Rui Machado integra há muito tempo o lote de melhores tenistas portugueses de sempre. Já pisou os maiores palcos do circuito, viajou um pouco por todo o mundo e disputou todas as competições com que um atleta pode sonhar; foi número um nacional, é múltiplo campeão nacional e uma referência para todo este Portugal.
Esta quarta-feira, numa entrevista exclusiva ao Ténis Portugal, o tenista algarvio de trinta anos fala do passado, presente e futuro; dos torneios do Grand Slam ao momento atual do circuito masculino e à eliminatória da Taça Davis que se aproxima.
Entrevista
- Ténis Portugal: Nos últimos anos tens sofrido algumas lesões que te impediram de competir como planeado. Nesse sentido, como avalias 2014 até agora?
Rui Machado: 2014 tem sido um ano difícil. Já estive lesionado aproximadamente dois meses no tendão de aquiles mas por outro lado em termos de nível tenístico tem sido muito melhor do que 2013. A pouco e pouco vou-me aproximando do nível que me permitiu disputar os grandes torneios.
- Ténis Portugal: Visto este ser um desporto em que, talvez mais do que nos outros, é necessário estar fisicamente apto durante todo o ano, como te preparas para isso e que sacrifícios são feitos?
Rui Machado: O ténis é dos desportos mais desgastantes a nível de calendário competitivo. É muito importante saber gerir bem a quantidade de torneios a disputar e controlar muito bem os níveis físicos. Depois de tantos anos, já estou tão habituado a esta vida que torna-se difícil encontrar os tais “sacrifícios”. Se me fizessem esta pergunta com 20 anos certamente teria uma resposta mais objectiva.
- Ténis Portugal: Estás há mais de dois anos a trabalhar com o André Lopes, que diz ter uma boa relação contigo fora do court. Podes falar-nos um pouco da vossa ligação e do tempo e actividades por que passam juntos?
Rui Machado: Trabalho com o André há 3 anos e meio. Temos uma boa relação fora do court, como não poderia deixar de ser já que passamos muito tempo juntos. Quando estamos em Portugal, podemos jantar um ou outro dia por uma ocasião especial mas não passamos muito tempo juntos fora do court. Aproveitamos para estar cada um com a sua familia e amigos.
- Ténis Portugal: Tendo em conta os últimos meses de competição, o top100 é um sonho ou objectivo para um futuro próximo? Neste momento, que metas tens traçadas?
Rui Machado: Tendo em conta os últimos meses, o top100 não é um objectivo muito realista nas próximos semanas ou meses. Mas tendo em conta que agora estou sem limitações fisicas e a melhorar em termos tenísticos, acredito que a médio prazo possa ser possível.
- Ténis Portugal: É inevitável falarmos da tua passagem pelo Portugal Open, onde conseguiste um triunfo histórico. Aquela vitória deu-te ainda mais ‘fome’ de continuar a lutar pelo regresso aos grandes palcos? Que importância teve na tua carreira?
Rui Machado: Não consigo identificar uma vitória com sabor muito mais especial que as outras na minha carreira. Provavelmente isto deve-se à minha maneira de competir pois em cada jogo que faço costumo dar tudo o que tenho, como se costuma dizer no mundo do ténis, jogar com o coração. Jogar o Portugal Open é sempre um prazer para mim como profissional, de poder jogar para o meu público.
- Ténis Portugal: Actualmente, tu e o Frederico Gil (dois dos melhores jogadores da nossa história) atravessam, se bem que de forma distintas, fases de recuperação no ranking. Costumam comunicar um com o outro, falar sobre as vossas carreiras, momentos de destaque e, até, o ténis português? Como te relacionas com os outros jogadores portugueses?
Rui Machado: Relaciono-me bem com todos os jogadores portugueses. Somos poucos e somos ou já fomos colegas de selecção, o que nos une ainda mais. A Taça Davis tem essa capacidade de criar um grande espírito de grupo. Em relação ao regresso do Frederico à competição, não só eu mas todos os colegas dele desejamos que cada dia que passe esteja mais forte e continue a competir de forma regular.
- Ténis Portugal: Como jogador presente no circuito há muitas épocas, que diferenças destacas com o avançar dos anos?
Rui Machado: Destaco o aumento da competitividade, ou seja o nível entre rankings bastante distantes está cada vez mais parecido e a evolução física que se tem notado ao longo dos anos. Tem sido uma evolução constante que continuará a existir e que torna os índices físicos dos jogadores cada vez mais exigentes.
- Ténis Portugal: Depois das ausências em 2013, este ano conseguiste regressar a três dos quatro Majors, ainda que no qualifying. Era um dos objectivos para este regresso? Que balanço fazes?
Rui Machado: Não era o objectivo em concreto, mas sim, estar a competir nos grandes torneios é a melhor recompensa para qualquer profissional.
- Ténis Portugal: O teu ranking não permitiu que fosses a Nova Iorque, onde brilhaste em 2008. Tens um carinho especial pela cidade e pelo torneio desde aí? Que memórias guardas?
Rui Machado: Claro que sim. Foi a primeira vez que fui aos Estados Unidos — algo estranho para um tenista de 24 anos que já tinha viajado o mundo quase todo. Fiquei fascinado com Nova Iorque, com a grandeza do complexo Flushing Meadows e a quantidade de público e sobretudo o entusiasmo com que assistem aos encontros.
- Ténis Portugal: Costumas acompanhar o circuito mundial? Se sim, que jogadores gostas mais de ver e o que pensas precisar de sofrer alterações nos próximos tempos?
Rui Machado: Não sou do tipo de jogador que vê muito ténis. Dedico tantas horas a este desporto que no meu tempo livre prefiro dedicar a minha atenção a outras coisas. Mas como é óbvio vou acompanhando os outros torneios do circuito e fiquei surpreendido com alguns resultados recentes de jogadores muito jovens, algo que estatisticamente, nos tempos que correm, é totalmente improvável.
- Ténis Portugal: Relativamente à Taça Davis, és o mais velho e acima de tudo mais experiente dos convocados pelo Nuno Marques. Isto faz-te sentir de alguma forma responsável por liderar a equipa? Como avalias o grupo que temos actualmente?
Rui Machado: O líder da equipa é o seleccionador. Eu, como jogador, nem quando era o melhor classificado do grupo nem agora por ser o mais velho ou mais experiente sinto que tenha de ter um papel diferente. Ali todos temos o mesmo objectivo: é que a equipa no Domingo tenha conquistado pelo menos 3 pontos e eu farei aquilo que está ao meu alcance para estar o melhor preparado possível para ajudar a equipa.
- Ténis Portugal: A Rússia, ainda para mais em casa, é uma equipa muito perigosa. O que é que Portugal terá de fazer para conseguir sair de Moscovo com a vitória?
Rui Machado: Nos últimos anos temos tido algumas dificuldades em ganhar fora de casa. Temos de tentar adaptar-mos o melhor possível ao piso, estar frescos fisicamente para os encontros que são a 5 sets e como gosto de dizer, jogar com o coração!
- Ténis Portugal: Agora, e para terminar, em relação ao nosso projecto: com um visual renovado, queremos estar cada vez mais perto dos nossos leitores e atletas. Que conselho nos dás? E aos leitores, que mensagem gostavas de deixar?
Rui Machado: O melhor conselho que vos posso dar é que continuem o bom trabalho que têm vindo a fazer, a publicar conteúdos interessantes e de forma positiva. Aos leitores e interessados em ténis, continuem a visitar o site e participem com comentários ou perguntas.