Em condições normais, Francisco Rocha estaria a aproveitar a dose tripla de Indoor Oeiras Open no Jamor para dar início a 2025 num dos palcos que mais alegrias lhe deu nos últimos anos, mas um convite inesperado levou-o a fazer escala em Barcelona a caminho de Melbourne para abraçar um papel diferente: o de parceiro de treinos da chinesa Zheng Qinwen, nada mais, nada menos do que a campeã olímpica em título e finalista do Australian Open e do WTA Finals.
“A oportunidade surgiu antes do Challenger da Maia”, contou ao Raquetc na manhã deste domingo, depois de aparecer em grande plano na transmissão do encontro que a número cinco mundial ganhou, por 7-6(3) e 6-1, frente à romena Anca Todoni em plena Rod Laver Arena
“Quem veio falar comigo foi o Bernardo Pires, um treinador da Maia que é muito meu amigo, porque o Rafael Andrade, de Gondomar e que trabalha na Academia TEC em Barcelona, lhe disse que precisava de um hitting partner para uma jogadora chinesa de topo. Estavam à procura de um jogador que tivesse bom nível e estivesse à volta do top 700 ATP. Não quiseram revelar o nome da jogadora por uma questão de privacidade, mas deu logo para perceber quem era e eu disse que estaria disposto a ouvir a proposta”, contou o tenista português de 25 anos, atualmente no 772.º lugar da hierarquia depois de em outubro ter chegado ao 692.º posto.
“A mãe da Qinwen contactou-me e na altura disseram-me que queriam que eu fosse ter com eles logo durante o Challenger da Maia, mas eu disse-lhes que era impossível por isso e porque já me tinha comprometido a jogar o Campeonato Nacional de Equipas na semana seguinte. Não tiveram problema nenhum com isso e disseram que eu podia fazer logo a seguir o período experimental em Barcelona e depois logo veríamos se eu iria com eles para a Austrália. Achei uma boa oportunidade para fazer uma pré-época melhor e aprender com pessoas diferentes para ter uma visão do ténis diferente da habitual. Neste momento o treinador também é interino porque o Pere Riba está a recuperar de uma operação, então ela está com o Dante Bottini, que esteve com o Kei Nishikori durante muitos anos e depois com o Grigor Dimitrov. Queria aprender com ele e estar associado a uma jogadora de topo, que convive com um tipo de situações que eu não vivo porque jogo nos circuitos inferiores”, acrescentou Rocha, que a 8 de dezembro contribuiu para mais um título da Escola de Ténis da Maia na prova de interclubes.
“Depois fui logo para Barcelona e estive lá durante três semanas a fazer a pré-temporada com ela. A seguir ao Natal viajámos para a Austrália e estamos cá desde o dia 28”, explicou o portuense, que no último dia do ano acabou com o mistério ao surgir numa série de fotografias publicadas pela tenista chinesa nas redes sociais. “Tenho gostado de toda a gente. O preparador físico é chinês, a fisioterapeuta é sueco-canadiana e o treinador interino é argentino, por isso tem sido muito interessante. Todos eles têm uma forma diferente de ver as coisas em relação àquilo a que estou habituado em Portugal e isso é bom para mim porque me abre os horizontes.”
Para além do tempo que passa na equipa Zheng Qinwen, Francisco Rocha também aproveita para colher os frutos de um ambiente recheado de estrelas: “Tem sido uma experiência muito boa. De certa forma estou à beira de alguns dos meus ídolos no ginásio e mesmo no campo. O Djokovic, o Murray, jovens como o Alcaraz e o Sinner… consigo ver de perto o trabalho deles e é uma experiência fantástica, sem dúvida alguma. Tenho aprendido muito porque gosto de observar como é que eles fazem as coisas e tenho tirado umas notas para tentar aprender com eles porque são o expoente do ténis.”
O convite que recebeu também proporcionou ao jovem a oportunidade de estar em Melbourne na altura em que o irmão mais novo, Henrique Rocha, foi a jogo no qualifying (perdeu na última ronda), tal como o amigo Jaime Faria (que acabou mesmo por garantir um lugar no quadro principal): “Foi incrível poder estar aqui com eles. Fizeram um torneio fantástico e espero que o Jaime continue e agora o Borges e o Cabral também. É muito bom estar do outro lado do mundo e ao mesmo tempo passar tempo com pessoas com quem me dou muito bem, torna a experiência ainda melhor.”
Iniciada esta grande aventura da melhor forma, a permanência de Francisco Rocha em Melbourne vai depender da prestação de Zheng Qinwen, que há um ano só parou na final. Certo é que, no final do Australian Open, o jovem português regressará à casa para retomar a carreira: “Fui claro com ela desde o início e disse-lhe que tenho a minha carreira, isto é uma questão mais espontânea e em termos de aprendizagem. Ela percebeu perfeitamente a mentalidade de querer seguir os próprios sonhos e foi super correta. Combinámos que seria assim até ao final do Australian Open, no futuro vai depender do calendário. Se tiver semanas em que esteja só a treinar e ela precise de mim, estarei disponível para ajudar. Ficámos com uma relação bastante boa e há a possibilidade de voltarmos a trabalhar juntos.”