A sessão noturna e respetivas condições de jogo não lhe eram favoráveis e o físico também não, mas Rafael Nadal voltou a demonstrar que não há tarefa mais difícil no mundo do ténis do que derrotá-lo em Roland-Garros e venceu o 59.º capítulo da rivalidade com Novak Djokovic para carimbar pela 15.ª vez na carreira o apuramento para as meias-finais. No horizonte continua o 14.º título que persegue, no ar a sensação de que esta pode ser a sua última vez em Paris.
Em plena sessão noturna em Paris, com o Court Philippe-Chatrier totalmente preenchido e um ambiente fervoroso nas bancadas, o tenista espanhol de 35 anos (celebra o 36.º aniversário na sexta-feira) levou a melhor sobre o sérvio, que tem a mesma idade, depois de 4h12, com os parciais de 6-2, 4-6, 6-2 e 7-6(4).
O encontro desta terça-feira, que começou em maio e terminou em junho, foi o sétimo da rivalidade a prolongar-se por mais de quatro horas e esteve perto de tornar-se no quarto a ser discutido num quinto set, depois da final do Australian Open de 2012, da meia-final de Roland-Garros em 2013 e da meia-final de Wimbledon em 2018.
Mas Nadal, que preferia jogar de dia, quando há menos humidade, o pelo da bola demora mais a abrir e o top sping de que tanto gosta surte mais efeito, salvou dois set points e quebrou o serviço de Djokovic, acabando por adiar a decisão até um tie-break onde esteve irrepreensível.
Antes, crédito para o sérvio pela forma como reentrou no encontro depois de um arranque ao mais alto nível do outro lado da rede. A primeira hora e e quinze minutos foi totalmente dominada por Nadal, que deixou para trás os fantasmas da crónica lesão no pé, a longa e difícil exibição frente a Félix Auger-Aliassime e as dúvidas na abordagem a este duelo. Taticamente, o maiorquino fez uso da sua famosa direita spinada ao longo da linha para explorar a mesma pancada do sérvio e conseguiu evitar cair na armadilha de cruzar a esquerda enquanto a agressividade do número um mundial tardou em surgir.
Mas uma vez confrontado com dois breaks de desvantagem na segunda partida, Djokovic ficou entre a espada e a parede e não teve outra opção senão arriscar. Com as estatísticas cada vez mais favoráveis a Nadal (que tinha ganho 100 dos 101 encontros em Paris depois de vencer o primeiro parcial, a única exceção a meia-final do ano passado que esta terça-feira reeditaram), o sérvio tinha de mudar o plano de jogo e assim foi: entrou no campo, tornou-se mais agressivo e, ao mesmo teempo, paciente na escolha da sua pancada decisiva e com muito esforço venceu seis dos sete jogos seguintes para igualar o encontro.
O esforço despendido pareceu desgastá-lo e por isso a terceira partida decorreu quase em velocidade de cruzeiro para Nadal, que depois de anular um ponto de break ao 3-1 até duplicou a vantagem.
A inversão in extremis do quarto set, que se desenrolou já para lá da uma da manhã em Paris, já não era esperada — esteve 4-1, 5-2 e 5-3 com dois set points abaixo; no entanto, o recordista de títulos na capital francesa tinha um último coelho guardado na cartola e com uma direita inside out fez o break que lhe deu outra vida e foi decisivo para o desfecho do encontro.
Assinada em 4h12, a vitória desta terça/quarta-feira foi a 29.ª de Nadal sobre Djokovic, que continuará a liderar o frente a frente, mas pela margem mais pequena possível: o sérvio tem 30 vitórias, apenas mais uma naquela que é a rivalidade com mais capítulos da história do circuito masculino.
Para o sérvio, seguem-se alguns dias de pausa antes da abordagem à temporada de relva, que assim chega com mais más notícias: entre perder 2.000 pontos na Austrália por não ter sido autorizado a permanecer no país e 2.000 em Inglaterra por causa da remoção de pontos decidida pela ATP e pela WTA como protesto à decisão de Wimbledon (que optou por banir russos e bielorrussos), Djokovic também perderá 1.640 pontos por falhar a defesa do título em Paris.
E assim o topo do ranking fica apetecível (e bem real) não só para Daniil Medvedev, que já por lá passou, como para Alexander Zverev, que é o próximo adversário de Nadal e se levar a investida até ao fim sairá de Roland-Garros não só como campeão, mas também como novo líder.