LISBOA – Victoria Jimenez Kasintseva cresceu a ouvir dizer que ia ganhar tudo e mais alguma coisa. Aos 14 anos venceu o Australian Open e foi número um mundial no escalão de sub 18 e a partir de então foi constantemente apontada como uma das estrelas do futuro. O presente ainda não o confirmou, ainda que nos dias que correm, muito também devido a outros exemplos precoces, se ache que o futuro vem no imediato. O imediato mesmo imediato veio este domingo no Club Internacional de Foot-Ball, onde ergueu o quinto título profissional e o maior de todos eles.
O troféu que completou a mão cheia de êxitos foi o primeiro indoor da galeria, ainda que a prova se tenha realizado no CIF. Confusos? Bem, é que três dos cinco triunfos da tenista de 19 anos foram ganhos nos campos cobertos face à intempérie da semana que findou. “É um motivo de orgulho. Todas as mudanças, a chuva, não foi nada fácil”, admitiu em conferência de imprensa posterior à celebração emotiva no campo principal do histórico clube lisboeta.
“Estou a ter uma boa temporada”, sublinhou, ainda que este tenha sido o primeiro título de 2024 depois de três finais perdidas, uma delas num torneio W100, a maior categoria ITF. Por isso, este “significa muito” e a felicidade era por demais evidente. Talvez, quem sabe, até o motivo do dia mais soalheiro da semana.
Estamos certos que no final da sua carreira o Del Monte Lisboa Belém Open não venha a ser a maior das conquistas. Só que “cada pequeno passo conta”, e este não é tão pequeno como isso. É o fruto do “trabalho árduo”, tanto do pai, que a criou como jogadora, como da sua base técnica em Barcelona.
E vencer quatro encontros em dois dias nem foi uma experência inédita. No anterior título em solo nacional, Loulé 2022, Victoria Jimenez Kasintseva tinha vivenciado resiliência parecida. “Talvez seja um sinal de sorte”, disse entre os constantes sorrisos, tal criança numa loja de brinquedos.
Ela que nunca foi propriamente uma criança normal, já que na idade das brincadeiras andou a brilhar pelo circuito júnior. Obviamente que as expetativas disparam em flecha. “Tenho andado a combatê-las desde sempre. Pensei que por ganhar um Grand Slam aos 14 anos iria ganhar um como profissional antes dos 18. É de malucos”.
“Tinha demasiada pressão em cima de mim sem motivo. Agora estou mais calma em court e estou muito agradecida à minha psicóloga, à minha família…é preciso tempo para chegar lá e simplesmente deixei de ter expetativas. Não ouço quando me dizem que vou ser número um. Não é a realidade e tudo o que não é real de momento eu nem dou atenção. Neste momento acho que vou ser 150 [151 esta segunda-feira]. Quantas jogadoras podem dizer o mesmo? Essa é a minha realidade e tudo o resto não é saudável porque não é verdadeiro”.
Agora consegue desfrutar do progresso, o que não fez quando atingiu o posto 121 da tabela feminina em novembro de 2022. Sem sequer se compara a outras ainda mais precoces, como Coco Gauff ou Mirra Andreeva. “Comparava-me muito a outras jovens, mas cada uma tem o seu caminho. Tenho orgulho no meu. Dou mais valor ao que conquisto, não acredito que sou a melhor nem a pior. Não me comparo, isso é o pior a fazer”.
Todo este estado de espírito diverge muito do de 2023, por volta desta altura. A confiança tinha desaparecido, os pontos caíram (começou esta época fora do top 300) e até “chorava em campo”. Agora “controla melhor as emoções” graças à equipa em seu redor. “Já não sou uma miúda”.
A curto prazo quer ingressar diretamente no quadro principal do Australian Open, o que por outras palavras também significa entrar no top 100, mesmo que no início de 2024 o foco fosse entrar no ranking que praticamente fechou ao vencer no CIF. E, claro, tem sonhos como todos nós. Quer ser top 20 como objetivo claro, quer ganhar Grand Slams e ser número um como sonhos que dão combustível.
Eis Victoria Jimenez Kasintseva, de cara lavada e pronta a cumprir todas as profecias.