Ainda não eram 10h30 e já uma das bancadas laterais estava totalmente preenchida. Às 11h havia poucos lugares disponíveis e quando o primeiro serviço foi feito já muitos se aglomeravam de pé. Depois, foi vê-los a chegar, a chegar, a chegar, a falta de lugares sentados a não ser obstáculo a que ali permanecessem de pé, a maioria deles sem sombra naquele que foi o dia mais quente do ano. É esta a melhor — mas não a única — imagem para descrever um Porto Open quase perfeito.
A história do maior torneio de ténis da cidade do Porto é longa e divide-se entre duas casas, duas superfícies e vários formatos, sendo importante esclarecer que esta foi a terceira edição consecutiva a integrar o calendário do ATP Challenger Tour e a mais importante de sempre no circuito masculino (por ter sido elevada à categoria 125 depois de dois anos como 80). Mas a génese do torneio é o ténis feminino e foi com as senhoras que, nos anos de 2001 e 2002, se realizaram as provas mais importantes de todas, equivalentes aos atuais WTA 250.
Desde aí, o Porto Open oscilou entre as várias categorias do escalão menor (ITF) e ora acolheu homens e mulheres ao mesmo tempo, ora optou por um género ou por outro, consoante os apoios permitiam e o ténis português mais necessitava.
Os ares voltaram a soprar na direção desejada ainda a prova estava a cumprir uma das suas 10 edições no Clube de Ténis do Porto, com o ano de 2016 a assinalar o regresso das edições combinadas, isto é, com quadros femininos e masculinos ainda antes da entrada na maioridade. Depois o torneio voltou a casa, ao Complexo Desportivo do Monte Aventino, entretanto gerido e transformado pela Federação Portuguesa de Ténis.
Como torneio da cidade, a ambição era crescer. O ano de 2020 já o antecipara, com três provas do circuito ITF a preencherem os courts, e o de 2021 confirmou-o. O circuito secundário regressou, finalmente, à cidade invicta, onde por iniciativa privada já tinha estado na década de 90.
A primeira edição do Porto Open como torneio do ATP Challenger Tour foi jogada à porta fechada, uma consequência das medidas pandémicas que fez com que o upgrade passasse ao lado da maioria dos portuenses, e a segunda não só aconteceu durante a segunda semana de Wimbledon, como foi tímida em vitórias para a comitiva portuguesa.
Em 2023 tudo foi diferente.
A Associação de Ténis do Porto e a Federação Portuguesa de Ténis responderam com entusiasmo ao desejo da ATP, que olhou para o Porto Open e o início de agosto como uma combinação perfeita para organizar um Challenger 125 em piso rápido ao ar livre — a derradeira ligação perfeita antes das últimas viagens para a swing da mesma superfície nos Estados Unidos da América que culmina no US Open.
E os astros alinharam-se.
A comitiva portuguesa respondeu em massa e histórias começaram a ser escritas desde a primeira jornada.
Com vitórias inéditas dos jovens Hugo Maia (no qualifying), Jaime Faria e Henrique Rocha (no quadro principal) e uma campanha quase perfeita de João Sousa (finalista), os portuenses reagiram e o Complexo Desportivo do Monte Aventino encheu ao longo de toda a semana — os encontros do vimaranense foram o apogeu de adesão, mas Rocha arrastou consigo muitos conterrâneos, Faria fez com que o court secundário ficasse sobrelotado para um extraordinário encontro em que quase derrotou Pierre-Hugues Herbert e também João Domingues chamou os oliveirenses e muitos outros apoiantes de várias regiões do Norte.
Em suma, o Porto Open foi ao encontro do seu objetivo e tornou-se um verdadeiro ponto de encontro, missão tão enfatizada pelo diretor de prova, António Paes de Faria, que é também o diretor da Associação de Ténis do Porto.
“Casa cheia” não é um termo estranho aos responsáveis do Porto Open, que ainda no Clube de Ténis do Porto viram aquele court central esgotar para a vitória do portuense João Monteiro, em 2017, e a final do maiato Nuno Borges, em 2018. A surpreendente caminhada até à final do madeirense Daniel Rodrigues, em 2019 e já no Monte Aventino, também teve uma excelente resposta da população e não será exagero referir que a decisão de 2020, em que Gastão Elias se impôs perante Nuno Borges, só não resultou numa enorme adesão porque as restrições pandémicas obrigaram ao fecho de portas.
Mas na última semana o Porto Open transcendeu-se. Com capacidade para cerca de 900 espetadores, o court central do Complexo Desportivo do Monte Aventino esteve várias vezes perto do limite, até que no Dia D deixou de ser suficiente. O calor era muito, mas às 10h já havia várias dezenas — senão centenas — de espetadores no recinto, às 10h30 a bancada lateral com sombra estava totalmente preenchida e ainda a final não tinha começado e já era preciso ficar de pé.
Este foi o Porto Open que a invicta merece. E veio para ficar.