De passagem (e encantada) por Portugal, Mladenovic elege “paixão pelo ténis” como motivação

Beatriz Ruivo/FPT

FIGUEIRA DA FOZ — Fez carreira entre as melhores do mundo quer em singulares, quer em pares e até já ergueu troféus em Melbourne, em Paris, em Londres e em Nova Iorque, mas o mais recente foi no Porto e esta semana está na Figueira da Foz. Kristina Mladenovic, uma das caras conhecidas no circuito feminino, caiu a pique na hierarquia mundial e foi obrigada a descer ao circuito secundário, mas o regresso a Portugal, desta vez com paragens inéditas, está a revelar-se frutífero e foi com rasgados elogios que a ex-top 10 mundial de singulares e número um de pares se expressou depois de ultrapassar a estreia no Figueira da Foz Ladies Open.

“Hoje foi difícil, mas o início de um torneio é sempre difícil”, admitiu depois de precisar de 2h48 para vencer a qualifier alemã Sarah-Rebecca Sekulic (631.ª) num encontro com 18 quebras de serviço.

Descontraída, recordou as condições em que chegou do Porto, onde foi finalista no domingo, para retirar importância à estreia complicada no Tennis Club da Figueira da Foz: “Cheguei muito tarde, depois de uma semana positiva em que fui à final, e estou a lidar com uma lesão que precisa de mais uns dias para ficar curada, por isso hoje o meu objetivo era lutar e sobreviver ao encontro. Foi de facto uma luta e estou feliz por ter conseguido prolongar a minha estadia.”

Mladenovic partiu uma unha do pé esquerdo durante a meia-final do Porto Open e foi esse problema físico que a limitou quer na decisão do torneio da cidade invicta, no domingo, quer na estreia em solo figueirense, já esta quarta-feira. “Isso faz com que não use muito as minhas pernas para o serviço”, acrescentou após ser questionada sobre uma pancada com que cometeu 21 duplas faltas, uma a mais em relação ao dia em que contraiu a lesão. “Qualquer coisa de diferente faz com que o timing se perca e aqui também há algum vento, mas não estou a querer desculpar-me. Hoje foi muito difícil e espero continuar a encontrar soluções.”

Estando frente a frente com uma tenista com o currículo de Mladenovic, é impossível resistir à tentação de a questionar sobre a motivação e a resposta, já na ponta da língua, não surpreendeu: “Tive alguns problemas de saúde e lesões que me deixaram onde estou e que fazem parte de uma carreira que naturalmente tem altos e baixos que nem sempre controlas, mas continuo a ter a mesma paixão pelo ténis. Sendo aqui ou em Wimbledon continuo a sentir o mesmo amor. É claro que quero voltar aos grandes palcos onde já estive, mas para isso tenho de passar por estes torneios. E isso também me permite descobrir novas cidades: se não fosse um torneio de ténis, provavelmente não teria pensado em vir à Figueira da Foz e fico muito feliz por isso acontecer.”

Muito disponível mesmo depois de uma longa e exaustiva batalha também pelas soluções que teve de procurar, Mladenovic reiterou em conferência de imprensa o que já tinha antecipado na flash interview pós-triunfo: “Tenho feito muitos encontros, mas no Porto tentámos ir à cidade todas as noites para jantar e aproveitámos para passear pela zona da Ribeira e não só. Foi muito bom, fiquei muito surpreendida e aqui está a acontecer o mesmo. Acabámos de chegar, mas estou a gostar muito: o clube é muito bom e as pessoas então, estou muito impressionada com toda a organização e já disse a algumas pessoas que este merece ser um torneio ainda mais importante. Tenho muita experiência no circuito WTA e a organização está a fazer um grande trabalho, por isso podia tornar-se ainda mais importante.”

Campeã de seis torneios do Grand Slam em pares (mais três em pares mistos) e ainda de duas edições do WTA Finals, aos quais junta outros 20 troféus na variante, Mladenovic foi número um mundial em 2019, dois anos após ter alcançado a melhor classificação nos singulares ao inscrever o nome no top 10.

O objetivo passa por regressar à elite, mas primeiro tem os olhos postos no top 100.

E para isso muito contribuiu o regresso a finais, pela primeira vez desde outubro de 2022, no Porto Open: “Tenho tido um ano muito difícil. Não vou entrar em grandes detalhes, mas lidei com muitas coisas diferentes, por isso no geral essa foi uma semana boa e muito importante em que fiz bons encontros contra boas jogadoras, de um nível próximo do top 100 e que me ajudam, por isso estou muito feliz por ter tomado a decisão de jogar estes dois torneios. Agora o objetivo é manter-me saudável, livrar-me de todas estas pequenas coisas e depois voltar ao top 100 para regressar aos torneios do circuito WTA.”

Na mira está também, claro, a cimeira mundial do desporto que acontecerá em Paris dentro de um ano: os Jogos Olímpicos de 2024.

A simples referência à competição deixa Kristina Mladenovic arrepiada e a emoção apodera-se da voz da tenista de 30 anos quando é chamada a comentar o tópico: “Tive a sorte de conseguir participar em três Jogos Olímpicos ao longo da minha carreira e fico arrepiada só de pensar nisso, porque lembro-me do quão especiais foram Londres, Rio de Janeiro e Tóquio e penso como é que será em Paria sendo eu francesa. Estou muito longe de conseguir qualificar-me, mas seria um sonho tornado realidade e sabem como é nos Jogos Olímpicos: não interessa se é em singulares, em pares ou em pares mistos, qualquer medalha que consigas ganhar pelo teu país é um sonho tornado realidade.”

Para já, no entanto, esta é realidade: Kristina Mladenovic está na Figueira da Foz, onde na quinta-feira será a adversária da melhor tenista portuguesa da atualidade, Francisca Jorge, com um lugar nos quartos de final em jogo. E quer uma, quer outra querem aproveitar essa oportunidade rumo aos objetivos — para a gaulesa, um regresso ao topo; para a lusa, o trilhar de um percurso que a aproxime dos torneios do Grand Slam pela primeira vez.

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