Comesana ou Blanchet. Um sem desejo de vingança, o outro de olhos postos no top 100

Sara Falcão/FPT

OEIRASFrancisco Comesana ou Ugo Blanchet. Um deles será o novo campeão do Oeiras Open 125, o terceiro Challenger do ano a acontecer no Jamor — primeiro nos courts de terra batida — e um dos dois Challengers mais importantes do país. Curiosamente, é o mais cotado quem tem mais em jogo à entrada para a final deste domingo.

Nascido em Mar del Plata há 23 anos, Francisco Comesana (115.º) está próximo da melhor classificação da carreira (114.º) e vai disputar a sétima final no circuito secundário, no qual já conta com quatro títulos, mas sempre em provas de categoria inferior.

Ugo Blanchet (192.º) é natural de Saint-Julien-en-Genevois, onde veio ao mundo há 25 anos, e também está muito próximo do melhor registo pessoal (190.º), celebrado já este mês. A decisão deste domingo será apenas a segunda da carreira em torneios Challenger, mas a estreia do francês a vencer a este nível foi precisamente nesta categoria.

Se alguém terá a pressão do seu lado este domingo, esse alguém é Comesana. O argentino persegue o título mais importante da carreira, se o conquistar assegura a estreia no top 100 mundial e até o frente-a-frente tem do seu lado, pois a caminho do título de Liberec na temporada transata levou a melhor sobre Blanchet de forma clara (6-3 e 6-0) nas meias-finais.

No entanto, esse duelo não tirou o sono ao francês, que em conferência de imprensa explicou que “estava muito doente e uma hora antes do encontro ainda estava no hospital porque comi qualquer coisa que me deixou muito mal.” Explicando que não conseguiu jogar o seu melhor ténis, Blanchet desvalorizou o primeiro braço de ferro e por isso considerou que a final deste domingo “não será uma vingança”.

Com Jo-Wilfried Tsonga como ídolo máximo e Roger Federer e Rafael Nadal como exemplos a seguir, o simpático francês que perdeu a timidez à medida que a conversa se desenrolou contou que “não consigo escolher entre o piso rápido e a terra batida porque sinto-me bem nas duas superfícies” e teve a humildade de reconhecer que ao contrário de vários compatriotas não explodiu mais cedo “porque quando era novo não treinava muito bem e precisei de tempo para aprender a ser profissional.”

Muito descontraído apesar de ter pela frente um dos encontros mais importantes da carreira, que independentemente do desfecho o levará à melhor classificação e até pode ser importante para as decisões tomadas pelos responsáveis de Roland-Garros, Blanchet terá no serviço e na direita as maiores armas para a final deste domingo, na qual não será surpreendente vê-lo a tentar concluir a maioria dos pontos “com as primeiras pancadas” quer nos jogos de serviço, quer nos de resposta, a receita para um triunfo autoritário sobre o compatriota Valentin Royer nas meias-finais.

Mas do outro lado do court estará um adversário com armas para neutralizar esse estilo de jogo. Comesano é argentino e joga como um argentino, com aquela energia extra para atravessar o court e repeti-lo enquanto se dispõe a prolongar os pontos e desgastar os adversários. Na meia-final contra Jaime Faria (que esteve a dois pontos da vitória) foi paciente e aumentou a agressividade com o decorrer do encontro, aproveitando o maior nervosismo do adversário para virar um encontro que a dada altura pareceu resolvido.

A lesão na anca que sofreu durante a segunda partida deixou-o “desconfortável” e quer na flash interview, quer na conferência de imprensa deixou escapar rasgos de preocupação com a recuperação para este domingo. De resto, quem o visse não diria que tinha pela frente uma noite de sono antes do dia mais importante da carreira.

Apesar de estar a uma vitória do maior título e da estreia no top 100, “um objetivo que tenho desde criança e que vou usar como motivação”, Comesana apresentou-se muito sorridente e relaxado. Talvez porque a forma como a semana foi preparada fosse propícia a isso mesmo: “Vim sozinho. O meu treinador é o Sebastian Gutierrez, que também treina o Sebastian Baez e que vai estar comigo em Madrid. Também trabalho com o Juan Manuel Abades e há a possibilidade de um deles vir amanhã ver a final, mas ainda não tenho a certeza porque o Juan Manuel foi pai recentemente e ficou mais tempo na Argentina. Por isso tomei a decisão de vir sozinho porque poderia ser bom para reconstruir a minha confiança.”

Os resultados falam por si. Com Juan Martín del Potro e David Nalbandian como maior referência, está perto de repetir as proezas dos dois compatriotas (ambos bicampeões do antigo Estoril Open) neste mesmo recinto, ainda que numa dimensão menor. Seria a cereja no topo do bolo de uma semana cada vez mais feliz que o “faz lembrar os tempos que passou no Brasil”, onde achou mais fácil compreender a língua.

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