MAIA — Federico Coria e Damir Dzumhur viajaram para a Maia com um objetivo comum embrulhado em abordagens diferentes e esta sexta-feira colidiram trajetos na terra batida portuguesa, que no sábado será palco de uma final improvisada com implicações no primeiro Major do próximo ano. Um tem a mulher em casa à espera do casamento e quer dar outro tom à lua de mel em Melbourne, o outro deixou de preocupar-se e está a aproveitar a sensação de vingança.
“Estou muito contente e muito emocionado porque vim da Argentina para Portugal para jogar apenas uma semana e precisava de chegar às meias-finais para conseguir somar pontos e ultrapassar dois jogadores no ranking. É a última semana do ano, o cut do quadro principal para a Austrália acontece na segunda-feira e é um torneio muito importante, por isso a emoção e os nervos de o conseguir fazer… vamos ver como é que termina a semana, porque há outros jogadores à procura do mesmo, mas já valeu a pena vir até cá”, explicou o mais novo dos irmãos Coria (o mais velho, Guilhermo, foi finalista de Roland-Garros em 2004) após uma tremenda batalha ganha a Kimmer Coppejans para ficar com o primeiro bilhete das meias-finais.
O tenista argentino falou em conferência de imprensa enquanto o rival desenhava de forma bem mais tranquila e autoritária a vitória contra Albert Ramos-Vinolas e deixou escapar vários sorrisos de estupefacção perante a facilidade com que o bósnio o acompanhou para as meias-finais, obrigando a uma meia-final que servirá para acabar com as dúvidas: o vencedor poderá celebrar definitivamente a entrada no quadro principal do Australian Open, o derrotado terá de passar a quadra natalícia a fazer contas a desistências e rankings protegidos.
À procura deste objetivo há várias semanas, Coria esteve a uma vitória de o selar na primeira metade do mês, bem mais perto da cidade a que chama casa, Rosário, onde a mulher espera por ele: “Já podia estar de férias”, disse entre sorrisos. “Tenho muitas coisas a fazer na Argentina. Vou casar-me a 14 de dezembro, a minha mulher não está muito contente por eu estar aqui, mas também sabe que tenho sofrido para tentar acabar o ano no top 100 e a ir à Austrália. É uma excelente companheira, entende a importância que tem tudo isto e a nossa lua de mel vai ser na Austrália, por isso seria ainda mais bonito fazê-la com o quadro principal garantido.”
O sofrimento do sul-americano contrasta com a descontração que Dzumhur transparece, mas o jogador da Bósnia e Herzegovina admitiu que só agora, depois de várias semanas fracassadas, alcançou este estado de espírito — ainda que dentro do court, de raqueta na mão, não disfarce a tensão que o caracteriza.
“Os últimos meses foram muito difíceis. Perdi muitas vezes, perdi muitos encontros equilibrados e no ténis precisas de muitas vitórias para ficar confiante, mas um único encontro pode derrubar-te e isso aconteceu-me em setembro, na China. Joguei sem confiança desde aí, por isso para este último torneio do ano disse a mim mesmo que ia tentar o meu melhor sem pensar em resultados, porque se não tentasse provavelmente arrependia-me“, revelou depois de banalizar Albert Ramos-Vinolas (6-1 e 6-0 em menos de uma hora).
Bem mais difícil foi o triunfo da primeira ronda contra o português Frederico Silva, exatamente aquilo de que o ex-top 30 precisava para arrancar uma semana de decisões. “Há certos encontros que podem mudar não apenas um torneio ou um ano, mas uma carreira e pode ter sido um desses casos. O bom do ténis é que temos sempre a próxima semana para tentar fazer melhor e no meu caso essa semana chegou aqui”, considerou antes de deixar escapar um sorriso maroto ao ser confrontado com o cenário que tem vivido na Maia. É que, para além da primeira vitória da carreira contra o português, também somou a primeira vitória da carreira contra o espanhol e no sábado pode celebrar o mesmo contra o argentino.
Dzumhur deixou bem claro que a missão que o espera no fim de semana não será nada fácil, mas independentemente do desfecho não perderá o sono. Tudo consequência da abordagem que o tem ajudado a sorrir: “Depois de todas as oportunidades que desperdicei, disse a mim próprio que já não me importava se o conseguia fazer ou não. Não será o meu primeiro Australian Open e jogar o qualifying ou o quadro principal não vai mudar a minha vida. Faça o que fizer, esta foi uma boa temporada. A minha melhor nos últimos quatro anos.”
Os dados estão lançados, as contas já feitas. Coria e Dzumhur só dependem deles próprios e enfrentam-se às 11 horas na meia-final que inaugura a jornada de sábado no Complexo de Ténis da Maia.