Radiante por dentro, estável por fora: Holmgren completa final de “sete vidas”

Lourenço Rodrigues

PORTO — Primeiro Alejandro Moro Cañas, depois August Holmgren. A improvável final do Eupago Porto Open vai colocar frente a frente dois jogadores pouco conhecidos do grande público, mas que pelo Complexo Desportivo do Monte Aventino têm não só deslumbrado como sobretudo resistido naquela que se está a revelar uma semana de superação quer para o espanhol, quer para o dinamarquês — ambos reencarnados em forma de gato tantas são as vidas já gastas.

Moro Cañas ficou com a primeira vaga ao beneficiar da desistência de Jaime Faria quando já estava muito próximo da vitória, mas no dia anterior precisou de salvar três match point e por isso em conferência de imprensa disse sentir-se “como um gato com as suas sete vidas.”

Ora, a declaração do espanhol foi a ponte perfeita para a conferência de imprensa seguinte — e para este texto — tal foi a forma como Holmgren completou o elenco da final: desta vez foi o dinamarquês quem esteve a um ponto da derrota antes de conseguir dar a volta a Mikhail Kukushkin num encontro de 3h10 que o levou à exaustão.

Mais de duas horas depois de carimbar a presença na final, o número 249 mundial ainda se apresentava algo descrente numa conferência de imprensa em que tentou manter a calma e evitar cair no caminho mais fácil e ceder ao deslumbramento. “Soube-me muito bem no court, mas quando voltei ao balneário não me pareceu tão entusiasmante quanto isso. Mas acho que essa é uma forma muito positiva de me sentir enquanto jogador de ténis”, começou por explicar.

“Deixem-me tentar outra vez. Tento manter as minhas emoções muito estáveis ao longo do torneio para não me entusiasmar demasiado e ao mesmo tempo não deprimir demasiado se perder. Por isso estou muito feliz por ter ganho hoje, muito agradecido por ter resistido, mas agora vou acalmar e olhar para amanhã enquanto tento manter este nível de calma porque sei que preciso dele para dar o meu melhor”, acrescentou.

O dinamarquês também foi à tática e ao mindset que lhe permitiu superar várias situações adversas durante a batalha dramática com o ex-top 40, mas o mais interessante foram as semelhanças com o derradeiro adversário: tal como Moro Cañas, Holmgren também trabalha regularmente com um psicólogo e tem estado em contacto com ele durante a semana de superação no Porto, que termina com os dois jogadores frente a frente a aproveitarem “as últimas vidas”.

“Espero ainda ter algumas de sobra porque tenho a certeza de que vou precisar delas para lhe ganhar”, disse entre sorrisos. E ele sabe de que fala: no único encontro anterior, também em Portugal (na segunda ronda do Indoor Oeiras Open II em janeiro deste ano), foi o espanhol quem levou a melhor.

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