“O ténis jamais viu alguém assim” — Pedro Sousa aos olhos de quem bem o conhece

Millennium Estoril Open

LISBOA — A pouca competição dos últimos meses fazia antever o desfecho e nem o discurso otimista de janeiro, com metas de regresso ao top 100, surpreendeu a elite do ténis nacional, que conhece muito bem Pedro Sousa e já esperava o pendurar de raquetas do lisboeta anunciado no passado dia 1 de abril, no Millennium Estoril Open. Sem espanto, mas com nostalgia e carinho, muitas foram as vozes de destaque no ténis português disponíveis para falar sobre um dos melhores portugueses de todos os tempos. A unanimidade é ensurdecedora: Pedro Sousa é visto como um companheiro de destaque, mas acima de tudo como alguém bafejado pelo talento que alcançou muito e até podia ter almejado um currículo bem superior. Fala quem sabe.

GASTÃO ELIAS — O ténis jamais viu alguém assim. Mundialmente não há ninguém que jogue ténis como o Pedro, pelo menos eu nunca vi. O Pedro é o meu melhor amigo no ténis, treino com ele desde os 10 anos. O pai dele foi uma das pessoas mais importantes no meu desenvolvimento como jogador quando me abriu as portas do CIF desde muito cedo e sempre esteve muito disponível para me ajudar em tudo. Talvez por isso tenha uma relação tão boa com a família. 

É uma pena. Todos dias lhe digo que vou criar uma hashtag #ContinuaPedro, algo assim. Cada um toma as decisões que acha ser as mais corretas. Ele está noutra página, tem dois filhos, o ténis é quase secundário na vida dele e eu entendo isso perfeitamente. Mas continuo a dizer-lhe que em termos de qualidade tenística ele tinha muito para dar. A forma como ele joga, a facilidade que tem em jogar ténis. O pouco esforço que faz em bater na bola e estar dentro de campo dá-lhe muita vida. Acredito plenamente que ainda tinha muitos anos pela frente. É triste, porque é uma pessoa que qualquer um admira e gosta de ver jogar. É diferente de tudo o que já vi dentro de um campo de ténis. Faz coisas que mais ninguém faz. Não há uma pessoa no mundo do ténis que não faça aquele ‘uf’ quando se fala no Pedro Sousa. 

Tenho na memória quando jogou com o Del Potro, que era um dos principais nomes no ténis. Via-se de fora e parecia que o Pedro estava a bater em meninos, o Del Potro parecia banal. Só podia ser o Pedro a fazer algo assim. Nós na Taça Davis brincávamos que quando soubéssemos que íamos ter um jogo impossível de ganhar tinha de jogar o Pedro Sousa porque assim era sempre possível. 

O ténis português nunca viu ninguém como o Pedro e duvido que vá voltar a ver algo parecido. 

JOÃO SOUSA — Dou-me muito bem com o Pedro, é sensivelmente da minha geração. Conheço-o muito bem, é uma excelente pessoa. Tem uma carreira incrível e é um excelente jogador. Acho até que fez pouco para o potencial que tem, mas cada um dá o seu melhor. Independentemente disso tem uma carreira incrível e fez excelentes encontros. Lembro-me do encontro contra o Del Potro. Tive a oportunidade de jogar contra ele e sentir o seu potencial. É uma pessoa que me diz muito, é uma pessoa amiga e desejo-lhe o melhor para o futuro. Terá muitas portas abertas no ténis, e não só, e merece o melhor.

RUI MACHADO O Pedro teve uma capacidade de entrega em treino extraordinária. Por muito que a maneira de ser dele às vezes possa não o transparecer, foi dos jogadores que mais vi entregar-se no treino. Foi um jogador super profissional e pontual.

É um atleta muito resiliente, que voltou de muitas lesões e deu sempre a volta por cima. Isso mostra a sua capacidade de cair e voltar a erguer-se, ou seja esta resiliência que é muito importante para um jogador de ténis.

É um jogador que dá gosto ver jogar quando está competitivo. É um jogador que enche o olho, que vai surpreender em alguns momentos com bolas espetaculares, vai anular o jogo do adversário por completo. Isso é daquelas coisas que se gosta de observar ao ver um jogo de ténis, ver um dos atletas a superiorizar-se ao adversário.

GONÇALO FALCÃO — O Pedro é claramente como um irmão, até porque os irmãos de vez em quando também têm alturas em que andam meio chateados e não se podem ver de tanto tempo que estão juntos. É, com certeza, da minha parte pelo menos, o mais antigo e melhor amigo, já que nos aturamos desde os sete/oito anos, nos famosos Baby Cups daquela altura (era mesmo assim que se chamavam), nas muitas viagens que fizemos para fora de carro nos sub 12/14/16, em europeus… havia mesmo alguma “rivalidade” nessa altura e ficou-me marcada a final do internacional sub 12 dos Açores que jogámos um contra o outro, depois de também ganharmos os pares juntos, final essa que lhe ganhei (bons tempos em que esse ex-top100 ATP não cheirava do Falcão).

