OEIRAS – Muitos anos depois de vir a Portugal ainda como júnior — passou tanto tempo que não se lembra absolutamente de nada —, Jelena Ostapenko tem abrilhantado e apimentado os courts do Complexo de Ténis do Jamor por estes dias. Ao serviço da seleção da Letónia no Grupo I da zona Europa-África, a atual 10.ª melhor jogadora do mundo tem exibido o pacote completo a todos os portugueses: ténis difícil de alcançar quando está bem, instantes depois erros em catadupa, reclamações por tudo e por nada, risos, gritos. Essa é a inigualável Jelena Ostapenko, a melhor letã de todos os tempos.
Com personalidade para dar e vender, obviamente que a negociação para vir a uma simples conferência de imprensa foi quase mais difícil do que batê-la em court. Mas ao sentar-se perante os jornalistas, a tenista de 26 anos começou a abrir o livro como se estivesse a bater na bola amarela, sem papas na língua. E por isso a primeira resposta foi logo para reclamar da qualidade dos campos. “Não é fácil jogar aqui. Os courts não são iguais aos do WTA, por isso é claro que não estamos habituadas à condições. Os ressaltos de bola são muito maus, honestamente. E jogar a Billie Jean King Cup nunca é fácil, é um torneio completamente diferente”.
Talvez o pouco conforto possa explicar a semana torbulenta. No dia inaugural, Ostapenko precisou de um tie-break de terceiro set para superar a número um nacional Francisca Jorge em 2h44; no segundo, perdeu uma dupla jornada entre singulares e pares e passou quase quatro horas a competir; no dia da conferência de imprensa o saldo foi inverso ao do dia anterior, mas voltou a despender cerca de três horas e meia perante um forte calor e a pressão de jogar por algo maior do que ela. “Não estou a jogar nada bem, mas dois dos encontros de singulares consegui ganhar e isso é que interessa. Agora, há que dizer que não estou, de todo, a jogar o meu melhor”.
O aviso — se ganha a jogar mal, o que poderá fazer nos melhores dias — deixa água na boca para o duelo aguardado contra Maria Sakkari, já referente ao segundo grupo. Um grupo onde também está a Dinamarca de Caroline Wozniacki e no qual só um dos três tubarões vai carimbar o acesso aos play-offs de novembro. No entanto, o primeiro duelo entre tenistas do top 10 WTA em solo nacional pode estar comprometido. “Vamos ver o que acontece amanhã. Não tenho a certeza se vou jogar”.
“Já joguei encontros suficientes nestes últimos dias. E jogar a Billie Jean King Cup acarreta o dobro do desgaste. Jogo por mim e pelo país e gasto muita energia nisso, bem mais do que no tour. Após três dias de competição estou com pouca energia”, observou, sem antes justificar um pouco a montanha-russa exibicional. “Aqui qualquer uma pode bater qualquer outra. As jogadoras de topo baixam o nível e há muito mais pressão. Acho que não devemos ligar muitos aos resultados porque se defrontasse estas jogadoras noutros torneios seria completamente diferente”.
Sétima melhor tenista de 2024 fruto, essencialmente, dos dois títulos da categoria 500 (Adelaide e Linz) amealhados na presente época (é a jogadora com mais troféus este ano a par de Iga Swiatek e Elena Rybakina, isto além de um título de pares e da final do Australian Open na mesma variante), Jelena Ostapenko não quer colocar demasiadas expetativas na temporada de terra batida. Mas a meia-final de Roma na temporada trasata e, sobretudo, o estrelato em Roland-Garros no ano 2017 fazem com que seja sempre tida em conta na superfície. “Não vou pôr pressão em mim mesma. Vou apenas jogar e divertir-me. Se o fizer, certamente vou ter bons resultados”.
“Até gostava que houvesse mais provas em terra batida. E em relva, o meu piso favorito. Sinto que em hard courts qualquer uma pode jogar bem porque os ressaltos são todos iguais. Não é uma grande coisa jogar bem em hard courts. Nas outras superfícies temos de nos adaptar mais”. Não é por isso de estranhar – até porque aos 19 anos venceu em Paris e tornou-se a primeira letã, mulher ou homem, a vencer um Grand Slam – que o maior sonho seja vencer Wimbledon como profissional, numa altura em que se celebra a primeira década desde o título júnior no All England Lawn Tennis Club.
Com 21 triunfos sobre tenistas do top 10 no currículo — em 2024 ainda não mediu forças contra nenhuma dessa elite, será esta quinta-feira? — e com um registo imaculado face a Swiatek (4-0), por exemplo, onde é que antiga top cinco WTA se coloca entre as melhores do mundo? “Sou uma das melhores. Posso ser uma das melhores e uma das mais perigosas”.
Senhoras e senhores, a única e singular Jelena Ostapenko assim como é em pleno Jamor.
