No ano em que Rafael Nadal caiu na primeira ronda, um outro espanhol assegurou a sucessão na catedral da terra batida: Carlos Alcaraz vingou o compatriota em plena final ao derrotar Alexander Zverev e conquistou Roland-Garros pela primeira vez, erguendo em Paris o terceiro título da carreira em torneios do Grand Slam. Todos em superfícies diferentes, algo sem precedentes para um jogador tão novo.
Dois anos depois de ser derrotado num encontro dos quartos de final em que o alemão vaticinou a sua hegemonia, o espanhol sorriu no 10.º e mais importante encontro entre ambos até ao momento — curiosamente, tal como contra Jannik Sinner dois dias antes — para vencer por 6-3, 2-6, 5-7, 6-1 e 6-2 após 4h19.
A final deste domingo foi apenas a segunda (Djokovic-Tsitsipas em 2021) nas últimas 20 edições de Roland-Garros a ser decidida num quinto set.
À semelhança do que aconteceu nas duas meias-finais, a qualidade de jogo não esteve à altura dos intervenientes. Tanto Alcaraz (liderou o terceiro set por 5-2 e perdeu-o com cinco jogos consecutivos) quanto Zverev (não aproveitou o embalo da recuperação e desapareceu na quarta partida) tiveram quebras atípicas, com os nervos à flor da pele desde os primeiros instantes a atrapalharem o desenrolar do braço de ferro.
Acabou por fazer a diferença o estilo de jogo mais variado do espanhol, com mais soluções, que assim aumentou para 12-1 o registo em encontros decididos num quinto set. Quanto a Zverev, quatro anos depois de ter liderado a final do US Open por dois sets a zero e de ter servido para a vitória contra Dominic Thiem na quinta partida, voltou a ver adiado o sonho de conquistar um Major pela primeira vez.
Aos 21 anos e 1 mês e 3 dias, Alcaraz tornou-se no mais novo dos sete homens da história a vencerem torneios do Grand Slam em três superfícies, batendo o recorde de Nadal (22 anos, 7 meses e 29 dias). Em 2022, o tenista de Múrcia já se tinha tornado no mais novo número um mundial de sempre no circuito masculino, então com 19 anos, 4 meses e 6 dias.
Ainda mais significativa será a linha de sucessão assegurada com esta conquista: num ano em que a Espanha viveu uma seca sem precedentes nas últimas quatro décadas em Roland-Garros, onde só Alcaraz e Paula Badosa alcançaram a quarta ronda, o único sobrevivente no quadro masculino levou até ao fim a investida, tornando-se no oitavo homem do país a erguer o troféu de singulares.
A história espanhola no torneio masculino começou com Manuel Santana, que venceu as edições de 1961 e 1964, e continuou nem 10 anos depois com Andres Gimeno, mas foi a partir da década de 90 que a hegemonia do país começou: Sergi Bruguera venceu em 1993 e 1994, Carlos Moya em 1998, Albert Costa em 2002, Juan Carlos Ferrero em 2003 e depois, já se sabe, vieram os 14 títulos de Nadal (mais do dobro dos seis que até há duas décadas faziam de Bjorn Borg o recordista masculino na Era Open). Pelo meio, Manuel Orantes (finalista em 1974), Alberto Berasategui (em 1994), Alex Corretja (1998 e 2001) e David Ferrer (2013) também ficaram perto da glória.
Com o futuro pela frente, Carlos Alcaraz já faz parte da história da catedral da terra batida.