O talento de fazer parecer tudo simples leva Andreeva à terceira ronda de Roland-Garros (e ao top 100)

Normalmente, uma tenista com esta idade não disputaria o quadro principal de Roland-Garros. Normalmente, uma tenista com esta idade não enfrentaria de forma tão convicta o desafio de se intrometer entre uma jovem da casa e o seu público. Normalmente, uma tenista com esta idade não estaria a celebrar a entrada no top 100 mundial. Mas Mirra Andreeva não é uma miúda normal, antes uma predistinada a quem o talento abriu as portas da elite quando os sweet sixteen ainda estavam à porta, e por isso nada do que tem feito entre as crescidas parece anormal. Mesmo se ainda está no primeiro ano de juniores, mesmo se ainda tem exames da escola para passar.

Por Gaspar Ribeiro Lança, em Roland-Garros

“Fico feliz por não perceberem que estou nervosa, consigo escondê-lo bastante bem”, afirmou esta quinta-feira depois de banalizar Diane Parry — a última francesa em competição no quadro feminino — pelos parciais de 6-1 e 6-2 ao cabo de 1h16.

Foi a quinta vitória consecutiva em Paris para Andreeva, que chegou à capital francesa para disputar o qualifying e que dela já sairá como top 100 mundial pela primeira vez na carreira.

Com apenas 16 anos completados há um mês, durante o WTA 1000 de Madrid no qual registou dois triunfos sobre adversárias do top 20 para chegar aos oitavos de final, a russa que trocou o frio da Sibéria pelo calor do Sul de França no início de 2022 já não engana: pertence ao grupo das predistinadas.

Ainda assim, vê-la a exibir-se com tamanha convicção entre as crescidas na catedral da terra batida não deixa de ser uma visão assustadoramente cativante.

O encontro desta quinta-feira no Court Simonne-Mathieu traduz na perfeição o que está a fazer Mirra Andreeva: um patamar acima em relação às jovens que como ela procuram integrar a elite, a russa não só comete pouquíssimos erros (sobretudo atendendo à tenra idade e pouca experiência) como apresenta uma maturidade rara para alguém que ainda frequenta o ensino obrigatório — à distância, pois claro.

À facilidade com que destrói a bola junta-se a eloquência de um discurso que, apesar da tão tenra idade, já flui em inglês ao mesmo tempo que é acompanhado pela autenticidade de quem, por ser tão jovem, está a meter-se pela primeira vez entre as estrelas.

Em Madrid revelou a admiração por Andy Murray e já esta semana explicou que enviou os parabéns ao britânico depois de este vencer um Challenger 175 de Aix-en-Provence. “Ele respondeu-me! Talvez seja por isso que estou a jogar tão bem agora…”, contou entre sorrisos.

Não é, claro. Mas essa inocência que tem marcado os (para já) melhores momentos de uma ainda curtíssima carreira acrescenta-lhe um brilho especial. E por isso é para que estão, atualmente, apontados muitos dos holofotes.

Se o marketing da WTA em torno da “NextGen” fosse tão forte quanto o da ATP…

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