OEIRAS — Em 2021, após os Jogos Olímpicos de Tóquio, Kiki Bertens decidiu colocar um ponto final numa carreira de sucesso aos 29 anos. Antiga número quatro WTA, titular de 10 troféus no circuito principal (dois da categoria 1000), semifinalista de Roland-Garros e quarto-finalista em Wimbledon, a neerlandesa tem muitos motivos de orgulho e ainda tinha alguns anos pela frente para competir, mas o corpo já não respondia da mesma forma e os desejos de constituir família imperaram. De consciência tranquila com a decisão, excluiu um regresso à competição como várias contemporâneas fizeram.
“Não tenho saudades”. Simpática e peremptória, Bertens nunca sequer equacionou mudar de ideias. “Ver o trabalho que se tem de ter diariamente fora do court, todas as horas. Penso, ‘não, já fiz isso’. Há muito stress envolvido. É tempo agora de ter outro papel. Não sinto falta, não há qualquer chance de regressar”.
Em especial nesta fase. Depois de ter dado à luz em 2022, a ex-tenista de Wateringen vai ser mãe pela segunda vez. Apesar de desfrutar de bater umas bolas, Kiki Bertens nunca duvidou da opção tomada. “Tinha um problema no tendão de aquiles há uns anos, até precisei de cirurgia. Voltei a competir e até estava a jogar bem, mas depois veio o coronavírus e foi difícil andar no circuito. As minhas irmãs tinham filhos e passei mais tempo com eles. E para mim sempre foi um objetivo competir até sentir que não podia melhorar mais e naquela altura senti que já não o podia fazer. Com o meu marido decidimos começar uma família. Foi a melhor decisão que tomei e na altura certa”.
Caroline Wozniacki, por exemplo, terminou a carreira em 2020, deu à luz duas vezes e regressou ao cirucito em 2023. A dinamarquesa também está (ou esteve) no Jamor, mas no papel de jogadora (é até um ano mais velha) ao serviço da equipa da Billie Jean King Cup. “No outro dia disse-lhe que tinha muito respeito pelo que está a fazer. Ela disse que era duro, mas que ainda gostava, então porque não? Tenho mesmo muito respeito pelas que voltam depois de serem mães. Para mim é demasiado. No entanto, no meu caso é um pouco diferente porque eu já tinha acabado a carreira quando fui mãe, não parei para criar família. Um mês depois de parar fiquei grávida. Por isso a minha situação é diferente e admiro-as mesmo, ficar em forma de novo é complicado”.
Atualmente, Bertens não segue muito o circuito feminino, apesar de ter estado frente a frente com a maior parte das tenistas de topo de hoje em dia. O que acompanha bastante são os resultados das jogadoras do seu país, visto estar ligada à Federação. É nesse papel que tem estado pelo Jamor, como treinadora adjunta da capitã Elise Tamaela. “Quando comecei a jogar ela já estava no tour. No final, ela foi minha fisioterapeuta e depois treinadora. Estarmos agora juntas na mesma equipa é muito bom, tem sido um prazer trabalhar com ela e é uma espécie de círculo completo. Espero que se mantenha assim durante muitos anos”.
Sem a número um do país Arantxa Rus, que à própria da hora decidiu ir competir individualmente para Zaragoza para desilusão evidente da equipa, os Países Baixos conseguiram, ainda assim, sobressair na pool de Portugal e Letónia (de Jelena Ostapenko) para carimbarem acesso aos play-offs de novembro. Um objetivo inicial, mas sem Rus já não tão expetável. Chegou-se à frente Suzan Lamens para ser a heroína local – na terça-feira amealhou um duplo triunfo sobre a top 10 mundial e o individual foi de longe o maior da carreira.
Lamens conhece Bertens desde os “cinco, seis anos” da tenista de 24 primaveras. Um exemplo do papel importante que a antiga top cinco WTA tem nas jogadoras neerlandesas. “Apenas faço o que gosto e o que posso. Quero ajudar e gosto do meu papel. Se as puder fazer evoluir nem que seja 1% isso faz-me feliz. É por isso que estou aqui”.
Kiki Bertens e a equipa laranja ficarão em Portugal até este sábado, dia do último compromisso só para cumprir calendário depois da passagem aos play-off ter sido assegurada logo na terça-feira. Um país do qual a semifinalista de Roland-Garros de 2016 não tem “grandes memórias” desportivas – disputou o antigo Estoril Open duas vezes e nunca superou a fase de qualificação -, mas onde desfrutou sempre. “O ano passado até passámos férias no Algarve. Às vezes voltamos”.