A partir dos sub 18 foi quando o Pedro começou a disparar para outro nível em relacão a mim, fizemos várias semanas juntos na América do Sul nos juniores onde temos alguns episódios bem cómicos, mas aí, lá está, ele já estava noutro patamar e arrancou para os Grand Slams. Lembro-me do dia em que ele foi para Roland-Garros (juniores) e de eu estar genuinamente contente por ele e lhe mandar mensagem a desejar boa sorte e para aproveitar. Mal sabíamos nós tudo o que ele ia alcançar depois.

Temos um episódio engraçado de quando fomos os dois de carro de Lisboa para Reus jogar um ITF: quase 11 horas de carro e 1000km depois calhámos um contra o outro na primeira ronda de um qualifying entre um quadro de 128 jogadores.

Uma ou outra vez fiz flightsitting à distância (babysitting a andar de avião) e à uma ou duas da manhã estava em casa a falar com ele por mensagem enquanto ele vinha no avião, sabendo que ele odeia andar de avião… enfim, hoje, com 35 anos, continuamos a passar dias e semanas juntos, discussões benfiquistas, idas ao Estádio da Luz com a dupla Pedro/Manecas e “tomar conta” daqueles dois reizinhos que são os filhos dele quando o Lord Pedro precisava de descansar ou dar uma “aula” a alguém das tantas que deu por esses torneios fora… Parece-me que a razão pela qual ele vai deixar de jogar profissionalmente era a última que nos lembraríamos quando tínhamos 10 anos, mas sem dúvida que é a melhor razão do mundo porque ele e a Carocha [Margarida Monteiro, a esposa] têm dois filhos incríveis e precisam que o pai esteja presente acima de tudo para transmitir o benfiquismo e para ensinar aquela esquerda que ele tem que chega a ser injusta para qualquer adversário.

O Pedro sempre foi criticado pela postura que tinha em campo, mas conhecendo-o como conheço não tenho a mínima dúvida de que queria mais do que ninguém ganhar a tudo e todos e que só ele sabe por aquilo que passou. A imagem que fica dele é a do jogador de ténis português mais talentoso e de quem eu sempre disse que podia ficar semanas sem treinar que mal voltasse iria estar a um nível impressionante.

Tem um currículo invejável e, apesar de todo o talento, tudo o que conseguiu foi fruto do trabalho dele, por isso tem um mérito gigante! Não falta muito para nos sentarmos a ver o mini Manuel de Sousa a continuar o legado do pai Pedro… e só por isso ja merece o meu obrigado!

NUNO BORGES — O Pedro tem sido mais do que um amigo. Tem sido um dos meus maiores parceiros de treino e sempre um dos maiores desafios. Ajudou-me imenso nos últimos dois anos. É engraçado porque lhe ganhei mas nunca me via favorito contra ele. Sempre admirei muito a forma como joga. Sei que não estava mais motivado, baixou no ranking e com dois filhos é natural a decisão de partir para uma nova etapa. Mas acredito perfeitamente que podia continuar a jogar. Tem o ténis para isso, mas merece o seu descanso e teve uma carreira espetacular.

FRANCISCO CABRAL Quando comecei no CAR [Centro de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Ténis] acompanhei-o de muito perto. Acompanhei a vontade dele, o que metia nos treinos. Acompanhei a felicidade quando atingiu um objetivo da carreira de toda a gente, o top 100. Na minha opinião podia ter ido mais longe.

É das melhores pessoas que conheci na minha vida e temos uma relação excelente. Estou-me a emocionar porque é uma pessoa especial para mim, temos uma relação diferente, tanto com a mulher dele, como com os filhos dele tenho uma relação que não tenho com outros jogadores portugueses ou estrangeiros ou com amigos da escola. Custa-me vê-lo ir embora, mas o tempo de cada um é a própria pessoa que o decide e fico feliz por vê-lo terminar a carreira sem lesões, que foi algo que o afetou imenso.

JOÃO DOMINGUES — Passo muito tempo com o Pedro. É um amigo, já lhe disse que devia repensar. É uma pena. Foi o jogador português com quem convivi mais. Gosto mesmo muito dele, adoro estar com ele em torneios. É um grande jogador, muito talentoso e uma grande pessoa. Tenho pena, acho que tem qualidade para continuar a jogar porque treino com ele todos os dias e vejo que ele pode ainda dar muitas cartas, estou sempre a dizer-lhe isso. Mas a decisão é dele e há que o parabenizar pela carreira que teve que é incrível por todos os motivos e mais alguns. É sem dúvida um jogador a admirar pelo que fez pelo ténis.

FREDERICO SILVA — Já sabíamos que talvez o Pedro não jogasse muito mais tempo, infelizmente. Dá sempre imenso prazer vê-lo jogar, todos gostamos muito dele e sem dúvida que vamos sentir a sua falta. Mas acredito que as coisas na vida dele já se estão a encaminhar para outro tipo de projetos que se calhar ser tenista profissional não permitem conciliar.

