OEIRAS – Já decorre a segunda semana do Campeonato do Mundo de Veteranos no Complexo de Ténis do Jamor, uma competição um pouco mais extensa do que a coletiva encerrada na passada sexta-feira. Essa prova por equipas teve como porta-estandartes glórias do ténis nacional como Rui Machado e Pedro Sousa, mas é impossível ignorar uma das maiores bandeiras presentes no santuário do ténis português: a italiana Alberta Brianti.
E se campeonatos do mundo anteriores na capital portuguesa (esta foi a quarta vez que a prova passou pelo Jamor e Club Internacional de Foot-Ball) contaram com nomes sonantes como Arnaud Clement ou Francisco Clavet, Brianti foi claramente a mais cotada de todos os estrangeiros presentes no Estádio Nacional na edição de 2024. Antiga 55.ª do ranking WTA e vencedora do Open de Marrocos em 2011, a agora transalpina de 44 anos encheu os courts com ténis clássico, em particular com uma fabulosa e quase extinta esquerda a uma mão.
Nos tempos (não tão idos assim) de Alberta Brianti, muitos mais jogadores e jogadoras utilizavam a esquerda dos primórdios. Duas das melhores tenistas do início do milénio, por exemplo, como as campeoníssimas Justine Henin e Amélie Mauresmo, atingiram a liderança da hierarquia a bater a esquerda a uma mão. Só que a última campeã de provas do Grand Slam com essa pancada já data de 2010, curiosamente uma compatriota de Brianti, Francesca Schiavone.
Hoje em dia, muito se tem falado sobre a morte da esquerda singular. Em fevereiro e pela primeira vez na história dos rankings, nenhum homem integrou o top 10 com essa pancada. Não durou muito tempo, diga-se, pois Grigor Dimitrov e Stefanos Tsitsipas rapidamente regressaram à restrita elite. Além do búlgaro e do grego, outros seis utilizam a esquerda batida a uma mão no atual top 100, enquanto no circuito feminino somente Diane Parry, Tatjana Maria e Viktorija Golubic sobrevivem do classicismo. No ténis nacional apenas Ana Filipa Santos faz parte da lista.
O próprio Roger Federer, talvez o maior embaixador recente da pancada, chegou a admitir que o jogo mudou e a velocidade contemporânea torna a esquerda batida a duas mãos mais eficiente. Alberta Brianti concorda, refere a maior dificuldade em ensinar a técnica aos mais jovens e sabe da pouca consistência face à potência em vigor. Ainda assim, para a italiana será “sempre a uma mão”, mesmo que ainda jogasse profissionalmente atualmente.
O gosto por competir mantém-se e as saudades de entrar nos maiores estádios da modalidade são algumas. “O tempo é o que é”, diz, resignada, mas a ligação umbilical não foi cortada. Anualmente representa o país no Campeonato do Mundo de Veteranos e sempre com sucesso. Sucesso até é uma forma pouco lisonjeira de olhar para a situação, já que a antiga top 60 WTA nunca perdeu um duelo na competição Master e a última das 16 vitórias deu-se na final W35 frente à portuguesa Magali De Lattre (também ela ex-profissional) na decisão do escalão vencida pelas transalpinas, o que para Brianti significou um terceiro título mundial consecutivo, segundo no Jamor.
O segredo para se divetir no desporto que já foi vida passa por disputar somente competições por equipas. “Ainda desfruto, sobretudo com os amigos ao lado, apesar de que com a idade ser cada vez mais difícil”, conta sempre entre sorrisos.
Quanto ao dia a dia, passa-se no Tennis Club Milano Alberto Bonacossa, clube que representa há cerca de 30 anos. Primeiro como jogadora, agora como treinadora tanto de profissionais como de jovens aspirantes. No fundo, Brianti é uma das milhares de peças que fundidas alimentam o país tenístico do momento.
De Jannik Sinner, número um mundial, a Jasmine Paolini, medalha de ouro olímpica e finalista de Roland-Garros e Wimbledon, passando pelo medalha de bronze Lorenzo Musetti e do antigo finalista de Wimbledon Matteo Berrettini, muitos são os nomes relevantes do ténis mundial ligados à squadra azzurra. “Temos uma grande paixão pelo desporto, é essencial para nós. Está no nosso ADN”, enaltece aquela que um dia também bebeu do sucesso de Schavione, Flavia Pennetta, Roberta Vinci e companhia para se integrar na alta roda. “A competição estimula e motiva”.
A passagem pelo nosso país não chegou a uma semana. E se em 2022 não foi a primeira presença, 2024 não terá sido a última. Aliás, as visitas são mais ou menos frequentes desde que começou a jogar provas pelos quatro cantos do mundo. Além do antigo Estoril Open, neste mesmo recinto “muito agradável”, Alberta Brianti recorda com carinho e importância os torneios jogados por cá.
“Gosto muito de vir a Portugal. Joguei uma final em Faro [2001], lembro-me de jogar em Valo do Lobo e o meu primeiro título foi ganho em Guimarães [2001]. Quando vejo que o Mundial é em Portugal quero logo ir. É um local especial para mim”.
O regresso de Brianti e da sua esquerda a uma mão fica, assim, marcado para um futuro próximo.