PORTO — Cinco anos depois, João Domingues desceu do circuito Challenger para o ITF. Uma mudança indolor à vista desarmada, mas que para quem pisa o court envolve condições totalmente distintas que influenciam a forma como a ação decorre. E depois de voltar a sentir na pele o que é competir sem a presença dos apanha-bolas, que encurtam as pausas entre as jogadas, e com menos regalias, que devolvem responsabilidades, demonstrou a disponibilidade necessária para voltar a escalar pelo ranking acima.
“Nos últimos seis dias joguei cinco encontros e isso já não acontecia desde que ganhei um Challenger no ano passado”, enfatizou após superar o segundo desafio da semana para furar o qualifying do Porto Open 125 no mesmo palco onde dias antes alcançou os quartos de final de um ITF M25.
“Não estou a jogar ao nível a que quero, mas estou a conseguir ser competitivo, a gerir os tempos de jogo e o regresso a torneios ITF, que têm condições totalmente diferentes. Desde as trocas de bolas [menos frequentes e, portanto, com mais desgaste como consequência] à ausência de apanha-bolas, toalhas, tudo. Está a ser bom para ter desafios novos, que ao mesmo tempo são velhos. Sei que para voltar a jogar bem vou ter de repetir todo o processo e estou com paciência para tal.”
Os torneios das últimas duas semanas foram os primeiros de João Domingues em nível ITF desde abril de 2017, mas esta semana o jogador de Oliveira de Azeméis voltou a ter a oportunidade de jogar um Challenger e cumpriu o primeiro objetivo a que se propôs: furar o qualifying, contando para isso com triunfos sobre os compatriotas Fábio Coelho, no domingo, e Pedro Araújo, esta segunda-feira.
“As pessoas que estão de fora podem pensar que são encontros fáceis, mas para mim não foram nada fáceis. Por tudo o que aconteceu nos últimos meses, de não ter muitos jogos nas pernas, lidar com lesões e estar sem ritmo, a própria obrigação de ganhar por ser favorito, estar a jogar num piso em que não jogo há muito tempo… todas estas características são sensações que já não tinha há muito tempo e como disse é bom ter estes novos desafios, porque consegui manter-me mentalmente firme e estou a dar passos em frente.”
Domingues referiu-se à missão atual como “um processo” e “um trabalho de base”. O objetivo passa por “estar a jogar em 2024 saudável a todos os níveis” e para isso sabe que lhe falta “ritmo nas pernas, estar novamente em situações delicadas, ter de decidir e estar esclarecido mentalmente.” E a solução passa por “jogar, jogar, jogar, seja em torneios ATP, Challenger ou ITF“.
Os vários torneios ITF ainda agendados para Portugal este ano estão, portanto, em cima da mesa, mas para já o Porto Open é uma oportunidade de atalhar algum terreno, até porque se trata de um Challenger 125 — uma das categorias mais importantes. Os dois primeiros passos foram dados e valeram-lhe o apuramento para o quadro principal, com respetivos cinco pontos a muito contribuírem para o regresso que tem de desenhar (atualmente está fora do top 500).
E o apuramento consumado ao longo das últimas 48 horas ainda foi mais importante tendo em conta o novo problema físico que o atormentou: “É fácil de entender que não estou bem fisicamente. Na quinta-feira da semana passada lesionei-me no pé esquerdo, que é o contrário à minha lesão. É uma dor que sinto quando há impacto no chão em posição open stance e às vezes a servir, porque é no calcanhar. Tenho de saber geri-la e entretanto soube que só volto a jogar na quarta-feira, o que é ótimo.”
Essa novidade surpreendente chegou com o sorteio que o colocou frente a frente com Denis Yevseyev: porque o cazaque ganhou um Challenger noutro continente no domingo (precisamente em casa, na capital Astana), teve direito a um dia extra de descanso.