LONDRES — Nuno Borges voltou a despedir-se de Wimbledon na primeira ronda e ficou visivelmente frustrado com a exibição que ditou a derrota para o japonês Yoshihito Nishioka na jornada desta terça-feira. Entre as críticas à performance e o medo que esteve sempre presente, o melhor tenista português da atualidade já só pensa no regresso à terra batida com os Jogos Olímpicos em mente, mas primeiro quer desligar do ténis.
“Foi um encontro para esquecer e uma temporada de relva para esquecer. Ainda estou a falar a quente, mas de certa maneira preferia nem ter jogado em relva porque são muito poucas oportunidades e os encontros são logo muito complicados. Não tive confiança em muitas coisas, desde a movimentação ao facto de não estar a ganhar encontros. E senti que fui um desastre em momentos decisivos. Só ganhei o terceiro set porque me foi oferecido, no fundo sempre que estivemos os dois a competir caiu para o lado dele”, resumiu na conversa com o Raquetc na sala de imprensa do All England Club após perder por 6-2, 7-6(6), 3-6 e 6-3.
O terceiro encontro do ano frente a este adversário (contra o qual tinha dividido os dois anteriores) podia ter ganho outros contornos caso Borges tivesse concretizado um dos seis set points que criou na segunda partida, mas o maiato admitiu que “não soube assumir o momento e fechar aqueles pontos, por isso não mereci.”
“A meu ver, é a superfície em que me sinto pior em campo. Também é aquela em que tenho claramente menos experiência, porque entro logo a frio num ATP 500 e não há grandes margens. Cheguei aqui a achar que tinha uma boa oportunidade e a achar que podia ganhar, mas para aquilo de que preciso como jogador ainda não tenho historial e nível suficiente para ganhar quando tenho um dia mau como este. Preciso de estar sempre bem e hoje não estive. O melhor encontro que fiz em relva foi em Halle, contra o Medvedev, mas depois não soube adaptar-me bem em Maiorca e quando temos jogos à chuva não vou mentir, não me sinto confortável”, desenvolveu.
Afinal, na mente Nuno Borges ainda tem a lesão que sofreu há exatamente um ano, na primeira ronda de Wimbledon, e que não só o impediu de manter o nível num encontro que estava bem encaminhado como o afastou da competição por várias semanas. “Houve várias vezes em que senti que o campo não estava bom. E na relva, quando começa a pingar um bocadinho, as probabilidades de cairmos aumentam logo muito. Os campos estão praticamente novos, é facílimo um dos pés fugir num split step. Acho que devia haver um cuidado extra nesta supercície, mas a ATP diz-nos que temos sapatilhas específicas. Só que também são feitas para não destruir a relva. Não digo que devessemos andar de chuteiras, mas claramente não é a mesma coisa. No futebol não vemos os jogadores a escorregarem como no ténis, aqui há vários jogadores que se lesionam e esta é claramente a superfície em que acontecem mais lesões num espaço de tempo mais reduzido. Não é para todos e desta vez não foi para mim, mas pelo menos saio daqui sem lesões.”
Muito frustrado, mas também lúcido, o melhor tenista português da atualidade explicou que depois das passagens em branco pelo ATP 500 de Halle, pelo ATP 250 de Maiorca e agora por Wimbledon “só quero seguir em frente e se pudesse treinar já amanhã em terra batida treinava.”
Mas ainda tem a variante de pares por disputar, ao lado do francês Arthur Rinderknech, antes de poder mudar o chip para um verão histórico que terá como pico a estreia nos Jogos Olímpicos, em Roland-Garros. Quando concluir a participação em Londres quer “tentar desligar ao máximo do ténis para descansar um bocadinho mentalmente, porque apesar de me apetecer trabalhar sinto que está a ser um pouco contraprodutivo. Eu quero muito isto e às vezes isso joga contra mim, mas sei que estou a jogar muito melhor do que aquilo que apresentei hoje.”