Dois meses correspondem a uma ínfima parte da vida de um ser humano, mas, no caso de Rafael Nadal, tudo muda de perspectiva. Os últimos dois meses da carreira do espanhol seriam suficientes para se escrever um livro.
Tudo (re)começou em Viña del Mar, quando, cerca de sete meses depois, o ‘rei da terra batida’ (como é apelidado) regressou à competição. A derrota em cinco partidas para Lukas Rosol na relva de Wimbledon colocou um ponto final na temporada de 2012 de Nadal, que acabaria por desistir, entre outros torneios, dos Jogos Olímpicos, do US Open, do ATP World Tour Finals e, já em 2013, do Australian Open. Foi então em território chileno, na sua superfície preferida, a terra batida, que Rafael Nadal recomeçou a competir e a vencer encontros: o começo não foi o melhor, tal como toda a sua prestação em Viña del Mar, mas sim suficiente para chegar à sua primeira final. O desfecho foi, tal como em Wimbledon, surpreendente, e, apesar de Zeballos ter colocado um ponto final em várias sequências impressionantes do jogador espanhol, o objectivo estava cumprido.
Rafael Nadal havia regressado à competição com uma final. O nível de ténis que apresentara estava longe de igualar o seu melhor, a que habituou os adeptos da modalidade ao longo das últimas épocas, e os problemas no joelho ainda não estavam resolvidos a 100%, mas o maiorquino partiu para São Paulo confiante e em busca de melhorias. Na localidade brasileira, Nadal conquistou o seu primeiro título desde Roland Garros, na temporada passada, mas ainda não estava totalmente satisfeito com o seu jogo.
Em Acapulco, duas semanas depois, ‘Rafa’ voltou verdadeiramente ao seu nível. Tal como a categoria do torneio, o jogo apresentado pelo espanhol também aumentou. O resultado? Duas vitórias esclarecedoras (7-5 6-4 a Nicolas Almagro, 11º colocado no ranking, e 6-0 6-2 a David Ferrer, quarto colocado) para fechar o evento e conquistar o seu segundo título na presente temporada.
O anúncio estava feito. Com o triunfo em Acapulco, já depois do vice-campeonato em Viña del Mar e da vitória em São Paulo, Rafael Nadal era cada vez mais protagonista das manchetes de jornais um pouco por todo o mundo. Notícias atrás de notícias, todos queriam estar a par do regresso do espanhol, que entretanto se preparava para o torneio de Miami. Após fazer um desvio por Nova Iorque, onde participou numa exibição com Juan Martin del Potro, o heptacampeão de Roland Garros viajou para Indian Wells, onde se preparava para disputar o primeiro torneio de piso rápido em quase doze meses (o último havia sido em Miami, o segundo de dois Masters 1000 consecutivos nos Estados Unidos da América). O primeiro ATP Masters 1000 da temporada foi, para Nadal, uma repetição comprimida de todos os jogos que realizou desde fevereiro.
Os melhores jogadores do mundo marcavam presença no torneio e Nadal tinha os pontos das meias-finais alcançadas no ano passado a defender. Contudo, o espanhol não se preocupava com os resultados e entrava para o court, dia após dia, sem pressão. O começo foi lento, tal como em Viña del Mar, e, depois de uma vitória em dois sets perante Ryan Harrison, Nadal beneficiou da desistência de Leonardo Mayer. Nos oitavos-de-final chegou o primeiro ‘grande desafio’, com Ernests Gulbis a prometer oferecer muita resistência e a afirmar que conseguia vencer o espanhol. Não aconteceu, mas por pouco, e Nadal colocou (após duas horas e meia de encontro e três sets muito equilibrados) um ponto final na série de treze vitórias consecutivas de Gulbis. Seguiu-se Roger Federer, que com uma prestação irreconhecível saíu rapidamente derrotado (4-6 2-6) e depois Tomas Berdych. O checo tentou, mas não conseguiu surpreender o espanhol, que chegava assim à sua quarta final da temporada.
Do outro lado estaria Juan Martin del Potro (que entre outros adversários havia vencido Andy Murray e Novak Djokovic). Numa partida em que ambos procuravam atingir marcas bem diferentes na carreira (Del Potro queria vencer o seu primeiro Masters 1000, enquanto Nadal perseguia o vigésimo segundo título nesta categoria, passando assim a liderar isoladamente o topo da lista de vencedores – Federer tem vinte e um). A intensa batalha colou os espectadores às cadeiras, tal foi o nível apresentado por ambos, mas no final apenas um podia sair vencedor. Mais experiente, Nadal levou a melhor na ponta final do encontro, conquistando a 600ª vitória de carreira e o seu 53º título, o primeiro em piso rápido desde 2010.
A vitória em Indian Wells é considerada pela equipa técnica do jogador espanhol como “semelhante a um triunfo num torneio do Grand Slam”, e dúvidas não restam: Rafael Nadal chegou, jogou e conquistou um vice-campeonato e dois títulos em terra batida e um outro título em piso rápido, que o colocam assim no topo da lista de vencedores em 2013. O próximo passo? A participação nos torneios europeus de terra batida, a sua ‘especialidade’.
Fotografia de @dgjourney, gentilmente cedida ao Ténis Portugal.