MAIA — O passado recente da seleção portuguesa em eliminatórias disputadas “em casa” apresenta motivos para sorrir e também para sonhar com um inédito apuramento para a fase final da Taça Davis. E foi na véspera de João Sousa dar o primeiro contributo no embate frente à República Checa que Frederico Marques explicou como o pupilo pode voltar a ter um papel determinante ‘de quinas ao peito’. Em declarações exclusivas ao Raquetc, o técnico do número um nacional abordou ainda o momento que a dupla atravessa e as principais metas para o futuro.
A horas de ver o vimaranense participar na competição centenária pelo 16.º ano consecutivo, o treinador não o coloca num patamar mais elevado, mas salienta que a sua experiência poderá ser peça-chave na eliminatória deste fim de semana contra a República Checa, na Maia: “Está aqui para ajudar, é mais um. Em alguns momentos pode transmitir aos mais novos algumas situações pelas quais ele já passou. A experiência que tem no circuito permite-lhe conhecer muitos adversários com quem já competiu.”
João Sousa participou em duas das três tentativas (fracassadas) de apuramento para a etapa final da Taça Davis. Agora, a glória pode finalmente bater à porta da equipa lusa, com o fim de semana em condições escolhidas a dedo a ser o cenário ideal para tal. Mas Frederico Marques acredita que essa meta não sacia a ‘fome’ e o potencial portugueses: “Já estivemos perto da qualificação para o Grupo Mundial, mas acho que esse objetivo acaba por ser curto. Portugal merece muito mais do que pensar apenas na qualificação, tem uma equipa para estar lá presente. É bonito falar na história, mas é preciso ser-se ambicioso, com os pés no chão.
A perda dos pontos amealhados há um ano com a conquista do ATP 250 de Pune vai ditar uma inevitável queda abrupta no ranking do vimaranense já na próxima segunda-feira, que inclusive o fará perder o estatuto de número um nacional para Nuno Borges. No entanto, o técnico lisboeta não se deixa abalar pelo abandono do top 100 e manifesta que as aspirações não se alteram: “É uma coisa normal, por vezes acontece. Logo nas primeiras vezes em que entrou no top 100 saiu devido a uma lesão, mas passado um par de meses voltou a entrar. O mais importante é o nível, a velocidade de bola dele, a maneira como ele se move no campo e continuar saudável.”
E garantiu, com firmeza, que a “fome de resultados” se mantém: “Continuamos ambiciosos, com o objetivo de chegar aos torneios grandes. Precisamos de estar nos primeiros 50 do mundo para podermos jogar Masters 1000 e Grand Slams. É para isso que treinamos, por isso o ranking não nos assusta. O ranking é muito transparente e se formos 120 ou 130, significa que a média do ano era essa. É preciso melhorar para voltarmos ao top 100.”
A posição na tabela é deixada para segundo plano, dando absoluta primazia ao nível competitivo, pois por essa via Frederico Marques acredita que os resultados acabarão por aparecer: “Não pensamos muito em termos de ranking, o que nos preocupa é ver se a nossa bola anda tanto ou mais que a dos adversários e se nos movimentamos bem. O que eu quero é um João perto daquele nível a que nos habituou. Se conseguir fazer isso os pontos acabam por cair e o ranking sobe. Isso é o que importa.”
Questionado acerca da lesão sentida por João Sousa durante a passagem pelo Australian Open, Frederico Marques admitiu que esses contratempos são intrínsecos à profissão: “Faz parte da carreira dos jogadores e o João teve bastante sorte, foi privilegiado e não teve muitas lesões. Agora estão a aparecer em cima umas das outras, mas faz parte da carreira de um atleta. São muitos anos e com isso o normal é aparecerem as mazelas destas guerras num jogador com muita movimentação.”
Todavia, atenua as dúvidas de um minhoto ‘a meio gás’ e coloca-o na sua máxima força para o compromisso nacional e para a swing sul-americana que se segue: “O João está cada vez melhor, vai estar competitivo tanto aqui como nos próximos torneios. A Taça Davis é sempre um momento importante no qual está rodeado dos portugueses que lhe dão tanto carinho. Normalmente ele vai buscar esse carinho e transporta-o para os torneios seguintes. Vamos tentar apanhar esta força e ritmo aqui na Maia para a América do Sul.“
Frederico Marques aponta ainda os principais objetivos para a nova temporada, centrando a boa condição física como foco: “A longo prazo será acabar perto dos primeiros 50 do mundo, a curto prazo é ver um João completamente saudável para poder competir sem dor e com uma boa movimentação, com pancadas fluídas. Os resultados acabam por aparecer e poderemos pensar em mais tarde, mas agora pensamos naquilo que podemos controlar: o nosso corpo, a dinâmica, a movimentação.”
E a três dias da saída do lote dos 100 melhores, o treinador de João Sousa não tem tempo a perder e menciona a grande meta para os próximos meses: “Entrar rapidamente no top 100 para marcar presença nos Grand Slams o mais rapidamente possível. O João já fez mais de dez finais ATP, portanto cada vez que compete quer sempre chegar às rondas finais, onde o torneio começa a abrir. Vamos tentar esses resultados agora na América do Sul.”