Jaime Faria de corpo e alma no Jamor, mas com o olhar em Paris (e Londres): “Roland-Garros é especial”

Beatriz Ruivo/Federação Portuguesa de Ténis

OEIRAS — Jaime Faria (233.º) tinha sido o único português a ultrapassar a barreira da primeira ronda do quadro principal do Oeiras Open 4 e voltou na tarde desta quarta-feira a festejar para continuar a defender as cores nacionais no Complexo de Ténis do Jamor. O jovem do Centro de Alto Rendimento mostrou-se surpreendido com um “encontro um bocado atípico”, onde conseguiu encontrar desde cedo o norte para comandar as operações num frente-a-frente entre irmãos da mesma língua com o brasileiro Gustavo Heide (182.º), por 6-4 e 6-4.

Sem ter conseguido reunir muita matéria para preparar o embate frente a um jogador que lhe era desconhecido, comentou em conferência de imprensa que não conseguiu acionar o seu melhor ténis da semana: “Para ser sincero, não me senti grande coisa dentro de campo. As condições estão difíceis e cada jogador que passa aqui fala do vento, mas senti que ao longo do jogo fui controlando em ambos os sets porque entrei bem e a fazer breaks, e fui gerindo isso.”

E a passividade que o adversário evidenciou em certas passagens da partida apanharam o lisboeta desprevenido, que procurou não desviar as atenções para o que acontecia do outro lado da rede: “Não estava confortável com a postura que ele estava a ter em campo, senti que ele estava apático e desligado do jogo. Isso não era normal e não me senti muito confortável, mas fui tentando estar mais focado no serviço e tentar soltar um pouco mais nos jogos de resposta. O mais importante era mesmo a vitória.”

Permanece ainda em incógnita o nome do adversário seguinte de um compromisso com muito em jogo para o lado de Jaime Faria. Procura esta quinta-feira não só o apuramento para as meias-finais do Oeiras Open 4, como também uma entrada inédita na fase de qualificação de Wimbledon: para isso, terá de levar a melhor frente a Alex Michelsen (69.º) ou Dennis Novak (192.º).

Todavia, ainda antes de sonhar cruzar os portões do All England Club, Jaime Faria tem outra experiência em mente — e já bem próxima de se concretizar. Recebeu, na tarde desta terça-feira, que se vai estrear já na próxima semana em torneios do Grand Slam, a par de Henrique Rocha: “Estes momentos são uma celebração da nossa carreira, fiquei muito feliz ontem à tarde. Já tinha mais ou menos a ideia de que iria entrar, tinham saído alguns jogadores e esperavam-se os convites para o quadro principal, mas fiquei feliz”, observou, em alusão à viagem marcada para Roland-Garros.

Só que não chegou (ainda) o momento de se deslumbrar com a incursão na catedral da terra batida. Isso porque, para já, as atenções centram-se em tentar escapar às contas de entrada na fase de qualificação para o Major que se segue ao francês no calendário, do outro lado do Canal da Mancha: “Só mais esta semana para pontuar para Wimbledon e para entrar diretamente no qualifying. Não quero estar mais vezes na calculadora, é um bocado stressante. Tenho de ganhar mais um jogo e estou focado nisso.”

Em antevisão às sensações que vivenciará dentro de menos de uma semana, Jaime Faria confessou que tudo o que conhece de Roland-Garros resume-se ao que foi vendo ao longo dos anos a partir do sofá de casa, desde a infância: “Nunca fui a Paris e só fui uma vez a França. Conheço da televisão, de não sei quantas transmissões que vi.”

Ao contrário do companheiro e amigo Henrique Rocha, que competiu há dois anos na prova júnior de Roland-Garros, para Jaime Faria a aventura na capital gaulesa será nova e promete ficar cravada na sua memória. Mesmo que seja o saber só de experiências feito, exprime com brilho nos olhos: “É um torneio inacreditável e vou estar deslumbrado quando chegar e quando estiver a jogar. Tenho de trabalhar a minha parte psicológica para me tentar abstrair de tudo. Já tenho tido algumas experiências que me ajudam a lidar com outras emoções, mas Roland-Garros é especial.”

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