Todos vão ter ótimas memórias dele. Para mim, que sou um pouco mais novo do que ele e me lembro dele desde sempre, sempre foi um jogador que me deu muito prazer ver jogar e sempre me dei muito bem com ele.

JOÃO CUNHA E SILVA — O Pedro entrou no restrito grupo dos melhores portugueses de sempre e, para os fãs da modalidade, mais jovens e mais velhos, ficará para sempre o “perfume” do seu ténis.

Penso que acabou por fazer jus ao potencial que lhe era reconhecido pois entrou no restrito grupo do top 100 ATP. Talvez tenha tardado um pouco mais do que outros a amadurecer, a ser mais auto-confiante nas suas capacidades para lidar com uma série de coisas inerentes à competição que não são técnicas, nem táticas. 

É um jogador com um timing fabuloso a bater na bola. Uma capacidade de mudar a velocidade do jogo, quer acelerando, quer desacerelando, soberba. Uma capacidade de execução ótima do amortie. Uma leitura tática muito acima da média. Uma resposta ao serviço fantástica. Uma execução de esquerda paralela muito certeira.

Penso que construímos uma relação de amizade, carinho, admiração e respeito. Conheço o Pedro desde bebé e quando o conheci mais profundamente, mais velho, como pessoa e jogador quando o treinei, passei a apreciá-lo de forma superior. Ele era muito tímido e reservado de início. 

Só posso dizer coisas boas dele a todos os níveis, quer de trabalho, quer de valores humanos.

FRED GIL — O Pedro é super talentoso e tem um físico excelente para o ténis. Na minha opinião podia ter chegado mais longe. Considero-o um amigo e um jogador com muita dificuldade de jogar contra. Lembro-me de estar a top 100 e não entendia como é que ele estava muito longe do meu ranking porque me ganhava muitas vezes em treino.

Desejo-lhe felicidades para o futuro, vai ser uma pessoa sempre com um marco muito grande no ténis português. São poucos os que dedicaram uma vida a uma carreira profissional e tenho muita consideração por isso. 

EMANUEL COUTO — O nosso ténis vai enriquecer sempre que um jogador profissional como ele acabe a carreira de jogador e fique ligado à modalidade da maneira que entender mais interessante.

Como jogador, era um exemplo de como bater na bola de fundo do campo. Um timing perfeito e um verdadeiro pesadelo para qualquer jogador que não tivesse armas para contrariar o seu jogo de fundo

Mas mais importante que o jogador é sempre a pessoa e nesse aspecto só tenho coisas boas a dizer. Uma pessoa séria, verdadeira, directa e muito trabalhador, ao contrário do que muitos possam achar. Gosto da maneira como nunca tentou agradar a todos mesmo sabendo que uma boa parte das pessoas que não lhe achavam muita piada. Essas pessoas só pensavam assim porque nunca tiveram a oportunidade de o conhecer melhor

BERNARDO MOTA – O Pedro é, na minha opinião, um dos mais talentosos, ou o mais talentoso, jogadores de sempre em Portugal. Trabalhei com o Pedro no ano em que assustou o Del Potro, no Estoril Open, e quem o conhece bem sabe a facilidade que tem em bater na bola, que é única.

Tive uma relação muito estreita com o seu pai e treinador de quase sempre. Com o Pedro, guardei uma boa relação após o tempo em que trabalhámos. Só numa fase adiantada da carreira conseguiu potenciar o treino na sua plenitude e a alegria no court.

Teve várias lesões que o impediram de ter maior consistência competitiva. Mas, sem dúvida, tem uma bonita carreira que parecia poder ser ainda melhor.

PEDRO CORDEIRO — Conheço o Pedro desde miúdo. Desde o início que dava para ver que era um atleta com muita qualidade e que poderia atingir um patamar de mais alto nível do ténis mundial.

Não concordo com as críticas de falta de trabalho, vontade e motivação. O Pedro sempre foi um grande trabalhador, treinava muito bem e quando entrava nos encontros dava sempre o seu máximo. Às vezes ia-se abaixo psicologicamente, mas com o decorrer dos anos foi melhorando nesse aspecto.

Como pessoa do ténis só tenho a agradecer tudo o que fez pelo ténis português, dar-lhe os parabéns pela sua carreira e desejar-lhe as maiores felicidades para a nova etapa, seja ela qual for.

Extra, CASPER RUUD — Joguei contra ele duas finais. Em Buenos Aires [ATP 250] ele estava lesionado. Em Braga jogou muito bem e deu-me uma lição. É um jogador muito talentoso, poderoso de esquerda, de direita, muito bom rapaz. Não fazia muito drama em redor dele próprio, estava sempre focado no que interessava, que era jogar. É o típico jogador que admiro. É um excelente rapaz, tenho a certeza de que continuarei a vê-lo nos próximos anos. Desejo-lhe o melhor daqui em diante e que desfrute do próximo capítulo da sua vida.

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