Depois da suspensão, Martin está a “ler livro antigo” e quer criar novo capítulo na Maia

Eduardo Oliveira/FPT

MAIA – No ténis, como na vida, não há justiça e quem tem dinheiro tem mais vantagens. Esta é, pelo menos, a visão de Andrej Martin ao ver os últimos casos de doping a envolver superestrelas como Jannik Sinner e Iga Swiatek. O eslovaco de 35 anos foi arredado dos courts dois anos e lamenta apenas não ter tido as mesmas oportunidades de defesa. Agora admite: quando a chave para encerrar a carreira estava bem perto, todo o longo processo foi o combustível ideal de rejuvenescimento para prolongar uma vida tenística que parecia em abolição.

“Não tenho muitas informações sobre o caso [de Iga Swiatek] e cada caso é um caso. Mas jogadores sem tanto dinheiro para ter uma boa equipa em redor estão em desvantagem para se defenderem, o que é o normal também no geral, na vida. Infelizmente é assim que funciona. Não tive a oportunidade de ter a melhor equipa e, claro, quando és número dois tens dinheiro para ter os melhores e eles podem lutar por ti e podem defender-te. Não há nada de errado do lado dela, ela fez o melhor e foi bem-sucedida no caso. Infelizmente estive dois anos fora, se tivesse tido dinheiro talvez tivesse tido melhores pessoas atrás de mim e quem sabe não teria tido também um mês de suspensão ou algo assim. Por vezes a vida não é justa e há que lidar com isso”, explicou em conferência de imprensa depois do apuramento para as meias-finais da sétima edição do Maia Open.

Andrej Martin lidou com a situação da melhor forma e voltou a competir em junho de 2024, sensivelmente 24 meses depois de ter testado positivo a ostarina. Na altura, o 93.º do ranking em 2020 referiu ter-se tratado de uma bebida ingerida erradamente pertencente a um amigo do floorball, que admitiu posteriormente ter colocado a substância proibida na garrafa de água. Mesmo com o forte revés, Martin encontrou a força que nem sabia que precisava porque o que não o mata torna-o mais forte.

“Antes disto acontecer estava com falta de motivação e isto deu-me um empurrão por estar chateado por me tirarem algo”, admitiu, passando novamemte de seguida a nova analogia com a vida. O ténis sempre como a vida. “A jornada de regresso é como ler um livro antigo passado 20 anos. Foi bom fazer tudo de novo, regressar a locais onde estive há 15 anos. Foi uma boa experiência viver o mesmo de outra perspetiva. Espero voltar aos Challengers no próximo ano e continuar com estes resultados”.

Nos seis meses que competiu este ano, o experiente tenista conseguiu escalar até praticamente ao top 500 mundial (escusado será dizer que tinha perdido todo o ranking). Cotação a melhorar na próxima segunda-feira – virtualmente aparece no posto 424 e se vencer este sábado subirá uns 45 lugares extra. E com um título? Com um eventual 13.º título Challenger (tem 20 finais) pode mesmo reentrar no top 300 em pouco menos de meio ano de competição, fruto também dos três troféus ITF em quatro decisões.

E para alguém que chegou a disputar uma final ATP em Umag (2016) ou a partilhar palco com Novak Djokovic numa semifinal em 2021 na casa do sérvio, ter de retroceder à casa de partida podia ter sido um golpe fatal aos 35 anos. Mas não, e curiosamente a Maia serviu igualmente de motivação para a escalada. “Não tive um bom período na minha carreira e quando regressei o meu objetivo era estar neste torneio para tentar algum bom resultado. Estou feliz por ter dado certo. Estou feliz por estar aqui e por estar a jogar bom ténis depois de alguns anos”.

Fã das condições de jogo no Complexo Municipal de Ténis da Maia e de tudo o que envolve o torneio, Andrej Martin vai este sábado altercar a quarta meia-final em sete edições do Maia Open. “Nestas condições posso ombrear com qualquer um”, até mesmo com os portugueses, diríamos nós, pois para chegar ao penúltimo dia venceu cinco encontros, vindo do qualifying (no qual por pouco não entrava, já que foi alternate), e os três do quadro principal foram frente a jogadores da casa: Francisco Rocha, Pedro Araújo e Henrique Rocha. “Lamento ter tirado do torneio todos os portugueses (risos).

Para fazer o que ainda não foi feito e criar um novo capítulo num livro repleto de aventuras – em 2019 cedeu na semifinal para o Jozef Kovalik, na dupla edição de 2021 perdeu os dois duelos contra Chun-Hsin Tseng -, Andrej Martin terá de derrotar neste caso um italiano, o quarto cabeça de série Francesco Passaro (114.º), no segundo encontro da jornada deste sábado.


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