Os 30 são os novos 20 e Alexander Ritschard está a cumprir o que “sempre soube” ter dentro de si

Sara Falcão/FPT

LISBOA — A semana de superação resultou em história e Alexander Ritschard saiu do CIF com o quarto título Challenger da carreira e um sonho de criança cumprido, dado que a semana dourada no Del Monte Lisboa Belém Open vai fazer dele um jogador do top 100 ATP pela primeira vez. Tudo isto aos 30 anos, quando ainda se sente “bem a tempo” de deixar a sua marca depois de ter estado “a cinco minutos de amputar o braço direito” devido a uma lesão que quase destruiu a carreira.

“Estou incrivelmente orgulhoso e feliz por ter terminado a semana desta forma. Foi um torneio muito difícil e desafiante por causa da chuva. Para além disso foi uma semana incerta até ao fim, porque tive uma pequena lesão em Sevilha e estive até à última hora a decidir se jogava aqui em Lisboa”, admitiu na derradeira conferência de imprensa.

Para além destas variáveis havia uma outra na cabeça de Ritschard, que chegou ao CIF sem saber que podia sair do torneio como jogador do top 100: “Não sabia o que é que tinha de fazer para chegar lá, ou se ganhar o torneio chegava sequer. Mas no dia dos quartos de final houve um adepto que chegou ao pé de mim e me disse que se ganhasse seria 90 e tal na próxima semana e eu pensei ‘ora bolas, eu consigo fazer isto’, mas ao mesmo tempo ainda me faltavam outros dois encontros e estava tudo muito longe.”

“A partir daí comecei a receber lembretes constantes no meu telemóvel de pessoas que me diziam ‘estás quase’ e apercebi-me de que ficaria muito chateado se não aproveitasse esta oportunidade. Felizmente consegui e este tornou-se num torneio muito especial que vou recordar para sempre”, acrescentou Ritschard, que nasceu em Zurique filho de pai suíço e mãe norte-americana e mais tarde estudou na Universidade da Virgina, onde concluiu a licenciatura em Design Gráfico.

A final em Lisboa foi a quarta de uma temporada em que Alexander Ritschard tem sido das figuras principais no circuito secundário e os resultados fazem desta a melhor época da carreira, mas o percurso do suíço está longe de ser um mar de rosas.

“Fui operado cinco vezes e duas delas podiam ter posto um fim à minha carreira“, contou. “Os médicos continuam a lembrar-me do quão sortudo fui” por evitar a amputação do braço direito.

Tudo aconteceu em 2016, quando tinha 22 anos e estudava na Virginia. “Estava no ginásio e senti uma dor no ombro. Pensei que era uma distensão, mas acabou por ser um grande problema. Basicamente a artéria entupiu e deixou de haver fluxo sanguíneo para o resto do braço. Só posso contar o que os médicos me contaram e eles disseram que tinham de tomar uma decisão dentro de cinco minutos porque a artéria não abria, mas felizmente tive sorte porque abriu e o sangue começou a fluir novamente. Essa foi a primeira operação. A segunda foi para remover o problema, que surgiu porque a costela estava demasiado apertada e fez com que os pulmões se enchessem de sangue.”

Os graves problemas físicos permitiram a Ritschard “ver e viver outras coisas” como “um estudante normal, com festas e bebida” antes de recuperar e perceber que queria apostar no ténis profissional.

Tudo isto fez com que aos 30 anos ainda se sinta “bastante novo” num desporto em que “as pessoas começam a olhar para ti e a pensar que estás a caminhar para o fim.”

“Na minha opinião estou só a começar e quero ver até onde consigo chegar porque acho que tenho o que é necessário para estar entre os melhores”, disse sem hesitações.

Apesar das ambições, o mais recente campeão do Del Monte Lisboa Belém Open — que só entrará no top 100 na quarta-feira, quando terminarem os ATP 500 de Tóquio e Pequim e o ranking for finalmente atualidade — raramente viaja com treinador, optando pela companhia da namorada ao mesmo tempo que reduz custos e se divide entre as bases em Zurique e Marbella, residências de um e de outro.

Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Total
0
Share