas eu acho que há potencialidade em alguns jovens jogadores de virem a ser bons a nível mundial.
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