Willis. Marcus Willis. Por esta altura, é pouco provável que um seguidor de ténis minimamente atento ainda não se tenha cruzado com a história ou, no mínimo, com o seu nome.
Sobretudo pelo que aconteceu no verão de 2016, quando um treinador de Slough, Berkshire, em Inglaterra, venceu seis encontros consecutivos para ter direito a um lugar no maior torneio de todos: Wimbledon. Isso mesmo, um treinador desconhecido (que já tinha sido número 322 do mundo mas era desconhecido a praticamente todos fora do Reino Unido) conseguiu assegurar presença entre a elite. O prémio final? Defrontar Roger Federer, na altura por sete vezes campeão, em pleno Centre Court.
Cerca de 14 meses depois, encontramos Marcus Willis na Beloura Tennis Academy. Inscrito em dois dos três torneios Future organizados em Sintra, conquistou um título de pares e chegou à segunda ronda de singulares na última semana, sendo derrotado pelo futuro campeão Fred Gil. E sentou-se à mesa connosco enquanto assistia aos últimos minutos de um dos muitos jogos que naquele fim de semana se jogavam na Premier League.
“O meu objetivo continua a ser o mesmo — chegar ao top 100 de singulares e jogar os torneios do Grand Slam. Vai ser difícil, eu sei, muito difícil, mas acredito que se conseguir elevar o meu nível e passar a somar algumas vitórias em Challengers o posso fazer”, começa por revelar ao RAQUETC sempre com um grande sorriso.
Naquela semana, Marcus ainda não tinha a companhia da sua mulher, Jennifer Bate, nem da sua filha, Martha May, mas estava rodeado de compatriotas e muitos outros interessados em, a espaços, irem conhecendo a sua histórica. Pelo meio, deu-nos a garantia de que “para além de ter ficado um pouco mais conhecido, nada mudou.” E isso parece deixá-lo satisfeito.
Mas o que é que leva Marcus Willis, um jogador que aos 26 anos ainda persegue o sonho de menino, a seguir em frente sempre de raquete na mão mesmo nos maus momentos? “Às vezes não é fácil, é verdade. Depois de um mau jogo ou quando fazes muitos encontros e ficas meio ‘perdido’, mas tens de visualizar o teu grande objetivo e tentar manter-te focado e aprender, aprender e aprender até que chegue a próxima oportunidade.”
“É esse o truque: pensar “pequeno”, ou melhor, a curta distância, e nas pequenas coisas, porque se virmos bem as diferenças entre os Futures e os Challengers não são muitas e entre os Challengers e os primeiros ATP também não. São os pequenos detalhes”, conclui.
Entre o dia em que combinámos a pequena entrevista e aquele em que nos sentámos numa das mesas da academia passaram 24h. Foi o tempo suficiente para, através do Twitter, recebermos uma mensagem de senhora inglesa que esteve na Beloura a acompanhar o seu “rebento” no torneio internacional de sub 16.
No tweet, que mostrámos a Willis, confessou-nos que o jogador britânico era o ídolo do seu filho. “Ohhhhh [diz, durante um par de segundos, surpreendido pela informação que introduzimos a meio da conversa e nos faz mudar de rumo], isso é muito, muito simpático. E eu fico muito feliz por ver que uma história tão mediática quanto esta que aconteceu pode ter ajudado a inspirar algumas crianças e a fazer com que acreditem um pouco mais nelas próprias.”
De volta à sua carreira, o herói do verão de 2016 fala-nos das dificuldades que um jogador profissional atravessa quando está a dar os primeiros passos no circuito. “Quando és junior, está tudo bem [em termos de apoio da Federação], mas quando passas a ser profissional fica muito, muito difícil. A não ser que chegues a top 200 do mundo não tens muito apoio financeiro e torna-se muito difícil. Tenho a certeza de que se existissem mais apoios o ténis britânico teria muito mais jogadores ao nível Challenger.”
Agora, Marcus Willis conta com um patrocinador, e por isso pode “a continuar a perseguir o sonho por mais um ano, um ano e meio para tentar chegar finalmente ao top 150”, mas reconhece que não é fácil. E só o tempo dirá se consegue.