Entre o delírio e a maturidade, Tiago Torres está quase a agarrar o canudo e a partir para a maior aventura

Beatriz Ruivo/FPT

1380 dias separam as primeiras vitórias de Tiago Torres no ATP Challenger Tour, mas além do tempo há muito mais entre aquele Oeiras Open de março de 2021 e este Indoor Oeiras Open de janeiro de 2025 em que o lisboeta, agora com 22 anos, celebrou frente a adversários bem mais cotados. Com o mesmo sorriso do jovem que estava prestes a atravessar o Oceano Atlântico, o quase licenciado em Gestão pela Universidade do Texas está mais maduro e o crescimento estende-se do court à sala de imprensa.

“Já lá vão uns anos desde que fizemos isto, como é que se faz?” Com a descontração de sempre, quebrou rapidamente o gelo e começou por desconstruir a grande diferença entre os dois momentos: “Nos últimos tempos melhorei muito as piores partes do meu ténis, mas principalmente a parte mental.”

Há quase quatro anos a viver e estudar nos Estados Unidos da América, Tiago Torres até revelou sentir-se “um bocado cansado de lá estar”, mas não hesitou em reconhecer a devida importância do college no crescimento agora que está quase a poder abraçar o grande sonho. “Os meus pais meteram-me os pés na terra bem cedo e sempre me disseram ‘Tiago, tens de tirar o curso e de ter pelo menos um Plano B e depois podes tentar aquilo que quiseres’. E agora já estou quase a acabar, por isso espero que me vejam aqui mais vezes.”

Numa conferência de imprensa marcada pela boa-disposição, o jovem português até contou o episódio que o obrigou a sofrer ainda mais para vencer… e a começar a conversa com os jornalistas depois de uma longa passagem pelo departamento de fisioterapia: “Tenho um primo que começou a correr meias-maratonas e que teve a feliz ideia de me dizer ‘é assim, tu és desportista, portanto não há nenhum problema, vamos lá correr na montanha’ e eu pensei ‘se tu consegues, eu também consigo, vamos lá’. Então fui fazer 11km e qualquer coisa e no dia seguinte estava tudo bem, até fui fazer umas bolas com o meu pai e estava tudo bem, mas quando acordei no dia a seguir começaram a doer-me os joelhos. A dor aumentou até hoje e apesar disso consigo jogar, mas isto serviu-me para aprender que se calhar não foi o ideal. As pessoas riem-se, mas eu não estou a achar graça nenhuma. Demorou 22 anos, mas pelo menos serviu para alguma coisa e aprendi”, concluiu já com um novo sorriso a surgir-lhe no rosto.

Esse cansaço, aliás, ajudou a aliviar os nervos no regresso ao circuito Challenger quase quatro anos depois da também vitoriosa estreia no Oeiras Open 2 de março de 2021, que até considerou mais saborosa: “Acho que estava mais contente há quatro anos, porque não jogava o que jogo hoje. Foi um milagre. Lembro-me que estava a levar 6-2 e 4-1, ia recuperar aquele encontro uma vez na vida. Não é que hoje não esteja contente, mas na altura… também foi o primeiro ponto ATP. Achava que era o melhor, mas no dia seguinte perdi 6-0 e 6-1 em 30 minutos. O ténis é assim. Não era o melhor naquele dia, não era o pior no dia seguinte. Mas mesmo assim estou muito contente, conseguem ver.”

Pelo meio, houve uma sensação de delírio que o fez recordar esses tempos: “Apanhei-me a ganhar 3-0 quase sem falhar bolas e só com winners e estava a parecer-me um sonho, até olhei para o meu pai e estava a rir. Normalmente entra-se sempre nervoso e nem sempre se consegue entrar da maneira que eu consegui hoje, por isso fico contente. Tenho trabalhado muito a parte mental e isso ajuda-me a saber que tanto pode acontecer isto como o contrário e não é culpa minha, é a situação do jogo.”

Agora, o objetivo passa por duplicar a contagem na nave de campos cobertos do Jamor para chegar pela primeira vez ao quadro principal de um torneio Challenger, a rampa de lançamento perfeita para no verão, aí sim já com os estudos concluídos, abraçar definitivamente o profissionalismo. “Nos EUA há uma regra que diz que se vais em janeiro e perdes o fall, na última fall não podes jogar pela equipa, só podes ir lá fazer a escola e isso para mim não faz sentido. Então tenho feito mais aulas do que é suposto agora para voltar em maio, fazer duas aulas no verão e acabar o curso.”

Para já, o Jamor. Sem montanhas para correr, mas com um jogador mais cotado a superar, o russo Alexey Zakharov (325.º) separa-o do bilhete dourado que lhe permitiria voltar ao mundo dos livros e dos exames com uma motivação extra para os últimos meses.

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