Nuno Borges, campeão em casa: concretização do sonho é o “highlight da carreira”

Sebastião Guimarães/FPT

MAIA Nuno Borges chegou à Escola de Ténis da Maia como milhares de outras crianças a perseguir um sonho ou simplesmente à procura de diversão. Do rapaz inicialmente desengonçado a campeão do Maia Open à sexta edição, o maiato passou por muito, chegou ao top 100 mundial, tornou-se número um nacional, representou Portugal e conquistou títulos importantes no ATP Chalenger Tour. Mas não tem dúvidas: ganhar em casa é o ponto alto da carreira.

“É, sem dúvida, um sonho tornado realidade. Claro que depois de ganhar o match point comecei a reviver os momentos que tive aqui no passado. Podia contar histórias passadas aqui durante meia-hora. O Court Central é o pico da Maia, um estádio que me diz muito e a muitos portugueses. Taça Davis aqui passadas, Davis em que fui apanha-bolas. Já não me recordo do teto abrir, mas lembro-me que havia um torneio equivalente aos ATPs de hoje em dia, com Juan Carlos Ferrero e muitos outros. Poder fazer parte de um grupo de campeões neste campo diz-me muito e ganhar este torneio aqui em frente a um estádio praticamente cheio, até na bancada lá de cima estava gente, não me lembro de nada assim. Família, amigos, aqueles que treinaram comigo aqui nos meus tempos áureos, tudo isso torna mais e mais especial. O João Maio fazer parte da direção do torneio e toda a gente envolvida, não só como espetador, mas também na organização, torna tudo muito especial para mim. Não foi mais importante para mim do que Phoenix, que em termos de ténis vale menos pontos, mas emocionalmente sem dúvida que é o highlight na minha carreira e algo de muito especial para mim”, começou por enaltecer em conferência de imprensa posterior ao quinto título Challenger da carreira.

A final perdida em 2021 e as duas meias-finais, a última há um ano, “ajudaram a chegar aqui”. “Havia muita coisa em jogo e tive de saber lidar com a pressão de jogar em casa, tudo isso deu-me mais confiança para estar aqui em mais uma final, saber competir devido a essa experiência de ter jogado neste campo em muitos encontros importantes. Tudo foi um bom feedback para eu aprender e fazer melhor”.

Numa decisão muito bem preparada, até tendo em conta a imprevisibilidade de Benoit Paire, Borges admitiu que a certa altura foi difícil não deixar os pensamentos da vitória aparecerem – chegou a liderar por 6-1 e 5-1. O talentoso oponente também começou a subir o nível e, de repente, o sucesso praticamente consumado complicou-se. “Se tivesse ganho 7-6(13-11) no terceiro set aceitava na mesma, mas ainda bem que foi assim (risos). A nível físico não foi desgastante, mas a nível emocional era a valer e saio desta semana com muita felicidade porque queria mesmo muito ganhar aqui”.

Com um Complexo Municipal de Ténis da Maia a rebentar pelas costuras, o português de 26 anos espera que o seu sucesso seja uma “inspiração” para os mais novos. “Sou da Maia, cresci e treinei aqui e agora ganhei o torneio. Espero que os mais miúdos saibam que é possível e esse é também o propósito da existência desta competição”.

O Maia Open deu ainda mais certezas quanto a 2023 “ser o melhor ano de sempre”.

“O ano passado já pude jogar alguns ATPs e Grand Slams, pude participar em alguns quadros principais de Masters 1000, mais quadro principais de ATP 250, um ou outro 500, pude jogar contra o Carlos Alcaraz em Barcelona, isso são experiências incríveis que também contam e adicionam valor ao meu ano. Entre outras, Tsitsipas em Roma também, isso são jogos que me ajudam a ver o que está do outro lado da rede para um top 10 e sentir na pele o que é jogar ao mais alto nível. Sem dúvida que foi o meu melhor ano e agora vou à procura de mais”.

Mais passará por atingir o nível seguinte, depois de quatro grandes finais na categoria intermédia na época que acaba de findar (títulos Challenger 175, 125 e 100 e ainda uma final 100). “Sinto-me pronto para fazer uma final num ATP. Vou com ambição para isso, se não vier não vem e continuo a tentar nos Challengers, mas é esse o meu objetivo”.

O foco passa, agora, para a preparação para 2024 (já dispôs de alguns dias de férias prévios ao Maia Open) na base de treino do Centro de Alto Rendimento da Federação Portugesa de Ténis, no Jamor, e o maior objetivo é a participação nos Jogos Olímpicos do próximo verão.

A vitória em casa perante os seus é o combustível ideal para essa perseguição, até porque os sonhos não se esgotam. O filho pródigo da Maia coroou a sexta edição da prova e a prova coroou, para já, emocionalmente a carreira de Nuno Borges.

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